“Tempestades geomagnéticas” e auroras boreais invulgares: evento solar “terminator” está a caminho

13.6.2023 –

Os cientistas antecipam o máximo do pico solar para o final deste ano ou o início de 2024. O “terminator” acontece quando o ciclo solar habitual termina abruptamente e o próximo começa com mais intensidade.

Aconteceu em abril, quando foi possível avistar auroras boreais a latitudes muito baixas, perto do Equador e longe do ambiente polar comum. O fenómeno foi registado em locais invulgares, como o Texas ou a Estremadura, algo que, segundo a investigadora Consuelo Cid Tortuero, citada pelo jornal espanhol El País, ocorre devido a “uma das maiores tempestades magnéticas, causada por um filamento solar”.

Quando a atividade do Sol atinge níveis violentos, sob a forma de erupções ou explosões solares, a radiação aumenta e são geradas emissões de partículas energéticas que afetam o planeta. Quando uma grande massa de plasma do Sol atinge a Terra, o vento solar causa tempestades geomagnéticas nas camadas superiores da atmosfera. Estas tempestades manifestam-se através de auroras boreais, visíveis na faixa dos polos norte e sul.

No entanto, se a tempestade for forte o suficiente, as auroras boreais podem ser visíveis em latitudes mais baixas, incluindo na Península Ibérica. O pico do ciclo solar, que faz com que mais material seja ejetado do Sol para a Terra, é responsável pela visibilidade destes fenómenos no sul dos Estados Unidos e na Europa.

“A aurora [boreal] é a manifestação mais marcante das tempestades magnéticas causadas pela massa que vem do Sol e que impacta a Terra”, explica ao El País María Teresa del Río Gaztelurrutia, da equipa de Ciências Planetárias da Universidade do País Basco.

As auroras boreais são eventos comuns, e somente podem causar problemas quando são classificados como “eventos bestiais”, fazendo com que o céu brilhe de forma incomum em tons de roxo e violeta.

De acordo com dados registados pelo físico Scott W. McIntosh, diretor do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas dos Estados Unidos, o máximo do pico solar poderá ser antecipado em um ano, estando previsto no final de 2023 ou no início de 2024. Este acontecimento, designado pelos cientistas de “Terminator”, acontece quando o ciclo solar habitual – que dura 11 anos – termina abruptamente, mudando a polaridade da estrela. O novo ciclo começa, depois, com mais intensidade. Quando um ciclo solar termina e o próximo se inicia, o Sol pode enfrentar colisões no campo magnético que resultam em tsunamis de plasma que podem ser carregados na superfície solar durante várias semanas.

Ao jornal El País, o geofísico Joan Miquel Torta confirma que estamos num ciclo solar mais ativo do que o esperado para a época.

Para Consuelo Cid Tortuero, estamos “no caminho” para um pico solar. “O pior é a parte descendente do ciclo, que é quando há muitos filamentos no Sol.” Esses filamentos, segundo o especialista, são protuberâncias que podem ejetar material solar para o espaço, podendo representar um perigo se estiverem orientados para o nosso planeta.

Torta, especialista em segurança geofísica, afirma que as erupções solares no seu máximo são “eventos com pouca probabilidade, mas com um impacto muito elevado”, devido à possibilidade de causarem problemas para a rede elétrica ou satélites.

Os cientistas consultados pelo El País relembram o evento “Carrington” como a maior tempestade solar, quando, em 1859, uma explosão queimou a rede telegráfica nos Estados Unidos e no Reino Unido.

Em 1989, no Canadá, um raio derrubou uma central hidroelétrica e milhões de pessoas ficaram sem luz durante 12 horas.

Carolina Quaresma/TSF