No estudo “The road to sustainable use and waste management of plastics in Portugal”, (“O caminho para um uso e gestão sustentáveis dos plásticos em Portugal”, em tradução livre) publicado recentemente no jornal Frontiers of Environmental Science & Engineering, a equipa da Universidade de Aveiro fez uma revisão de literatura em que agrega “muita informação que estava dispersa e era facilmente acessível”.
A partir daí são tiradas “algumas conclusões sobre o que se estava a passar em Portugal”, explica a investigadora e sugeridas algumas soluções.
O trabalho agora publicado analisa também a balança comercial portuguesa no que se refere aos plásticos.
“Portugal importa muitos plásticos, e também exporta, maioritariamente da União Europeia. Esta reciclagem e valorização dos plásticos, a nível energético ou do material, traz muitos benefícios ecológicos e económicos”.
A investigadora destaca que, “se Portugal conseguisse valorizar esses resíduos, seria uma referência a nível europeu”.
“Se já importa, e a maior parte dos resíduos que recebemos vai para reciclagem — 30,8% –, e uma fração grande para produção de energia, podemos aumentar mais e ser uma referência a nível europeu”.
Portugal tem ainda “outra área em que pode ser uma referência”, a “produção de bioplásticos”.
“Temos a parte agroflorestal e marinha, podemos produzir bioplásticos a partir desta matéria orgânica, e por isso também ser uma fonte de bioplásticos para a União Europeia. Se fizéssemos biorrefinarias e aproveitássemos estas substâncias, podíamos ter também valor acrescentado para a economia”, aponta.
Joana Prata refere também o problema da taxa de gestão de resíduos, “que foi aumentada de 11 para 22 euros”, mas que, por ser taxada diretamente ao consumidor, “via conta da água”, “não está a diferenciar quem recicla de quem não recicla, ou quem produz muitos resíduos ou não”.
“Os municípios já estão a ameaçar que não vão premiar a reciclagem, vão apenas aumentar a taxa nos consumidores”, mas sem que essa distinção seja feita, indo “contra a teoria do poluidor pagador”.
“Esta taxa de resíduos pode aumentar, talvez até deva, está abaixo da média europeia, mas simplesmente aumentar sem qualquer medida para proteger os consumidores não faz sentido, os municípios apenas vão aumentar a taxa para os consumidores e não reciclar mais, que era o pretendido”, conclui.
Outro dos diagnósticos referidos no estudo é que, em Portugal, em 2015 e 2016, foi registada “uma mediana de 300 itens de lixo por 100 metros de praia”, valor que “está acima da mediana da União Europeia, de 149 itens [por 100 metros), e muito acima do objetivo de 20 itens por 100 metros”.
A reciclagem mecânica “não vai conseguir tratar do assunto”, refere a especialista, elencando outras formas de aproveitamento, “que pode ser energético”, através da incineração, ou, pela pirólise, que permite a produção de hidrogénio.
Joana Prata especifica que “os estudos em Portugal que compararam a incineração com recuperação energética à alternativa, que é o aterro destes resíduos, com impacto grande no ambiente”, mostram que “a incineração tem um benefício ecológico”:
Por outro lado, a pirólise permite transformar os plásticos “em moléculas mais simples”.
“O benefício destas técnicas é que têm infraestruturas mais baratas do que uma incineradora para recuperação de energia, e permitem, com outras técnicas, fazer a produção de hidrogénio a partir dos resíduos. E podemos juntar-nos ao Plano Nacional de Hidrogénio”, detalha.
Ainda assim, a reciclagem é “preferencial, porque, quando fazemos incineração, estamos a recuperar energia mas a perder o material, temos de o produzir de novo”.
Todas estas “são opções que devem ser tomadas antes de ir ao aterro”, assevera a especialista.
Madremedia