23.3.2023 –
A tuberculose existe e há 120 anos que é representada pela dupla cruz vermelha ou cruz de Lorena, subtraída de emblema militar, elevado a símbolo da solidariedade dos povos unidos contra a doença, flutuando acima de qualquer fronteira política ou religiosa, adotado durante a IV Conferência Internacional da Tuberculose de Berlim, ocorrida em 1902.
Difícil de estabelecer, a origem desta cruz remontaria ao 7º século antes de Cristo, onde terá sido um dos atributos de Horus, Deus do Triunfo e da Luz.
O agente causal da tuberculose é, predominantemente, o Mycobacterium Tuberculosis ou bacilo de Koch, apelido do autor da sua descoberta em 1882.
A tuberculose transmite-se principalmente por via aérea, a partir de um doente que liberta gotículas de saliva ou de secreções nasais infetadas, particularmente, quando espirra, tosse ou fala – trata-se então de tuberculose ativa.
A pessoa infetada pode permanecer assintomática toda a vida ou vir a apresentar sintomas e desenvolver a doença, em qualquer altura, com graus de gravidade variável. Os sintomas são inespecíficos e persistentes, tais como tosse arrastada, febrícula, fadiga sem causa aparente, pelo que nunca é demais alertar o médico para esta possibilidade de diagnóstico. Quanto mais tardio é o diagnóstico maior é a possibilidade de transmissão e de evolução para doença grave.
A vacina da tuberculose, criada em 1921 por Calmette e Guérin (Bacilo de Calmette e Guérin), confere proteção relevante para as formas graves da doença, sobretudo nas crianças, mas não evita a infeção primária nem a reativação da doença. Atualmente, nos países com baixa taxa de incidência, como acontece em Portugal, a vacina deixou de se administrar a todos os recém-nascidos. Assim, desde 2016, apenas são vacinadas as crianças pertencentes aos grupos de risco definidos pela Direção-Geral da Saúde.
Quando se faz um diagnóstico de tuberculose ativa é indispensável realizar o chamado “rastreio de contactos” para encontrar precocemente novos casos de tuberculose e minimizar ou mesmo evitar que a transmissão ocorra. Contacto é uma pessoa que pode ter sido infetada, quase sempre por inalação direta ou a partir de gotículas infetadas em suspensão, por ter estado com um doente bacilífero durante um determinado período de tempo e de proximidade mínima necessária para que a transmissão tivesse ocorrido. Nestes rastreios, aos quais as pessoas devem aderir por vontade própria, são habitualmente utilizados testes imunológicos, a radiografia do tórax e análises de sangue.
A tuberculose pode atingir qualquer pessoa, independentemente da sua condição social, pelo que ninguém se deve sentir marginalizado por esse facto.
A tuberculose tem cura, mas depende do cumprimento rigoroso do tratamento que pode ter duração prolongada, mesmo que a pessoa não se sinta doente. Em caso de não cumprimento, o bacilo pode tornar-se resistente aos antibióticos e vir a provocar uma doença muito grave, por vezes com consequências fatais.
Na Região Centro, os serviços de prevenção, diagnóstico, tratamento e vigilância da tuberculose estão organizados por Centros Distritais de Diagnóstico Pneumológico (CDP) que trabalham em estreita articulação com os Delegados de Saúde e com os serviços clínicos dos Centros de Saúde e dos hospitais.
Fruto desta profícua colaboração temos observado taxas de incidência progressivamente decrescentes na região. De uma taxa de 9,7 casos por 100 mil habitantes, observada em 2018, passámos para 7,7 em 2020 e 8,9 em 2021 (dados provisórios), apontando os dados preliminares de 2022 para valores inferiores ao ano anterior.
Porque a tuberculose existe, provavelmente existirá por muitos anos, e porque ninguém vive isolado da sociedade nem do mundo, compete aos serviços de saúde, às pessoas e à comunidade mantê-la em níveis de incidência baixos e sempre decrescentes, se possível.
Departamento de Saúde Pública da Administração Regional de Saúde do Centro