São Tomé: O Padroeiro que Mira reverencia

Teixeiras confeções

Padaria lagonense

 

Cartaz de São Tomé

Pequena nota de introdução:

É, como podem calcular, impossível conseguir contar num pequeno texto, uma história tão longa que já tem NOVE SÉCULOS! E, é isto o que acontece quando queremos falar das origens das Festas em Honra de São Tomé…

Por isso, ficam aqui alguns pequenos tópicos relativos ao assunto. A simplicidade do texto e a sua “redução” não acontecem por “insignificância do tema tratado”, como é óbvio, mas pela necessidade de ser exposta em poucas linhas toda uma tradição popular.

Dia Rei

São Tomé: O Padroeiro que Mira reverencia

 

 O PADROEIRO:

São Tomé é o Padroeiro da freguesia mirense. O Padre Thome de Rezende, na resposta enviada ao inquérito (ano de 1758) da Secretaria de Estado dos Negócios do Reino, descreveu a situação da seguinte forma: “Há tradição que ezta sagrada imagem do glorioso Apostolo Sam Thome aparecera debaixo de hum tronco de huma amieira em huns bosques ou paulles que erão ribeyros e se compunhão de varias amieyras e de outras arvores silvestres e não fica muito distante da Lagoa, ainda que com alguma diztançia dezta villa; e há tãobem tradição que como naquele citio aonde aparecera o Santo se lhe não podia fazer igreja, por razão das agoas daqueles ribeyros ou paulles lho impedirem, lha fizeram em hum citio aonde aparecera a dita sagrada imagem e que, colocando-se na nova igreja o dito santo hindo os sacerdotes daquele tempo para dizer missa e os fieis para vezitar ao mesmo santo so naquele sítio aonde tinha aparecido queria permanecer para nelle ser Deoz Nosso Senhor maravilhoso nos prodígios que por elle havia de obrar lhe fizerão huma igreja tal e qual prometia aquelle citio, ficando o altar da capela-mor no mesmo lugar adonde o glorioso santo aparecera e, a dita igreja sendo matriz desta freguesia e o dito milagroso São Thome padroeyro della que ao dipois foram acrescentando conforme hia dando lugar aquelle citio”.

Bemequer

A IGREJA:

A Igreja de São Tomé foi referenciada já no século XII, através das palavras de Soleima Godinho que fez testamento desta Igreja ao Mosteiro de Santa Cruz (Coimbra). Esta Igreja estava localizada onde é, atualmente, o lugar do Casal de São Tomé.

Eis a transcrição desta referência: “Tem esta igreja três altares, a saber, o altar-mor, aonde está o milagroso San Thome, o altar de Santa Luzia que ezta da parte do Evangelho e tem mais Santo Theotonio e Sam Caetano e o altar da Senhora do Remédio que fica da parte da Epístola e tem mais Santo Agostinho e Sam Francisco de Assis”.

A NOVA IGREJA MATRIZ:

Como a antiga igreja se situava fora da Vila e “os caminhos eram intransitáveis” devido às “muntas agoas, lamas e aréas”, foi mandada edificar uma nova igreja, através do então bispo conimbricense, D. João de Melo.

A atual Igreja Matriz de Mira começou a ser construída em 1690, como, aliás, pode ser lido na inscrição que se encontra por cima da porta principal: “Esta Igreja foi fvndada na era de 1690”. Está situada no sítio onde antes estava localizada a Capela do Santíssimo Sacramento.

A FEIRA DE “SÃO THOME”

Esta Feira tem origem desconhecida até aos dias que correm. Embora fosse realizada “em todos os 3 de cada mês”, a data da sua promulgação do “privilégio concedido pelo rei”, até hoje é um mistério.

Hora do Pecado

O QUE DIZER DA RELIGIOSIDADE DO POVO DA GÂNDARA?

O povo gandarês era profundamente religioso. Muito crente e cumpridor das práticas e dos rituais católicos. A missa dominical era muito frequentada, bem como a recitação do terço nas tardes de domingo. Faziam-se Horas de Adoração ao Santíssimo Sacramento, todos os meses.

O cumprimento rigoroso dos preceitos quaresmais, que incluíam o jejum e abstinência de carne, bem como a recitação da Via-Sacra.

A celebração dos Passos do Senhor e, sobretudo, as romarias de São Tomé atraíam inúmeros forasteiros nos dias 25 e 26 de Julho de cada ano.

O povo gandarês rezava várias vezes ao dia, ao toque das Trindades: de manhã, ao romper do dia; ao meio-dia; e no fim da tarde. Onde quer que estivesse, descobria a cabeça e, ao toque dos sinos, recitava a oração respetiva.

Óptica carolina

 

A tradição ainda é o que era!

Mira respira religiosidade, devoção ao “seu” Santo Padroeiro, numa mescla de atividades culturais e religiosas que têm o seu ápice por estes dias de Julho.

Mira tem (ainda) mais encanto em datas escolhidas para se celebrar as festividades religiosas em conjunto com atividades económico-sociais por demais importantes para serem deixadas de lado!

De 22 a 26 deste mês de Julho, a Freguesia de Mira, em particular, e o Concelho, no seu todo, serão palco das mais diversas demonstrações de lazer, cultura, devoção e bem-receber, entre tantos outros pontos de interesse.

Mira, que é já uma terra de excelência durante todo o ano, faça sol ou chuva, calor ou frio, tem nestes 5 dias uma “força” acrescida, onde pessoas dos mais variados recantos e de tantos pontos do planeta convergem para se divertirem e contarem as suas histórias de vida.

São histórias que vão sendo agregadas à história da Vila. Em conjunto, engrandecem ainda mais a riqueza do património sociocultural local, e ajudam a tornar esta pequena localidade “à beira-mar plantada”, cada vez maior…

Junta de Freguesia de Mira

FONTE LITERÁRIA:

“MIRA – BOSQUEJO HISTÓRICO”, de autoria do ilustre historiador e professor de Filosofia já reformado, Manuel Miranda.

O Jornal Mira Online agradece ao professor Manuel Miranda e à Dra. Brigite Capeloa pelos inestimáveis conhecimentos e disponibilidade dispensados.