EDITORIAL: “Números que não mentem”

 

O Jornal Mira Online solicitou à GNR de Coimbra, informações relativas à atuação daquela corporação no combate a “abusos por parte de pessoas singulares e/ou bares e similares no âmbito do combate à COVID-19”. E os números chegam a ser claramente estarrecedores…

Não se tratando de nenhuma tentativa de caça às bruxas, esta questão colocada ao Comando Territorial do Coimbra, visou colher números relativos aos concelhos de Mira, Cantanhede, Montemor-o-Velho e Figueira da Foz, para que pudesse servir, numa pequena amostra como motivo de reflexão, por cada leitor que se interesse pelo assunto.

Muito foi falado e escrito – e assim continua – nas mesas de café ou nas redes sociais. Alguns entendem que a culpa está em cada uma das pessoas que não seguem as diretrizes, outros numa eventual maneira desordenada do Governo em tomar medidas e comunicá-las às populações, outros culpam as autoridades por eventual inação e outros, ainda, apontam o dedo acusatório à festas mais ou menos escondidas que, ajudam a contribuir para a propagação mais rápida do vírus.

O que poucos saberão é que, no caso específico da Guarda Nacional Republicana, os números demonstram que, aparentemente, não tem havido desleixo ou amiguismos. O combate ao descaso com que muitos têm tratado a pandemia é retratado de maneira que deve ser levada de forma muito séria em consideração. Senão, vejamos:

AUTOS DE CONTRAORDENAÇÃO:

 

CONCELHO DA FIGUEIRA DA FOZ:

Em todo o ano de 2020: 10 autos – No primeiro semestre de 2021: 30 autos;

CONCELHO DE MONTEMOR-O-VELHO:

Em todo o ano de 2020: 0 autos – No primeiro semestre de 2021: 21 autos;

CONCELHO DE CANTANHEDE:

Em todo o ano de 2020: 14 autos – No primeiro semestre de 2021: 123 autos;

CONCELHO DE MIRA:

Em todo o ano de 2020: 2 autos – No primeiro semestre de 2021: 400 autos.

TOTAL 2020: 26 autos

TOTAL 6 meses 2021: 574 autos

 

Em resumo: Somente nos primeiros seis meses de 2021, a GNR autuou VINTE E DUAS VEZES MAIS que em todo o ano anterior!

É possível usar-se o argumento de quem em 2020 o país esteve confinado. Mas, o início de 2021 também foi marcado pela mesma situação. Então, o que é que se passou para os dados crescerem tão abruptamente? Esta é uma resposta que deve ser dada por quem de direito: as autoridades nos assuntos da mobilidade e da saúde pública, para que não continuemos a cair na armadilha de querermos saber tudo e opiniar sobre tudo.

Entretanto, os mais altos mandatários da nação já assumiram publicamente, a chegada de uma quarta vaga. O verão já não está à porta mas sim, presente e, com ele, as merecidas férias de muitos portugueses, emigrantes e estrangeiros que escolhem Portugal para passá-las.

Quem sabe, é chegada a hora de existir uma meditação séria sobre as consequências dos números acima referidos. Sem alarmismos, mas com responsabilidades. Porque, por mais que todos estejam cansados disso tudo, por mais que o xico-espertismo possa estar a ser utilizado dentro de portas e fora de horas, as consequências nefastas acabam por ser para todos, sem exceção.

A realidade nua e crua é esta: a saúde pública, antes de tudo, e a economia do país, em segundo lugar, não se compadecem de eventuais deslizes para fora da lei. Contornar a lei ou fazer de conta que os males só acontecem aos outros é puro crime de uns e mera ilusão de outros tantos. O que fica desta reflexão é que, cada cama entregue a um novo doente de COVID-19 é uma cama que falta a quem precisa ser tratado de uma outra enfermidade e que, cada vez que alguém prevarica, uma outra pessoa pode pagar, até com a vida, por isso!

Jornal Mira Online