16.6.2024 –
O Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência alerta para padrões preocupantes no consumo de drogas, com consequências crescentes para a saúde pública.
A situação da droga na Europa é descrita da melhor forma com as palavras “em todo o lado, em tudo, em todos”, alertou o Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (OEDT) no seu relatório anual. Este estudo destaca a crescente disponibilidade de narcóticos e padrões de comercialização cada vez mais complexos.
O impacto do consumo de drogas ilícitas é agora visível em quase toda a sociedade e “nunca tivemos tantas drogas disponíveis ou produzidas no território da UE”, afirmou Alexis Goosdeel, diretor do OEDT, ao apresentar o relatório.
O documento mostra que 22 milhões de pessoas consumiram canábis, 4 milhões consumiram cocaína e quase 3 milhões consumiram MDMA(comumente conhecido de ‘ectasy’) no último ano na UE.
O relatório de 2024 mostrou que 85,4 milhões de pessoas relataram ter usado canábis em algum momento de suas vidas, enquanto no relatório de 2022, esse número era de 78,6 milhões.
O número de consumidores de cocaína, pelo menos uma vez na vida, também aumentou, de 14,4 milhões em 2022 para 15,4 milhões, e o número de consumidores de MDMA saltou de 10,6 milhões para 12,3 milhões.
A agência europeia que trata os assuntos da droga e da toxicodependência afirmou que quase todos os produtos com propriedades psicoactivas são potencialmente utilizados, e comercializados, como drogas muitas vezes com rótulos errados ou sob a forma de compostos. Este facto leva a uma ignorância generalizada dos consumidores sobre a natureza das drogas consumidas, aumentando consideravelmente os riscos para a saúde.
O diretor do OEDT alertou para o facto de existirem muitas substâncias novas que “ninguém imaginaria que os seres humanos pudessem utilizar”, como são o caso dos produtos de medicina veterinária.
A agência constatou que o mercado de medicamentos da UE caracteriza-se atualmente por uma gama mais vasta de substâncias, que estão frequentemente disponíveis com elevada potência, ou pureza, ou sob novas formas, misturas ou combinações. Este facto pode ter graves implicações para a saúde pública, uma vez que tanto os conhecimentos dos consumidores como os conhecimentos científicos continuam a ser limitados.
Até ao final de 2023, o OEDT monitorizou mais de 950 novas substâncias psicoativas, 26 das quais foram comunicadas pela primeira vez na Europa nesse ano.
A elevada disponibilidade de diferentes substâncias, que são frequentemente misturadas, conduz ao “policonsumo”, ou seja, à utilização de duas ou mais substâncias psicoativas em simultâneo ou sequencialmente.
Embora o policonsumo seja uma prática comum entre os consumidores de droga, com ou sem conhecimento de causa, a combinação de substâncias aumenta o risco de problemas de saúde e complica os tratamentos médicos.
Riscos adicionais de drogas injetáveis
A agência alerta para o facto de as pessoas que injetam drogas estarem frequentemente expostas a maiores riscos, como o de contrair infecções transmitidas pelo sangue ou morrer de overdose, do que as que consomem drogas de outras formas.
A injeção de drogas pode também agravar problemas de saúde já existentes ou causar outras complicações, como abcessos, septicemia ou lesões nervosas. Embora este tipo de consumo esteja a diminuir na Europa, continua a representar uma parte desproporcionada dos danos agudos e crónicos para a saúde resultantes do consumo de drogas.
As pessoas que injetam drogas correm, ainda, o risco de contrair infecções como as hepatites virais B e C e o VIH através da partilha de material de consumo de drogas.
A agência recomendou um maior fornecimento de equipamento de injeção esterilizado e a garantia de uma resposta eficaz, e abrangente, para as pessoas que injetam drogas em toda a UE.
“Aqui, a tónica é colocada no trabalho sem juízos de valor com as pessoas que consomem drogas”, pode ler-se.
O Observatório salientou que os encargos para a saúde pública, associados ao consumo de drogas, podem ser causados por muitos fatores, como as propriedades da própria substância, mas também por fatores colaterais como a vulnerabilidade individual e o contexto social do consumo de drogas.
De acordo com os dados da UE, 87 milhões de adultos consumiram drogas ilícitas pelo menos uma vez na vida.
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