Oito pessoas constituem, para já, a comissão que vai investigar décadas de eventuais abusos sexuais na igreja católica portuguesa, recolhendo denúncias e mergulhando em arquivos eclesiásticos e não só, e que podem vir apenas destapar a “ponta do icebergue”.
Os números são parte importante do estudo que a Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais na Igreja Católica Portuguesa pretende realizar no “arco temporal 1950-2022”, mas podem não ser suficientes sequer para responder à pergunta – que tem “uma resposta muito difícil” – e que é: “Quantas crianças foram abusadas ao longo do tempo no arco temporal 1950-2022?”, explicou a socióloga e investigadora Ana Nunes de Almeida.
“Os números de maus-tratos contra crianças dizem pouco e nunca conseguiremos sair da ponta de um icebergue em que só um terço está visível e outros dois terços submersos num mar profundo”, disse a socióloga na conferência de imprensa que hoje apresentou publicamente os seis elementos – aos quais, entretanto se juntaram outros dois – da comissão formada por iniciativa da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), que a financia.
A análise de mais de sete décadas de possíveis abusos sexuais vai passar pela imersão em bases de dados e arquivos históricos da igreja católica, da Procuradoria-Geral da República, das Comissões de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ), da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), do Instituto de Apoio à Criança (IAC), dos hospitais e centros de saúde, entre outros, para além da pesquisa na imprensa, procurando “evidências de factos ocorridos”, sendo que a análise de jornais e revistas, nacionais e locais, não exclui a própria imprensa religiosa.
“Queremos conhecer a realidade dos abusos sexuais contra crianças e adolescentes praticados por membros da igreja católica portuguesa ou por leigos que estão envolvidos nas suas várias vertentes de atuação: paroquial, educativa, escolar, familiar, terapêutica, etc.”, disse Ana Nunes de Almeida sobre o âmbito do estudo, sublinhando que analisar apenas números seriam limitativo.