Carismático, inspirador, a consciência moral da África do Sul, a par de Mandela, o arcebispo emérito da Cidade do Cabo Desmond Tutu morreu este domingo aos 90 anos.
Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, tem a certeza de que a Humanidade perdeu um herói, com a morte do Nobel da Paz Desmond Tutu. O arcebispo da África do Sul morreu esta manhã, na cidade do Cabo. Por seu lado, Ramos Horta, também Nobel da Paz, recorda, além dos traços heroicos, a humildade e a alegria de Desmond Tutu.
Cyril Ramaphosa, Presidente sul-africano, lamentou mais um capítulo de luto, no adeus a uma geração de sul-africanos notáveis que conquistaram a liberdade para o país. Desmond Tutu destacou-se na luta contra o Apartheid, ao lado de Nelson Mandela. Foi, depois, galardoado com o Nobel da Paz, em 1984.
Retirado da vida pública há mais de dez anos, é recordado por todos pela alegria e por ter sido o homem que tinha África no coração.
Augusto Santos Silva fala em heroísmo – “A Humanidade perdeu hoje um dos seus heróis” – e realça que Tutu se caracterizou, “ao longo da sua vida, pela clareza dos seus compromissos e das suas convicções, e por agir de acordo com as suas convicções”.
Da firmeza na convicção à transparência das ações, o ativista pela igualdade “sempre foi um defensor da dignidade humana, da igual dignidade das pessoas, independentemente da condição, da raça, das suas opiniões”, salienta o ministro, em declarações à TSF. Desmond Tutu assumiu um papel primordial, “quer quando se opôs ao regime do Apartheid, quer quando, depois da libertação de África do Sul, das primeiras eleições livres que conduziram Nelson Mandela à Presidência, o arcebispo Tutu aceitou presidir à Comissão da Verdade e Reconciliação, e conduziu esse momento maior do refazer da sociedade sul-africana com emoção, com largueza de espírito e comunhão”.
“Criticou os líderes mundiais quando achou que os líderes mundiais deviam ser criticados. Foi, durante muito tempo, a personalidade cimeira da igreja anglicana sul-africana, e nunca deixou de aliar as suas convicções religiosas às consequências dessas convicções, do ponto de vista da ação cívica, social e política.” Para Augusto Santos Silva, Tutu é o “exemplo maior da coerência”, pelo que não hesita em dizer: “Temos de compará-lo com Nelson Mandela e poucos mais. Ambos souberam compreender que, na grande nação arco-íris que eles queriam construir e queriam construir para a África do Sul, e construíram, a grande comunidade portuguesa tinha um grande lugar de destaque no coração da África do Sul democrática.”
O Nobel da Paz Ramos Horta dá relevo à atenção pelos direitos humanos que o arcebispo sul-africano manteve até ao fim da vida, apesar da doença. “Apesar desses anos todos de luta contra o cancro, ele sempre estava disponível, estava preocupado com a situação regional, mundial…”
Ramos Horta fala de “uma figura que contribuiu imenso para o derrube do regime do Apartheid”, e sublinha a importância desta figura maior: “Enquanto Mandela estava preso, era ele a figura pública com maior credibilidade na luta anti-Apartheid na África do Sul e no mundo.”
Mas de Desmond Tutu Ramos Horta lembra também a alegria. Sempre alegre, gostava de dançar. “Numa conferência, era ele que animava as pessoas, para cantarem, para dançarem, para rirem. Era uma pessoa muito acessível.”
Ramos Horta lembra que recebeu um telefonema de Desmondu Tutu, quando recebeu o Nobel da Paz, e que este reagiu “muito positivamente”, dizendo “isto é música para os meus ouvidos”, já que “apoiava muito a causa da libertação de Timor-Leste“.
O arcebispo e Nobel da Paz da África do Sul morreu esta manhã, com 90 anos.
Guilhermina Sousa, Rúben de Matos e Catarina Maldonado Vasconcelos / TSF