As autoridades já identificaram mais de 100 alojamentos para trabalhadores agrícolas no concelho de Odemira (Beja), onde vivem mais de 300 pessoas, em situação de sobrelotação ou insalubridade, revelou o presidente da câmara.
“Estamos perante uma situação já identificada de mais de uma centena de lugares”, pelo que a resolução do problema “é um trabalho que levará algum tempo”, afirmou o presidente do Município de Odemira, José Alberto Guerreiro.
Segundo o autarca alentejano, que falava em conferência de imprensa, em Odemira, o total de pessoas que habita estes alojamentos sem condições rondará “um número superior a 300”.
“À medida que as vistorias se vão realizando, muitas pessoas têm ajustado a sua condição e muitos arrendatários têm inclusivamente reorganizado os espaços”, realçou, mostrando-se convicto de que “não serão necessárias tantas vistorias”.
José Alberto Guerreiro disse acreditar que, na sequência das vistorias e da visibilidade que tem sido dada aos problemas sociais, “alguns espaços” de alojamento vão voltar a “ter a condição natural de que já dispunham”, isto é, vão deixar de estar sobrelotados.
Admitindo que “não será possível realojar todas as pessoas nesta fase”, o autarca considerou que a criação de melhores condições de habitabilidade para os trabalhadores terá que ter “uma articulação especial” entre empregadores e entidades.
“O nosso objetivo é que tudo corra com tranquilidade e temos tido o apoio de entidades essenciais, como a Segurança Social e o Alto Comissariado para as Migrações, até porque toda esta situação tem que ser acompanhada [por] tradutores”, assinalou.
O autarca argumentou que “a realidade” da habitação em Odemira alterou-se nas últimas semanas, o que justificou com “o abandono do território” por parte de “alguns dos grupos que operavam na situação da legalização de cidadãos que tinham o objetivo de chegar ao espaço Schengen”.
“Isso é perfeitamente claro e julgo que foi um processo que libertou imensos espaços de habitação”, admitiu, vincando que este “negócio” rendia “tanto a tanta gente” que era difícil que os espaços ficassem disponíveis para arrendamento.
Questionado pela agência Lusa sobre o número de infetados pelo coronavírus SARS-CoV-2, o autarca adiantou ter conhecimento de cinco pessoas de Odemira com covid-19 que se encontram na “Base do Alfeite”, em Almada (Setúbal), por não terem “condições no seu domicílio”.
Além desses, outros infetados estão a cumprir isolamento domiciliário, mas o autarca não soube precisar este número.
“Odemira assumiu, desde o início, a sua responsabilidade” de criar espaços para pessoas que precisam de local para cumprir o isolamento profilático, mas as pessoas com covid-19 “ficam à responsabilidade das autoridades de saúde”, sublinhou.
Questionado sobre a necessidade de apresentar comprovativos de teste negativo à covid-19 para um trabalhador entrar ou sair das freguesias onde vigora a cerca sanitária, como determina um despacho do Governo de sexta-feira, o autarca ironizou.
“Alguns [trabalhadores] testam na frente das autoridades. Sei que esse processo, entretanto, já foi interrompido” por ser “absurdo, mas, por outro lado, também é verdade que exigir um teste todos os dias para poder trabalhar é até ridículo”, quando, para levar o filho à escola, “não precisamos de fazer teste”, disse.
As freguesias de Longueira-Almograve e São Teotónio, em Odemira, estão com cerca sanitária, desde 30 de abril, por causa da elevada incidência de covid-19, sobretudo devido aos casos entre trabalhadores do setor agrícola, muitos deles imigrantes.