Um globo com quatro metros de diâmetro, revestido a pedra de calçada portuguesa, constitui o elemento central da Praça do Emigrante, na Ribeira Grande, um novo espaço público em São Miguel, nos Açores.
“Esse tema [a emigração] deu-me força. Não sendo artista, projetei uma peça de arte pública desta dimensão”, afirmou à agência Lusa Luís Silva, que concebeu e desenhou o globo “Saudades da Terra”.
A peça domina a Praça do Emigrante, na cidade da costa norte de São Miguel, um espaço público urbano que a autarquia da Ribeira Grande inaugura no dia 26 de julho.
A designação do globo, “Saudades da Terra”, corresponde à expressão que Gaspar Frutuoso — o primeiro açoriano “emigrante ilustre, filho da ilha de São Miguel e vigário da então vila da Ribeira Grande — utilizou no século XVI para resumir um sentimento maior, comum aos emigrantes”, sublinha o sítio na internet dedicado ao projeto da Praça do Emigrante, em pracadoemigrante.cm-ribeiragrande.pt.
No centro da nova praça, que tem a dimensão aproximada de metade de um campo de futebol, o globo representa a Terra, com revestimento de calçada portuguesa (calcário branco e negro do continente português). A peça assenta numa pedra de basalto negro, com 1,4 metros de altura e 3,5 metros de diâmetro.
O globo “é o mundo, os Açores e os açorianos pelo mundo; o basalto representa as ilhas”, apontou Luís Silva, salientando o papel da Associação de Emigrantes Açorianos e da Câmara Municipal da Ribeira Grande, por terem “apoiado o projeto desde o início”.
A nova praça, com uma área aproximada de 4.000 metros quadrados, localiza-se em frente ao Arquipélago — Centro de Artes Contemporâneas.
O desenho do piso da área envolvente do globo tem 10 metros de diâmetro e é da autoria do artista Luke Marston, do povo Salish, da ilha de Vancouver, no Canadá, um dos principais países de destino da emigração açoriana.
O desenho já faz parte de uma peça de arte pública desenvolvida por Luke Marston com “o objetivo de honrar os seus antepassados, incluindo Portuguese Joe Silvey (José Simas), um baleeiro, um aventureiro, um pioneiro e, para os seus muitos descendentes, um homem de família”, explicou Luís Silva, acrescentando que as “ondas do mar que se entrelaçam simbolizam as que batem na costa das ilhas açorianas e em todos os continentes e ilhas onde estão açorianos”.
O autor referiu que a utilização deste desenho no projeto “Saudades da Terra” foi uma oferta de Luke Marston, “em reconhecimento do apoio de várias entidades açorianas ao projeto ‘Shore to Shore’”.
A homenagem ao emigrante José Simas na ilha de Vancouver, na província da Columbia Britânica, motivou-o a realizar a peça de arte pública nos Açores.
Luís Silva, cujo avô esteve emigrado no Brasil, espera que este novo espaço possa ser “um lugar de reflexão para as segundas, terceiras, quintas e sextas gerações”.
A Praça do Emigrante é também composta pela Calçada dos Mundos, concebida por Liliana Lopes. Completam-na dois murais, criados por Luís Silva, um deles com bandeiras dos principais destinos da emigração açoriana (Bermudas, Brasil, Canadá, Estados Unidos da América, Havai e Uruguai).
No outro mural estão a ser colocadas placas personalizadas das pessoas e empresas que se associam a esta homenagem através de donativos, somados ao apoio da autarquia.
“O projeto já teve o apoio voluntário de muitas pessoas”, contou Luís Silva, destacando num mural é composto por “um painel de tijolos onde pode figurar o nome dos emigrantes ou familiares e de todos os que patrocinaram a peça de arte pública”, através de doação monetária à Associação de Emigrantes.
Luís Silva adiantou que o município assinou um protocolo com a associação sem fins lucrativos para que esta assegure a animação cultural do novo espaço, em colaboração com autarquia.
No sítio oficial da Praça do Emigrante, o presidente do município, Alexandre Gaudêncio, frisa que “faltava uma homenagem em grande a todos os “emigrantes”.
“Chega com esta imponente Praça do Emigrante, um espaço amplo, onde queremos que todos sintam o orgulho e o carinho que temos pelos nossos emigrantes”, salienta.