OPINIÃO QUE CONTA: “Violência doméstica contra as mulheres vs Vergonha doméstica contra os homens”

“O título poderia resumir tudo. Aliás, resume tudo. Violência vs Vergonha. Porque é que uns são humanos e outros são descartados até ao abismo da decadência da sociedade contemporânea? Não somos todos iguais? Claro que não. Desde o início da humanidade até ao atual, nunca fomos iguais. Homens e  mulheres. 

E relativamente a este assunto tão controverso, as coisas também são bastante diferentes. Ainda existe muito para fazer, muitas mentes para mudar, muitos caminhos para percorrer e muita justiça a ser feita.

Analisando o Relatório Anual do ano de 2020 da APAV, houve um registo de 14854 de crimes por violência doméstica, onde o número médio de vítimas foi:

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 8720 por ano                               1627 por ano              

  167 por semana                            31 por semana

    24 por dia                                      4 por dia

É realmente notória a diferença. Existem muitos mais crimes registados por mulheres (homens agressores de mulheres) do que em relação aos homens. 

E agora pergunto: porquê? Então, é fácil. É daquelas perguntas retóricas. É daquelas perguntas que nem se pensa duas vezes. Daquelas que nem sequer se deviam fazer. 

Começo por falar sobre a Violência contra as mulheres. Os motivos para tal covardia continuam a ser os mesmos. Como se pudessem sequer existir motivos possíveis para se justificar…

Cada mulher é uma mulher e cada situação é uma situação. Não se pode meter tudo no mesmo saco, como se diz. Ou seja, os motivos podem ser iguais do ponto de vista analítico, mas, emocionalmente, é sempre diferente para cada vítima. Mas o que é sempre igual, sem exceção de dúvidas: o medo; medo do atacante, medo de ser só mais uma estatística, medo de falar, medo de… 

E atenção, não existe nem deve existir vergonha nenhuma destes medos. Ter medo nunca é uma vergonha. Principalmente neste tipo de situações revoltantes. 

São comportamentos ilegais, punidos por lei, que devem ser imediatamente parados. E isso leva à não denúncia. E isso leva ao “tarde demais”. Mas, que lei? Em Portugal existe muito isso das leis e das ilegalidades, ah! Só que depois, ninguém faz nada. Ou não fazem sequer o suficiente. Até existir alguém com boa consciência, acredito que, infelizmente, este tipo de violência irá continuar sem haver qualquer tipo de justiça significante.

Vergonha doméstica contra os homens

Infelizmente, a sociedade nos dias de hoje, está mais preocupada em encontrar piadas para a violência doméstica contra os homens do que mostrar preocupação e o apoio tão desesperadamente necessário. E, como tal, dá-se conta dos registos desses crimes em ocorrências absurdamente baixas em comparação às mulheres. 

É de salientar que as mulheres também praticam violência doméstica. Existem vítimas, mas também existem as agressoras. 

Porque ainda existe tão pouca seriedade e consciência em relação à VIOLÊNCIA DOMÉSTICA DE HOMENS? 

São pessoas, são humanos. Tal como as mulheres o são. E sinto-me estúpida por, nesta situação, ter que comparar os homens às mulheres, pois não o fiz anteriormente. Mas acho que tenho que o fazer para tentar transmitir o que penso.

Se ficam revoltados quando alguma mulher sofre (por anos, muitas vezes) de violência doméstica morrendo às mãos do atacante, porque não ficam da mesma forma quando um homem sofre do mesmo?

Aqui, também culpo as redes sociais. Mas culpo com muita certeza. Sempre que existe a rara notícia que tal homem sofria de violência doméstica, ou até, violência sexual, há sempre aqueles comentários, tanto de homens como de mulheres, onde ridicularizam a vítima. 

Ainda está para nascer um Portugal onde a justiça é servida de olhos abertos, e não a olhar para o lado. Falo de uma justiça igual para todos os sexos, onde a vítima possa realmente ter esse papel, e não ser objeto de brincadeira, ou apenas, objeto.

Porque que continuamos a viver numa sociedade em que a Violência contra as Mulheres se torna rapidamente repugnável e a Violência contra os Homens é rapidamente descartada?

Sejam melhores. Sejam ouvintes. Sejam praticantes dos bons atos”. 

Andreia Cardoso