O maestro português Dinis Sousa, cuja nomeação como titular da orquestra Royal Northern Sinfonia foi anunciada na terça-feira, assume a importância de envolver a cultura, em especial a música, na reabilitação pós-pandemia covid-19.
“O anúncio nesta altura representa uma ótima mensagem de esperança e de começo de um novo capítulo. Os músicos estão com muita vontade de voltar, queremos estar disponíveis porque as pessoas vão precisar da cultura e da música. Queremos fazer parte da recuperação da saúde física e mental das pessoas”, disse Dinis Sousa à agência Lusa.
A Royal Northern Sinfonia (RNS) é a única orquestra de câmara a tempo inteiro, baseada no centro cultural Sage Gateshead, em Newcastle, norte de Inglaterra.
Simbolicamente, a primeira série de concertos chama-se “New Beginnings” (“Novos Começos”), arrancando já em 16 de abril com um concerto virtual da orquestra, conduzida por Sousa, intitulado “Dawn and Dusk” (“Aurora e Crepúsculo”), com a meio-soprano Sarah Connolly.
Seguem-se mais dois concertos, um da banda de ‘folk’ nativa de Newcastle “Holy Moly & The Crackers”, a 23 de abril, e depois outra atuação da RNS, “Spring has Sprung” (“A Primavera Começou”), desta vez dirigida pelo maestro inglês Paul McCreesh, fundador do Gabrieli Consort, que já foi titular da Orquestra Gulbenkian, também transmitido através da Internet.
As salas de espetáculo ainda estão fechadas no Reino Unido, devido ao confinamento para travar o coronavírus, mas os espetáculos via digital são uma forma de manter contacto com o público e um formato que Dinis Sousa pretende manter, como disse à Lusa.
“Percebemos que faz sentido e vamos continuar, porque podemos chegar a um público que está mais longe, ou pessoas que não poderiam vir. Provavelmente não teríamos tentado fazê-lo já sem a pandemia”, admitiu, acrescentando: “Pessoalmente, permite convidar pessoas em Portugal para assistirem aos meus concertos”.
Antecipando a reabertura da sala de espetáculos, potencialmente em meados de maio, a RNS vai lançar um projeto de participação em grande escala que pretende reunir músicos e cantores amadores locais com profissionais, para realizar um grande concerto e recordar as vítimas da pandemia da covid-19.
Os participantes vão ser desafiados a interpretar o “Requiem”, de Giuseppi Verdi, de forma a criar um “momento espetacular e comovente de grande escala” e de união a fazer música.
Como maestro titular, Dinis Sousa vai trabalhar como diretor artístico do Sage Gateshead, na programação e ciclos da orquestra, escolha de repertórios e tem muitas mais ideias para envolver a comunidade local, organizar atividades educacionais e continuar as digressões em salas na região do sudeste de Inglaterra.
“Os concertos têm muito público. Muitas das cidades estão esquecidas e têm pouca população, mas talvez sejam revigoradas com o fluxo de pessoas a saírem de grandes centros urbanos”, disse Dinis Sousa à Lusa.
Numa tentativa de atrair músicos profissionais de qualidade, na próxima semana vai ser aberto um processo de recrutamento para vagas em aberto na orquestra, que, em vez do sistema inglês mais lento de manter os candidatos em período experimental, vai oferecer vínculos mais ao estilo continental europeu.
Este formato pretende oferecer um emprego estável, numa altura difícil para os músicos, que “têm possibilidade de obter um contrato”, outro sinal da ambição da RNS, sublinha o maestro português de 32 anos.
Depois de vários anos a viver na capital britânica, onde estudou Direção de Orquestra na Guildhall School of Music and Drama, Dinis Sousa era, desde 2018, maestro assistente do Coro Monteverdi e Orquestras, fundados por John Eliot Gardiner.
A mudança para Newcastle, uma cidade de cerca de 300 mil habitantes, é um desafio que encara com entusiasmo.
“É um privilégio ter sido convidado, é um passo importante em termos de carreira. O Gateshead tem uma das melhores salas de concertos no Reino Unido e na Europa. Londres não tem uma sala como esta em termos de qualidade acústica”, garantiu à Lusa.
Lusa
Imagem: The Portuguese News