“O Facebook é grande demais e devia ser partido aos bocados”, defende especialista

O especialista em comunicação Gustavo Cardoso disse à agência Lusa que o Facebook “é grande demais” e que “devia ser partido aos bocados” devido à sua posição dominante no mercado, no âmbito do 15.º aniversário da rede social, esta segunda-feira.

“Se o Facebook conseguir ser o único, criando uma espécie de sistema fechado em que quando eu saio de uma marca passo para outra mas sou o proprietário à mesma, isso é o sistema ideal quando toleramos a existência de monopólios. A questão é perceber se isso é positivo, e a minha resposta é que não, não é positivo, o Facebook é grande demais e devia ser partido aos bocados”, defendeu o docente do ISCTE-IUL.

Além da rede social homónima, o Facebook detém também a rede social Instagram e a aplicação de mensagens instantâneas Whatsapp.

Gustavo Cardoso considera que empresas como o Facebook ou a Google são até “provavelmente grandes demais para o seu interesse, enquanto empresas e, em última análise para os seus acionistas”, bem como para “os governos que as albergam em termos de sedes” e para a “capacidade de inovação nas diferentes economias”.

O investigador explica o crescimento da empresa com o facto de se tratar de uma economia de rede.

“As economias de rede sem regulação nenhuma tendem a transformar-se em monopólios, apenas porque supostamente oferecem o facto de mais gente estar dentro”, o que “cria uma vantagem enorme para a pessoa que chega depois. Se já estão 10 e eu sou o 11.º… já lá estão 10”, gerando um efeito de multiplicação de utilizadores, afirmou.

Por isso, o académico considera que o Facebook é uma das empresas que “cresceram demasiado, que estão a uma escala que é maior do que aquela que deviam ter e que têm de ser reconduzidas depois de dez anos. Estamos a falar de 10/15 anos, isto nem sequer é uma geração”.

Gustavo Cardoso sugere a adoção de uma solução semelhante à que foi implementada na empresa de telecomunicações AT&T nos Estados Unidos, em 1984.

Nesse ano, a operadora AT&T, que detinha o monopólio do setor telefónico nos Estados Unidos, quer ao nível dos serviços quer de equipamentos, foi partida em sete companhias regionais e numa muito mais pequena, também designada de AT&T.

Gustavo Cardoso considera que se chegou a um ponto semelhante relativamente à empresa liderada por Mark Zuckerberg. “Chegados a este ponto, temos que fazer alguma coisa”, defendeu.

“Nós não estamos a inventar absolutamente nada”, assinalou. “Pela primeira vez, temos monopólios à escala do planeta e não monopólios em alguns países”, disse, considerando que é “relativamente partilhado” na teoria económica que empresas como o Facebook se consideram como monopólios.

O investigador do ISCTE-IUL afirma que ainda não foi adotada uma solução do género por “falta de vontade política”, pois considera que a sociedade tem “as ferramentas” para executar.

“Mas isso também só acontece quando um dos lados acha que o outro tem demasiado poder e, portanto, tem de fazer alguma coisa”, justificou.

Em termos futuros, além de se discutir a dimensão do Facebook e a sua possível divisão, o docente considera que uma outra renegociação de poder poderá acontecer “à medida que as pessoas tomarem consciência” de que “na realidade as suas carteiras têm dois tipos de moedas, as de euro e os seus dados pessoais”, mas que essa alteração virá “por via do dinheiro e não por via das liberdades e garantias”.

A alusão aos “dois tipos de moedas” é sustentada no facto de o Facebook gerar receitas através da publicidade segmentada, que é criada consoante os tipos de dados pessoais, comportamentos, ‘gostos’ e interações que os utilizadores submetem e adotam na rede social.

Gustavo Cardoso considera que a partir do momento em que as pessoas começarem a ‘converter’ os seus dados pessoais em euros e a ganharem consciência das implicações dessa conversão, interrogar-se-ão: “Bem, mas eu estou a pagar ao Facebook X todos os meses? Só porque o estou a utilizar? Então o que é que recebo em troca?”.

O investigador também considera que é “perfeitamente possível” que nos próximos anos empresas como o Facebook ou a Google venham a “criar ou comprar órgãos de comunicação social” em diferentes países.

Lusa