“Mira é um concelho completamente à deriva…” (Augusto Louro Miranda)

03.6.2023 –

“Há uma década Raúl Almeida, o atual Presidente da Câmara Municipal de Mira eleito pelo PSD, prometeu que nunca abandonaria Mira e os mirenses e prontificou-se a cumprir os mandatos para os quais foi eleito. Agora que se propõe a novos voos é altura de avaliar esta década e o que foi alcançado.

Mira continua a ser um concelho pobre e envelhecido, mal infraestruturado e que se distancia dos seus vizinhos, Vagos e Cantanhede.

Como legado, o ainda presidente, deixa uma Zona Industrial (Zona Industrial do Seixo) sem ligação à rede de saneamento e uma nova zona industrial (Zona Industrial do Montalvo) mal infraestruturada e sem uma ligação rodoviária decente.

A constituição da empresa intermunicipal ABMG (Águas do Baixo Mondego e Gândara) com Montemor-o-Velho e Soure não trouxe as tão desejadas melhorias ao nível de abastecimento de água e saneamento. Os grandes investimentos têm sido feitos nos outros concelhos servidos pela empresa. Mira continua a não ter uma cobertura decente de saneamento e a tão prometida melhoria da qualidade da água não passou de uma intenção. O aumento das tarifas (Água, Saneamento e Resíduos Urbanos) foi elevada e não teve o devido retorno nos serviços prestados.

Os focos de poluição e a destruição dos recursos hídricos é uma realidade. A muito prometida Estação de Tratamento das Cochadas, no concelho de Cantanhede que vai tratar os efluentes desse concelho, ainda está longe de entrar em funcionamento. Nesse concelho operam nove estações de tratamento completamente obsoletas que ainda não foram ligadas à rede. Num futuro, mais ou menos próximo, serão desativadas e a rede ficará novamente sobrecarregada.

Na educação e na saúde, com a transferência de competências, vivemos um limbo sem saber bem ainda os custos reais para o município. Na educação temos um agrupamento de escolas sem diretor com um segundo concurso a decorrer. O primeiro concurso foi anulado superiormente. Um município que não é capaz de assegurar as Atividades Extracurriculares no 1º Ciclo bem como outras valências. A educação nunca foi uma prioridade do atual executivo.

Ao nível cultural manteve a política de apoiar quase tudo nunca se vislumbrando um qualquer critério definidor de uma identidade cultural. Congratulou-se com a inauguração de um pequeno anfiteatro (Atrium) que está longe de satisfazer as necessidades concelhias bem como as dos agentes culturais.

Ao nível do turismo perpetuou a política de vários eventos, não definindo uma qualquer orientação. Nunca percebemos, nestes dez anos, o que define Mira turisticamente. Entre Gastronomia, Folclore e Etnografia, Motonáutica, Ambiente e Natureza, Passagem de Ano temos um pouco de tudo. Qual foi a estratégia para o turismo de Mira? Uma manta de retalhos e eventos, muitas vezes antagónicos, e uma via sacra de capelinhas anual nunca passará disso mesmo. Os alemães costumam dizer que um conjunto de peças nunca fará um automóvel. Mira tem as peças, mas nunca fez o automóvel.

A nível político deixa uma clara indefinição. Não indica sucessor e deixa na equipa e partido (PSD) o ónus da decisão. Na Assembleia Municipal foi conivente com uma Mesa e um Presidente que não se preocuparam com a ausência da maior bancada da oposição (PS) nas últimas Assembleias Municipais. A suspensão de mandato de vários deputados indicia o nível de degradação política. Na relação com as freguesias não foi imparcial apoiando sempre mais a freguesia de Mira e do Seixo e menos a da Praia de Mira. Com a freguesia da Praia de Mira nunca assinou um acordo de transferência de competências.

Raúl Almeida surpreendeu os mirenses com a sua candidatura ao Turismo do Centro de Portugal (Comissão Executiva). Na primeira oportunidade de carreirismo político opta por abandonar o pântano que ajudou a perpetuar, um pouco à imagem de Durão Barroso seu colega partidário.

Mira merecia mais respeito e mais ambição”.

Augusto Louro Miranda

(Professor, Autarca e Conselheiro Nacional do CHEGA)