05.07.2025 –
“Na passada quinta-feira acordamos com a triste noticia da morte de 2 irmãos. Diogo Jota e André Silva, dois jovens saudáveis, com carreiras em ascensão, um deles recentemente casado e pai de 3 crianças.
Mesmo que não conheçamos estas 2 pessoas pessoalmente e profundamente, toda esta trágica história mexe ou mexeu com cada um de nós e pode despertar em nós ansiedade, questionamento do sentido da vida, sensação de injustiça ou impotência e medo de perder os nossos. Existem momentos em que o sofrimento atravessa fronteiras individuais e se transforma em algo maior, algo partilhado, sentido em uníssono, como um eco profundo que soa em toda uma comunidade. Falamos do luto coletivo. É o tipo de luto que nos lembra que não estamos sós na dor e que a dor de todos pode doer em cada um de forma diferente.
É natural sentir que não se sabe bem como reagir. Afinal, como se chora alguém que não se conhece pessoalmente, mas que de alguma forma nos tocava? O luto coletivo ensina-nos isso: que a ligação humana vai para além da convivência direta. Que há vidas públicas que, mesmo sem nos tocarem fisicamente, deixam marcas reais. Neste tipo de luto, não choramos só por quem partiu, choramos pelo que foi quebrado, a sensação de segurança, de normalidade, de controlo. É uma dor que nos liga, porque nos reconhecemos nos olhos do outro, nos silêncios partilhados, nos rituais comunitários de homenagem e despedida.
O luto coletivo exige tempo, mas há nele uma dimensão profundamente humana que pode ser também fonte de cura: a dor partilhada pode gerar empatia, compaixão e até ação.
Neste momento, o mais importante talvez não seja procurar respostas, mas criar espaço. Para sentir. Para recordar.
Para homenagear. E para nos apoiarmos uns aos outros.”
Psicóloga Andrea Costa
C.P. 24454