De 11 a 14 de agosto, a Praia da Tocha enche-se de música, exposições, instalações, conversas e oficinas, num exercício de consciencialização ambiental através da arte.
A expressão “andar à catraia” significa na gíria da região da Gândara o “acto de caminhar à beira-mar em busca de materiais trazidos pelo mar com o fim de os reutilizar” (in Glossário de Termos Gandareses de Idalécio Cação), uma prática que no passado servia as necessidades da população, numa zona de areias abundantes onde reinava a escassez e a pobreza, mas que, com o desenvolvimento social, económico e industrial das últimas décadas, caiu em desuso. O resultado tem sido uma costa cada vez mais repleta de lixo marinho.
O projeto CATRAIA surge, assim, em 2019, da emergência de criar uma nova geração de gente que “anda à catraia”. Através da arte e da ação em comunidade, pretende-se refletir sobre os modelos de consumo que moldaram os hábitos da sociedade nos últimos anos, celebrar a cultura da região e trabalhar em conjunto para construir um futuro mais sustentável e solidário.
Com lugar na Praia da Tocha, no concelho de Cantanhede, a quarta edição do festival pretende regressar ao formato inicialmente sonhado, trazendo várias formas de artivismo que aliam a crença numa cultura descentralizada, acessível e assente na reinvenção das raízes, a uma forte componente de sensibilização ambiental, através de um programa transgeracional e multidisciplinar.
Arte urbana, trash art, exposições e instalações interagem com a localidade ao longo do festival, ao mesmo tempo que poderão visitar a Feira de Artesanato e a Feira da Troca, atividades que pretendem promover o comércio local e circular.
O programa musical é vasto e eclético, indo da world music ao jazz e atualizando o cancioneiro português. Conta com nomes como Terra Livre, Baleia Baleia Baleia, Ana Lua Caiano, projetos emergentes como Barananu, Santi Lesca, Rossana, Mazela e os locais The Winery Bastards.
Os catraios poderão participar em oficinas de reciclagem e atividades na floresta e os mais graúdos em oficinas de compostagem, criação sonora e expressão dramática, assim como aulas de yoga e desportos de mar apoiados pelas escolas locais. Os já conhecidos Jogos do Helder prometem envolver toda a família ao longo dos dias do festival e o Sarau Poético coloca o microfone nas mãos dos visitantes.
Os momentos de conversa refletem a vontade de dar voz à comunidade e fomentar a Educação Ambiental, contando com investigadora Filipa Bessa para expor a problemática do lixo marinho e microplásticos e o biólogo Jael Palhas na dinamização de um percurso pelos ecossistemas das lagoas e charcos da região.
O evento é totalmente gratuito e realizado por um grupo de jovens voluntários inseridos como um núcleo da Associação de Moradores da Praia da Tocha (AMPT), com os apoios da Junta de Freguesia da Tocha e da Câmara Municipal de Cantanhede.