Quebra recorde. Nasceram menos de 80 mil bebés em Portugal

Nascimentos continuam a cair. Lisboa foi o distrito onde nasceram mais bebés.

O “teste do pezinho”, que cobre a quase a totalidade dos nascimentos em Portugal, rastreou em 2021 menos de 80 mil bebés, pela primeira vez no país, revelam dados divulgados nesta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA). A demógrafa Maria João Valente Rosa fala numa queda recorde.

No ano passado, foram estudados 79.217 recém-nascidos no âmbito do Programa Nacional de Rastreio Neonatal (PNRN), menos 6.239 do que em 2020 (85.456), o valor mais baixo de sempre.

O “teste do pezinho” é feito em Portugal desde 1979, mas só há relatório desde 1982, sendo que mais completos só a partir 1984.

De acordo com os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), o maior número de bebés rastreados observou-se no distrito de Lisboa (23.494), seguido do Porto (14.736), de Setúbal (5.919) e Braga (5.833).

Bragança, com 513 bebés rastreados, Portalegre, com 584, e Guarda, como 645, foram os distritos que menos exames realizaram em 2021.

Os dados indicam que setembro foi o mês que registou o maior número de exames feitos (7.255), enquanto fevereiro foi o que teve menos registos (5.602).

Antes deste mínimo regista no ano passado, o número mais baixo tinha sido registado em 2014 com 83.100 exames realizados no país.

De acordo com os dados dos relatórios do PNRN, consultados pela Lusa no ‘site’ do INSA, o número de bebés estudados, entre 1984 e 2008, ultrapassou sempre os 100 mil, sendo o maior registo no ano de 2000 (118.577).

Em 2009, baixou pela primeira vez dos 100 mil recém-nascidos analisados, totalizando nesse ano 99.809 exames, voltando a subir em 2010 para os 101.716 recém-nascidos, o último ano em que se atingiu esse número.

O Programa Nacional de Rastreio Neonatal, coordenado pelo INSA através da sua Unidade de Rastreio Neonatal, Metabolismo e Genética, do Departamento de Genética Humana, realiza desde 1979 testes a algumas doenças graves em todos os recém-nascidos.

O painel das doenças rastreadas é constituído por 26 patologias: hipotiroidismo congénito, fibrose quística e 24 doenças hereditárias do metabolismo.

O exame consiste na recolha de gotículas de sangue no pé dos recém-nascidos para permitir diagnosticar as doenças, que clinicamente são difíceis de identificar nas primeiras semanas de vida, e que mais tarde podem provocar deficiência mental, alterações neurológicas graves, alterações hepáticas ou até situações de coma, refere o INSA.

O exame deve ser realizado entre o terceiro e o sexto dia de vida do recém-nascido, porque antes do terceiro dia os valores dos marcadores existentes do sangue do bebé podem não ter valor de diagnóstico, e após o sexto dia alguns marcadores perdem sensibilidade, havendo o risco de atrasar o início do tratamento.

Todos os casos positivos são posteriormente encaminhados para a rede de Centros de Tratamento, sediados em instituições hospitalares de referência.

Quebra recorde no segundo ano da pandemia

O número de “testes do pezinho” hoje divulgado faz Portugal bater um recorde histórico na quebra de nascimentos, disse à agência Lusa a demógrafa Maria João Valente Rosa.

“Hoje, em Portugal, estamos a bater um recorde histórico”, afirmou a especialista em demografia, referindo os registos de dados obtidos desde 1911.

“Nunca tivemos um número de nascimentos tão baixo em Portugal”, frisou.

“Isto tem a ver com o ano em que os bebés foram concebidos”, referiu Maria João Valente Rosa, associando a quebra de nascimentos à pandemia de covid-19.

“Foram crianças concebidas em plena pandemia”, indicou a docente da Universidade Nova de Lisboa.

A incerteza associada à crise provocada pela pandemia, em termos laborais, mas também sanitários, o medo de contrair covid, de não ter uma assistência médica adequada, os problemas com as visitas nos hospitais e no acompanhamento dos partos, pesou na decisão de ter um filho, analisou.

“Temos de compreender estes dados à luz da pandemia. Os nascimentos já estavam a baixar muito, mas nunca tivemos valores tão baixos”, sublinhou.

Lusa