As contas são feitas pelo matemático Óscar Felgueiras e apontam para valores acima dos divulgados oficialmente. De acordo com o especialista, no grupo acima dos 80 anos, o número de casos cresceu 58% na última semana. Já entre os 70 e 79 anos, foram diagnosticados quase 1600 novos casos diários.
O número de casos de Covid-19 entre os mais velhos será já o mais elevado desde o início da pandemia. As contas são do matemático Óscar Felgueiras, um dos peritos que tem aconselhado o Governo nos últimos dois anos, e apontam para valores acima dos apresentados no mais recente relatório das linhas vermelhas que a Direção-Geral da Saúde e o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge divulgaram na sexta-feira.
Na faixa etária entre os 70 e os 79 anos foram diagnosticados quase 1600 novos casos diários ao longo da última semana, um valor próximo do máximo histórico e já acima do registado no início do ano. Nos últimos sete dias, o número de diagnósticos aumentou 61%.
Também no grupo acima dos 80 anos o valor cresceu 58%. Na semana passada, foram registados 1000 novos casos por cem mil habitantes, todos os dias. Entre as pessoas até aos 84 anos já ultrapassou mesmo o máximo histórico de incidência.
De resto, com exceção dos mais novos até aos nove anos, o número de casos aumentou mais de 50% nos últimos sete dias.
O número de mortes causadas pela doença também tem vindo a aumentar. Nos primeiros 15 dias deste mês, houve 340 mortes por Covid-19, sete vezes mais do que em todo o mês de maio do ano passado.
Os dados são avançados por Óscar Felgueiras ao jornal i. O matemático da Universidade do Porto acredita que o número de casos vai continuar a aumentar nos próximos dias e sublinha que é por isso que o uso de máscara continua a ser uma medida importante para prevenir o contágio.
Assim como os testes, acrescenta o matemático. Ao Jornal de Notícias, Óscar Felgueiras assegura que o número de testes de antigénio realizados é duas vezes maior face aos PCR. A proporção “habitual”, mas que o fim da gratuitidade de testes nas farmácias inverteu, sublinha o especialista. No sábado, foram feitos quase 28 mil testes de antigénio e 14 mil PCR.
Números de casos de Covid a aumentar em Portugal? “Não é surpreendente”, defende Carmo Gomes
Ouvido pela TSF, tendo em conta o levantamento de algumas medidas de restrição, o epidemiologista Manuel Carmo Gomes não fica surpreendido com estes números. O professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa lembra que aconteceu o mesmo em outros países europeus.
“Não são muito surpreendentes, atendendo a que Portugal no dia 21 do mês passado decidiu terminar a obrigatoriedade das máscaras. Outros países que fizeram isto tiveram uma situação semelhante de aumento do número de casos, nomeadamente a Dinamarca e o Reino Unido. O aumento nesses países durou aproximadamente um ou dois meses, embora seja difícil fazer comparações, porque no caso deles coincidiu com a chegada da Ómicron”, diz.
Carmo Gomes lamenta que tenham acabado os testes gratuitos, mas sublinha que o mais importante é o reforço da vacinação.
“O que é importante é acompanhar o que se passa nos hospitais e nos óbitos. Não é assim tão importante nós termos um grande número de casos desde que isso não tenha consequências em termos de impacto hospitalar. É evidente que com esta subida de casos era necessário tomar medidas que não só evitassem o entupimento da linha 24, como resolvessem o problema das pessoas que necessitam de se testar para saber se estão positivas ou não. Uma vez que uma pessoa está positiva e tem de se isolar para evitar infetar outras pessoas, a pessoa necessita de um comprovativo e, portanto, tem que ir fazer o teste em algum lado. Lamento que tenha sido terminada a gratuitidade dos testes nas farmácias.”
O epidemiologista alerta também para o aumento da mortalidade e da ocupação hospitalar.
“Neste momento temos na enfermaria Covid 1368 pessoas e nos cuidados intensivos 79, o que representa um aumento relativamente à semana anterior. No que diz respeito aos óbitos, também mais recentemente, começámos a detetar um aumento. Neste momento, temos uma média de 22 óbitos por dia. Aquele indicador que o Governo tinha adotado do número de óbitos a 14 dias por milhão de habitantes está em 31. Recorde-se que tinha sido colocado como objetivo serem apenas 20. Estes 31 estão com tendência para aumentar”, afirma.
Manuel Carmo Gomes avisa que o número de novos casos disparou em todo o país, exceto na Madeira, onde só este fim de semana o uso de máscara deixou de ser obrigatório.
“Temos aproximadamente 20.600 novos casos por dia. Para dar uma ideia disto comparativamente ao passado recente, há aproximadamente uma semana tínhamos 13 mil casos por dia. Em uma semana, passamos de 13 mil, em média, por dia, para 20 mil. É bastante. O nosso Rt está com um valor evidentemente acima de 1, à volta de 1,2 a 1,3. Isto é geral em todo o país. A única região onde não há uma subida neste momento é a Região Autónoma da Madeira. O número de casos em Portugal começou a subir consistentemente aproximadamente por volta do dia 26 ou 27 de abril, alguns dias depois do fim da obrigatoriedade de máscara. O vírus está a evoluir no sentido de ter novas subvariantes e sub-subvariantes com capacidade de infetar as pessoas mesmo que elas já tenham algum grau de proteção, daí esta dificuldade em controlar a avalanche dos números”, explica.