RAUL ALMEIDA: “A economia mirense está bem melhor hoje do que quando assumi!”

04.5.2023 –

O Presidente da Câmara de Mira analisa, em entrevista exclusiva ao Jornal Mira Online, sobre a atualidade da economia do Concelho. Uma entrevista para ser lida e analisada, calmamente, por quem se interessa com a vitalidade da indústria e do comércio local…

MO – Como um dos fundadores da Associação Empresarial de Mira (AEM), qual é a análise que faz sobre o desempenho dela? Como autarca, vê a AEM da mesma maneira que antes? Onde pode existir mais interação entre a autarquia e a Associação?

RA – A essência da AEM sempre foi a de defender os interesses dos empresários do Concelho e foi uma honra, para mim, ter sido o primeiro Presidente dela. Como em tudo, há fases boas e menos boas.Na altura em que presidi a Associação, já dizia que os empresários precisam sentir que ela é útil e, para isso é preciso que ela crie serviços nos quais eles se revejam. Eles têm trabalhado muito na área da formação, na área de projetos financiados e têm dado  apoio sempre que possível. Mas, também existe uma importância na escala regional, que é a de estar ligada ao Centro Empresarial da Região de Coimbra. Vou lhe dar um exemplo: a internacionalização ou a participação em feiras internacionais, têm de ser de uma escala supra-municipal e, neste sentido a Associação é útil, trabalhando em conjunto com outras entidades.

MO – Em conversa com Américo Páscoa (Presidente da AEM) ficamos a conhecer o que ele classifica como “incomparáveis” a força que outras Associações Empresariais do Distrito têm em comparação com a de Mira. Concorda com esta opinião? Uma AEM bem apetrechada a nível de recursos humanos e com mais condições financeiras para fazer face aos desafios a que se propõe, não seria vantajoso para o Concelho?

RA – Isso é muito relativo. Ou seja, se compararmos com umas, tem muito mais apoio, se compararmos com outras, terá menos apoio. Nós não temos dado apoio financeiro, mas damos muito apoio logístico! Não pagam luz, água, internet. Entregamos uma sala para as formações, mais uma sala de apoio. Portanto, eles podem fazer render essa colaboração através da Formação Profissional, por exemplo. Para além disso, damos apoio financeiro na altura do Natal… portanto acho que é um apoio já, bastante razoável. Claro que gostaríamos de poder ajudar com regularidade mas, projeto a projeto teremos de ir falando. Temos de contabilizar um leque de serviços que, se calhar seria um valor muito elevado para a Associação se não houvesse esta forma de contribuir…

MO – A economia local tem sido um ponto bastante enfatizada pelos seus executivos. Entretanto, vistas as coisas, parece que as atividades criadas baseiam-se essencialmente no Turismo. Não pensa que seria benéfico haver “pacotes temáticos” como, por exemplo, medidas concretas delineadas para a indústria e o comércio?

RA – Respeito, mas não concordo com a sua visão. Quando estamos a aumentar as áreas de duas Zonas Industriais que irão proporcionar cerca de 40 lotes para a construção de empresas, quando temos na Zona Industrial do Montalvo um investimento estrangeiro de cerca de 25 milhões de euros, quando temos andado de mãos dadas desde o tempo da Aquinova e vemos que passou de uma empresa falida para a situação em que está agora e que, em todas as intervenções que esta faz, reafirma o apoio do Município de Mira, que vai criar em 2030, 400 postos de trabalho e vai ter fontes de energias renováveis… não podemos dizer que Mira vive só do Turismo! Temos dezenas de emprezas, duas ZI a serem expandidas, temos dois investimentos estrangeiros de elevado valor acrescentado nos últimos quatro anos e, depois, temos um apoio que as pessoas não vêem, mas somos um dos poucos municípios que não cobra Derrama, que é um imposto sobre o lucro das empresas e isto é um factor de atratividade. Este é um imposto municipal, uma receita do município e, quando chega alguma empresa interessada e pergunta o valor da Derrama, dizemos que é zero… e isso é um apoio! Não podemos deixar de salientar que tínhamos no nosso Programa Eleitoral a criação de 400 postos de Trabalho e já temos 250… faltam 150… com algumas negociações que estamos a realizar para o Montalvo, facilmente alcançaremos este número. Estamos a tentar a criar uma dinâmica com a criação do Montalvo, que tem feito pessoas se interessarem em comprar casas na parte sul do Concelho. Claro, isto não é de um ano para o outro, demora a ser alcançado, mas a dinâmica vai crescendo…

MO – Há empresários que, seja por qual motivo for, têm apostado claramente em Mira há bastantes anos. Conhecemos vários exemplos e, o Jornal Mira Online pergunta se não seria de “bom tom” criar-lhes alguns tipos de benefícios, por exemplo, a nível de criação de postos de trabalho, até para servir de incentivo a quem iniciou atividade mais recentemente, ou pensa iniciar?

RA – Voltamos à Derrama. Equivale a 150 mil a 200 mil euros por ano e dependendo de anos “bons” ainda poderiam ser mais… seguramente, este é um grande apoio que damos aos nossos empresários!

MO – Ainda hoje o espaço para estacionamentos é considerado “impeditivo” para que o centro da vila tenha mais vida comercial. Que soluções efetivas podemos esperar para essa problemática?

RA – Já temos parquímetros colocados na Praia e queremos ver se até ao final do ano temos eles também instalados nas zonas centrais, o que aumentará a rotatividade de veículos e, consequentemente, de pessoas que poderão fazer as suas compras no comércio…

MO – Encontramos raríssimas empresas localizadas nas aldeias, com estas cada vez mais desertificadas. Conjugar o que já existe nas Zonas Industriais com pequenas fábricas nessas pequenas localidades, não seria benéfico para a fixação de pessoas?

RA – Hoje em dia é difícil fazer-se isso, antigamente podia ser feito “em qualquer lugar” e hoje não. É preciso haver um PDM, tem de haver áreas destinadas a Zonas Industriais, temos de ter determinada potência de eletricidade, etc… mas, eu digo uma coisa: se nós temos a Zona Industrial do Montalvo com uma empresa  que, a trabalhar em pleno terão 250 postos de trabalho com tendência a aumentar, se colocarmos mais 2,3 empresas ali, serão mais 600 pessoas a trabalhar… a Corujeira, as Cavadas, o Ramalheiro, o Colmeal, a Lentisqueira… aquelas aldeias todas a volta, acabarão por beneficiar, como já está a acontecer, de pessoas que têm interesse em comprar casas antigas para reconstruirem e se fixarem… e mais: não há dúvidas que temos de lhes dar condições como, por exemplo, terem um centro de saúde adequado – e nós estamos a fazer esse investimento – terem escolas e oferta educativa em condições… e estamos a trabalhar nisso. Também, já assinamos um protocolo para a construção de casas com rendas acessíveis. Portanto, estamos a criar condições para que as pessoas se fixem cá, no Concelho… Não é preciso ter uma fábrica no meio da aldeia para conseguirmos ter pesssoas ali a residir.

MO – Considera que o Projeto LUSIAVES foi uma aposta falhada? Se fosse hoje, teria feito algo diferente no que se refere à esse processo?

RA – Não, faria tudo exatamente como o que eu fiz! Era um investimento de 25, 30 milhões de euros, que criaria 400 postos de trabalho e que era preciso estudar, analisar e pedir pareceres. Sempre disse que, se houvesse pareceres negativos, não avançava! Qualquer incidente que existiu nesta aposta devia ser analisado com cabeça, tronco e membros e não pela pressão da opinião pública… precisamos tomar decisões e as decisões devem ser tomadas de forma fundamentada, e foi isso o que fizemos! 

MO – O processo está em tribunal?

RA – Sim, está…

MO – Considera que a economia mirense está melhor hoje que no tempo em que assumiu pela primeira vez a função de Presidente da Câmara Municipal de Mira?

RA – Sim, considero! Temos a melhoria e a ampliação da ZI Polo I e a criação de uma nova Zona Industrial. Só isso já diz que lançamos as sementes para que, no futuro, Mira possa captar muito mais empresas e investimentos, pois já tem todas as condições. Neste momento, se me batessem à porta, posso dizer “olha, dentro de 3,4 meses tenho um lote para si… se , quando entrei na Câmara, me batessem à porta eu não teria um só lote para lhes vender!”. “Se quiserem um lote de 5 hectares, temos, se quiserem um de 10, também temos… fizemos as coisas de forma tal que podemos atender variados tipos de necessidades das empresas. Isso são factos concretos, objetivos e, também por isso, acho que estamos bem melhor hoje que naquela altura!”

Jornal Mira Online