OPINIÃO QUE CONTA: “Visitas Virtuais ao Museu da Farmácia”

“Em 1996 o Museu da Farmácia abriu portas ao público, em Lisboa, com o desejo de dar a conhecer a história da saúde e da farmácia. Ao longo de 25 anos, e já após a inauguração de um segundo polo, na cidade do Porto, tem sido ambição do Museu da Farmácia reunir peças dos quatro cantos do mundo, de forma a permitir que os seus visitantes se aventurem por entre 5000 anos de história: desde o primeiro contacto do homem com a saúde, na pré-história, até às mais recentes viagens espaciais da NASA, que no Museu da Farmácia ganham vida através de equipamentos que estiveram a bordo do Space Shuttle Endeavour.

Os anos de 2020 e 2021 ficarão marcados na história pela pandemia de COVID-19 que teve como consequência o encerramento provisório dos museus portugueses. Desde o início da pandemia, sob o lema “#CulturaSemQuarentena”, até aos dias de hoje, o Museu da Farmácia tem procurado continuar a disponibilizar os seus conteúdos em diferentes plataformas virtuais, fazendo-se presente junto dos seus visitantes. Uma das mais notáveis iniciativas de resposta a atual situação pandémica foi a criação de uma Visita Virtual ao Museu da Farmácia, que no passado mês de novembro se tornou realidade: uma viagem imersiva e interativa, que pode ser feita na segurança da escola ou mesmo em casa de cada aluno. Trata-se de uma visita mediada por um guia, em tempo real, que nos transporta entre as várias coleções do Museu da Farmácia Lisboa e Porto, de forma a dar a conhecer diferentes civilizações, crenças, teorias, objetos, através das histórias que nos vídeos apresentados ganham vida. Uma visita que, à semelhança das tradicionais visitas guiadas, permite uma interação constante com o guia, abrindo espaço não apenas ao esclarecimento de dúvidas e questões, como também à interação através de questionários que são colocados em diversos momentos da visita.

Este novo conceito, que pretende apresentar 5000 anos de história em 60 minutos de interação, apresenta-se dividido em oito módulos. A experiência inicia-se pelos “Primórdios da Farmácia”, onde, através de peças emblemáticas como o Sarcófago de Irtierut ou a vasta Coleção de Vasos Gregos, é traçado o percurso das primeiras grandes civilizações, como o Antigo Egipto, a Grécia Antiga e até o Império Romano, através dos testemunhos que estas nos deixaram na área da saúde. Seguem-se “Os Contrastes da Idade Média”, onde são apresentadas as diferenças entre a Europa medieval, que assiste ao crescimento da Igreja Católica, e o Mundo Árabe, que no seu florescimento encontra não apenas novas fórmulas farmacêuticas, mas também espaços de saúde tão exóticos como a Farmácia Islâmica de um Palácio na Síria, exposta do Museu da Farmácia do Porto. Ainda no período da Idade Média, damos a conhecer o módulo das “Máscaras da Peste e a Luta Contra as Epidemias”, onde, a par da atualidade, é feita uma perspetiva histórica sobre as grandes pandemias, as primeiras máscaras de proteção, a par da atual situação pandémica causada pelo novo coronavírus.

Por forma a compreender não só como ultrapassar as doenças mais marcantes da história da saúde, mas também como a ciência se desenvolveu e abriu portas à modernidade, somos convidados a participar em grandes momentos de desenvolvimento científico, com o módulo “O início da Revolução Científica”, através das invenções de instrumentos que em muito impulsionaram o progresso científico, como os microscópios compostos de Edmund Culpeper, e a descoberta que o nosso corpo era químico. Sabendo que acontecimentos como a 1ª Guerra Mundial fazem também parte da história da humanidade, é para onde viajamos de seguida, acompanhados por Sir Alexander Fleming que, no núcleo “A cultura de penicilina e a invenção dos antibióticos”, nos apresenta a história da sua descoberta, que viria a mudar a luta contra as infeções.

Fazem ainda parte desta iniciativa, e por forma a evidenciar a globalidade dos temas saúde e farmácia, dois núcleos que evidenciam a multiculturalidade do acervo reunido. Desde a abordagem à “Medicina Tradicional Chinesa”, onde encontramos uma das farmácias mais exóticas da coleção, a Farmácia Tai Neng Tong, até ao núcleo final: “A Aventura do Homem”. Neste último, somos desafiados a dar a volta ao mundo com diferentes aventureiros e exploradores, arriscando-nos desde os desertos e savanas africanas, até ao polo norte e polo Sul, chegando até à Antártida, pela companhia de Roald Amundsen, que, assim como em todas as expedições representadas no Museu da Farmácia, se fez acompanhar por estojos e farmácia portáteis!

O Museu da Farmácia propõe assim, em 60 minutos, uma viagem por entre 5000 anos de história da saúde e da farmácia, dando oportunidade aos seus visitantes de conhecerem duas coleções, separadas por 300 quilómetros de distância, e que agora, foram reunidas para materializar uma única experiência interativa. Uma experiência inovadora que poderá chegar não só ao público em geral, como também a todos as escolas e alunos, a nível nacional, que conseguirão agora ter acesso ao Museu da Farmácia a partir da segurança das suas salas de aula!”

Gonçalo Magano, Curador do Museu da Farmácia