Mais acima, também de regresso a casa, vai Paula Alcobio, uma das habitantes mais novas da freguesia e que aos 40 anos é mãe de seis filhos, entre um ano de vida e os 18. E “todos eles, os que falam, estão sempre a dizer que assim que puderem vão embora, porque não há nada que os prenda” a Paradela.
“Só há mais três crianças, mas não saem de casa, não há um parque para brincarem, não têm nada. Agora nas férias ou estão em casa ou nas terras enquanto ando a trabalhar”, contou Paula Alcobio, que disse que, neste momento, mandou os filhos para o Porto, “passar férias, em casa de familiares, para conhecerem outra realidade”.
O autocarro não vai à localidade, passa dois quilómetros abaixo, na estrada principal, às terças e quintas-feiras e, para lá chegar, Paula Alcobio vai a pé, mas Maria dos Remédios Ferreira conta com a carrinha da câmara que sobe ao aglomerado habitacional para levar os habitantes até autocarro que liga a Tabuaço, sede do concelho, a cerca de nove quilómetros.
“As compras são feitas com antecedência e, se de repente faltar alguma coisa, pedimos uns aos outros e há sempre alguém com carro que acaba por dar boleia ou por trazer da vila o que é preciso. É assim, contamos uns com os outros”, disse Maria dos Remédios Ferreira, que não tem carta de condução.
Maria dos Remédios Ferreira contou que vive da reforma do falecido marido e conta com o apoio dos filhos e de irmãos que, quando a visitam, “trazem até sacos de compras, porque viver só da reforma não é fácil, para a medicação e tudo” o que é necessário e depois “tem-se os produtos que se vão colhendo das terras”.
“Há por aí muita casa à venda e outras estão a cair, mas ninguém as quer, claro, e não é por serem caras, é porque ninguém quer vir para cá. Quem é que quer viver aqui sem trabalho? Só os reformados que têm a sua reformazinha para viver”, contou Maria dos Remédios.
Mais em baixo, a cerca de três quilómetros de distância, está a povoação da Granjinha, que conta com 29 habitantes, diz “com toda a certeza” António Ribeiro, um militar da GNR reformado que é secretário na junta de freguesia e que adotou a terra da esposa como sua.
“Estou reformado, mas não paro. Só hoje já abri a porta do [Convento de] São Pedro [das Águias] a duas pessoas e, desde o início do ano, já abri, só eu, a 296 turistas. Hoje saí pela manhã para levar estas duas vizinhas a Tabuaço, às compras, mas não cobro pelas viagens, faço por solidariedade”, admitiu António Ribeiro.
O Convento de São Pedro das Águias é um ponto turístico “muito visitado por quem anda pelo Douro e vai ao Rio Távora”, explica António Ribeiro, explicando que o monumento fica nas encostas do rio.
“As pessoas descem aqui a rua para lá irem, porque também é o único caminho. É a rua do volta atrás e é a que atravessa a localidade”, explicou o antigo militar que já se habitou a “ver mais pessoas de fora do que descendentes da Granjinha” a passar pela rua da povoação.
Na Granjinha, “o senhor António é quem ajuda” a população, porque “ele tem transporte e acaba por levar as pessoas a fazer as compras necessárias, ou levar alguém ao centro de saúde, se for preciso”, explicou Olga Lopes.
Esta habitante mudou-se para a Granjinha “há uns anos”, quando a sogra partiu um braço e percebeu que “ela não podia ficar a viver sozinha”, não só pela diminuição da mobilidade como pela própria idade. Atualmente, Domitila Augusta é a freguesa mais velha, com 94 anos feitos em fevereiro.
“Aqui o que é que podemos fazer? Nada, a não ser dedicarmo-nos à agricultura, é o que fazemos, mas nem é para vender, é para nos alimentarmos e pouco mais. O que é que se pode fazer? Nada”, soltou Olga Lopes, com 50 anos.
Um conformismo geral de quem habita na freguesia e que não foi apanhado de surpresa com os números dos Censos de 2021, divulgados na quarta-feira pelo instituto Nacional de Estatística (INE).
Lusa