OPINIÃO QUE CONTA: “Proposta (in)decente” – Carlos Sérgio Negrão

20.7.2023 –

“No passado dia 29 de Junho de 2023, os vereadores eleitos pelo PS na Câmara de Cantanhede apresentaram uma proposta, por escrito, a sugerir a atribuição de um voto de louvor e reconhecimento ao Hospital Arcebispo João Crisóstomo de Cantanhede e ao Hospital Rovisco Pais na Tocha.

A proposta teve como objetivo fundamental reconhecer o percurso destas duas unidades hospitalares ao longo das suas existências. Todos conhecemos os condicionalismos com que têm tido necessidade de viver e a respetiva forma notável como têm tido a capacidade de ultrapassar obstáculo atrás de obstáculo e a forma como têm, de alguma forma, conseguido transformar as naturais debilidades em forças que os fazem continuar na luta dos interesses dos seus utentes.

Ainda não se conseguiu atingir um nível, que eu considero mínimo, de garantias para a população, pelo que, para mim, será sempre um tema em cima da mesa enquanto não atingirmos o nível de “mínimos olímpicos” …

Foi basicamente por isto que “Tendo em conta que estas duas unidades hospitalares estão, tudo indica, em vias de serem integradas em “algo” maior, com tudo o que isso poderá implicar ao nível das suas mais diversas autonomias, é do entendimento destes vereadores (do PS) que esta poderá ser uma oportunidade única de reconhecer o papel estruturante, na sociedade em que vivemos, que estas duas unidades sempre desenvolveram ao longo das suas existências.”

Não é preciso andar excecionalmente atento para saber que o tema da “saúde” em Cantanhede é abundantemente polémico e intenso, pois há demasiados anos que se continua à espera de soluções que nos levem ao objetivo final que é o concretizar de um conjunto de serviços de saúde que satisfaçam cabalmente as necessidades dos utentes do concelho de Cantanhede e dos concelhos limítrofes que são abrangidos por estas unidades hospitalares.

Os vereadores do PS na Câmara de Cantanhede sempre assumiram clara e objetivamente que neste tema em concreto, e noutros quaisquer genericamente falando, seriam sempre cantanhedenses em primeiro plano e apenas após o interesse e salvaguarda desse primeiro nível passariam para um outro registo que é o de serem socialistas.

Sobre esta temática, cheguei inclusivamente a liderar uma Comitiva que se dirigiu à Assembleia da Républica, em Lisboa, onde, perante deputados representantes dos diversos partidos políticos, defendi claramente o que julgo será um passo determinante na defesa dos interesses dos munícipes cantanhedenses, a abertura de uma Consulta de tratamento a casos agudos no HAJC. Foi uma jornada de que me orgulho especialmente pois, ao mais alto nível, concretizei o que sempre teoricamente vinha defendendo. Antes de socialista fui um cantanhedense, intransigente na defesa dos interesses dos munícipes que represento.

Pois bem, devo relembrar que estamos num concelho em que assumir que se é socialista, eu diria, não é para todos, é apenas para os que convicta e desinteressadamente se disponibilizam para algo que ultrapassa o individuo e promove os fenómenos grupais no seu mais positivo sentido. De uma forma mais simplista e prosaica, quem, em Cantanhede, for socialista mas não quiser ter chatices, mantém essa sua convicção no anonimato… Eu sou dos que nunca gostou de nenhuma forma de “anonimato” …

Voltando ao primeiro parágrafo deste texto, tudo estaria bem se a proposta subscrita e apresentada pelos vereadores do PS tivesse seguido os trâmites mais habituais.

Tal não se verificou e a proposta não foi incluída na ordem de trabalho da reunião de Câmara de 05 de Julho, mas foi debatida pelos elementos presentes no encontro em causa.

Depois de uma “viva” partilha de opiniões em que ficou claro o desconforto dos vereadores representantes do PSD relativamente ao texto, inclusivamente com algumas intervenções que eu diria rebuscadas demais para serem consideradas devidamente preparadas, os vereadores do PS, imbuídos do habitual espírito construtivo de participação em soluções, disponibilizaram-se para que o documento fosse “alimentado”, de uma forma aberta, com potenciais inputs que fossem considerados pertinentes por todos e que que em simultâneo não provocassem um desvirtuar do objetivo fundamental da proposta em causa.

Espantemo-nos, ou não, o contributo enviado pelos vereadores do PSD foi entregue menos de 48 horas antes da reunião de Camara seguinte e até o título era diferente!

Para mim, um dos vereadores eleito pelo PS, é claro que o tema da Saúde é transversal a toda e qualquer cor política no Executivo da Câmara Municipal de Cantanhede. Para mim é igualmente claro que valores como a lealdade institucional e o respeito mútuo não devem ser substituídos pelo tacticismo político partidário.

Neste caso, esta é a minha leitura, esses valores foram claramente postos em causa e não foi respeitada devidamente a participação cívica e democrática dos vereadores do PS.

Alguns alegarão que estou a queixar-me de que o restante Executivo da Câmara Municipal de Cantanhede não é democrático e que a minha liberdade de alguma forma foi posta em causa. Não é nada disso que se trata! Relembro que no passado, relativamente recente, assumi por escrito, em texto assinado por mim (mais uma vez fugi do anonimato), que “não vendo a minha alma ao diabo” e, neste caso em concreto, é preciso que se diga clara e objetivamente que o que se tentou fazer foi aproveitar uma ideia/proposta dos vereadores do PS e transformá-la em algo diferente e assinada por todos.

Porque a vertente política também é importante, este é um tipo de expediente com o qual jamais me identificarei, e todas as situações que eu identifique com estas caraterísticas serão naturalmente tornadas públicas por mim. Além disso, diz mais sobre quem as pratica do que sobre quem sofre as suas consequências…

O desfecho final foi algo que não prestigia ninguém.

Na reunião de Câmara que teve ontem lugar, perante a inevitabilidade da concretização de uma votação da proposta inicialmente apresentada pelos vereadores do PS, os vereadores do PSD não construíram uma proposta para complementar a primeira. O resultado foi uma proposta que sobrepôs à inicial. Claramente uma tentativa de esvaziar e desvalorizar o trabalho dos vereadores do PS. Note-se que até a ordem das votações (agenda da reunião) previu a votação da proposta do PSD, entregue a 17 de Julho, antes da proposta do PS, que foi entregue no passado dia 29 de Junho…

Dirimiram-se argumentos múltiplos, valorizaram-se serviços e unidades hospitalares, elevou-se aos píncaros do mérito e do agradecimento os incansáveis profissionais de saúde, muito merecidamanete, diga-se, até espaço houve para comparar textos e avaliar o índice de plágio entre as duas propostas,… No final registei a aprovação das duas propostas mas com a surpresa de haver votos CONTRA de vereadores do PSD em relação à proposta apresentada pelos vereadores do PS!

Assim se vai respirando por terras dos Condes de Cantanhede”