Um dos centenários do concelho de Montemor-o-Velho é da Carapinheira
Joaquim da Fonseca completou 100 anos de vida, no dia 18 de Março de 2021. Não teve festa de “pompa e circunstância”, pois foram passados no Hospital Distrital da Figueira da Foz (HDFF). Devido à situação, e a haver “festa” também teria sido muito restritiva, disseram os filhos.
Natural da Carapinheira, onde nasceu no lugar da Bolêta (18.03.1921) e onde é residente, Joaquim da Fonseca é o terceiro filho (de nove irmãos) de António da Fonseca e de Maria Góis, família simples e humilde, vivendo dos trabalhos agrícolas, como a maioria da população na reta final da famigerada pandemia da Gripe Espanhola. A frequentar os estudos da Escola Primária, teve de os abandonar para ajudar no sustento da família, trabalhando como servente de pedreiro. Aos 16 anos, e até ser incorporado nas fileiras do Exército, como recruta, rumou para Alcácer do Sal e depois Ribatejo, trabalhando de sol a sol, como valador, naquelas lezírias. Em 1943, ingressou nos quadros dos Caminhos de Ferro da Beira Alta, como carregador e, dois anos depois, transferiu-se para a Cooperativa do Pessoal desta Empresa. Aquando da fusão dos Caminhos-de-ferro, a um de Janeiro de 1947, foi colocado nos escritórios, em cujo serviço se manteve até à sua aposentadoria em 1973, exercendo, entretanto, neste período, por cerca de 10 anos, as funções de revisão de bilhetes nos comboios de passageiros de Lisboa, Porto, Vilar Formoso, Coimbra e Figueira da Foz. Ainda chefiou, no Algarve e em Tentúgal, um armazém de produtos alimentares da empresa Midat Farid, importadora da alemã Sudmilc. Com uma propensão comercial, adquirida ao tempo em que esteve na Cooperativa, e procurando melhorar a economia familiar, adquiriu, por trespasse, um espaço comercial – mercearia, vinhos, materiais de uso doméstico e de construção e de distribuição de gás – que geria a par da sua profissão de ferroviário.
Dirigente associativo e autarca eleito pelo PS e pelo CDS
Na vida social, a partir de 1974, foi o último Regedor da Freguesia e foi tesoureiro da Casa do Povo da Carapinheira e Meãs, tendo sido o primeiro presidente da Junta de Freguesia, eleito democrata e livremente nas eleições autárquicas de 12 de Outubro de 1976, encabeçando a lista do Partido Socialista (PS), para o triénio 1977/1979. Foi eleito vereador da Câmara Municipal de Montemor-o-Velho, para o triénio 1980/1982, na lista do Centro Democrático Social (CDS). Abraçando iniciativas do Eng.º Luiz Correia de Oliveira, foi criada a Feira Mensal, ao dia 26; negociaram a aquisição do terreno para a realização da feira (hoje Parque Nossa Senhora das Dores) caucionando o contrato de compra e venda; construíram, nesse espaço, um palco para a realização de festas e espetáculos. Foi vice-presidente da Assembleia Geral do Clube Desportivo Carapinheirense, acompanhando as diligências junto da Família Roxanes de Carvalho, para a aquisição dos terrenos onde hoje está o Complexo Desportivo de São Pedro, cuja escritura foi outorgada pelo autor destas linhas, “na qualidade de gestor de negócios” do Clube Desportivo Carapinheirense. Ainda, aliado a Correia de Oliveira, faz “lóbi” para a criação na Carapinheira de uma Delegação da Caixa de Crédito Agrícola da Abrunheira, e, contra os pareceres da Câmara Municipal de Montemor-o-Velho, levaram avante a construção da Escola Preparatória da Carapinheira. Participou nas iniciativas da elevação da povoação da Carapinheira à categoria de Vila e na implantação da estátua em homenagem ao Homem do Campo. Foi cofundador da Liga dos Amigos dos Campos do Mondego e do Museu do Campo.
Além de ser um homem simples, foi trabalhador, desassossegado, interventivo, bairrista, dinâmico, com boa autonomia física ao longo da vida, sendo esta coartada, há cerca de dez anos, devido a uma doença persistente do trato urinário, com diversas visitas ao HDFF. Diz não ter nenhum “segredo” para a longevidade, e apenas toma a medicação para a enfermidade que sofre. Viúvo, há 5 meses, de D. Madalena Malva, tem dois filhos – Edgar e Helder – sendo este que o acompanha diariamente, sendo visitado pelo mais velho, com a frequência que lhe é possível, pois vive no Porto. Com o agravamento desta situação de saúde recorre aos serviços domiciliários do Centro Paroquial e Social da Carapinheira, que o acompanham na higiene e alimentação. Porém, não deixa de acompanhar a vida da sociedade, que segue pela televisão e pela leitura de jornais, cumprindo ainda o seu gesto de cidadania, votando, até hoje, nos pleitos eleitorais. Parabéns pelo centenário!
Texto: Aldo Aveiro