Industriais de artigos religiosos anseiam pela normalidade no turismo

A indústria dos artigos religiosos registou quebras de faturação no último ano, marcado pela pandemia, com os empresários da região de Fátima a ansiarem pelo regresso à normalidade do turismo.

“As nossas expectativas agora são as de que a atividade turística seja retomada, para as pessoas poderem viajar e levar lembranças, fazendo compras dos nossos artigos”, afirmou à agência Lusa Telma Henriques, sócia-gerente da FarPortugal, empresa instalada há 50 anos no lugar de Sobral, concelho de Ourém.

A empresa começou 2020 com 29 funcionários, os mesmos de hoje, mas Telma Henriques reconheceu “muita dificuldade” na manutenção dos postos de trabalho.

“Era fundamental mantermos os postos de trabalho, porque a pandemia iria passar, mas pensámos que seria mais depressa, e, sendo um trabalho muito diferenciado — pintura de imagens à mão e terços feitos à mão -, não podíamos abrir mão das pessoas, pois dificilmente conseguiremos outras para as substituir”, explicou a empresária.

Segundo Telma Henriques, a empresa “esteve em ‘layoff’ e tentou, ao máximo, aceder aos apoios do Estado, apesar de não ter conseguido muitos”.

Fechada no máximo dois meses, a FarPortugal, que já vai na terceira geração, não tem registo de um maio, mês em que começam as grandes peregrinações ao Santuário de Fátima, como o do ano passado.

“Desde o tempo do meu avô, que começou a indústria dos terços no Sobral, nunca tivemos um maio como o de 2020, que costuma ser uma loucura. Não tivemos uma única encomenda e estivemos fechados”, adiantou a sócia-gerente.

O balanço do ano passado comparativamente a 2019 é de uma “quebra de 25% na faturação”, referiu.

“Tivemos anulação de encomendas, mas fizemos tudo para que os clientes as mantivessem, mesmo alterando as condições de pagamento habituais em favor do cliente”, disse a sócia-gerente da FarPortugal, empresa que, em média, destina 70% da produção ao estrangeiro, destacando-se os Estados Unidos da América e a Europa.

Entre os clientes da empresa estão vários santuários que deixaram de receber visitantes por causa da pandemia, além de que romarias e outras festas religiosas também não se realizaram, salientou Telma Henriques.

“Durante o ano de 2020, o esforço de cada um de nós foi o dobro, tivemos de refazer catálogos, pensar em coisas novas para recriar. Não estivemos parados, mas tentámos encontrar formas mais produtivas de fazer este trabalho manual”, declarou, destacando, “da parte dos funcionários, a solidariedade para manter a empresa”.

Na empresa de artigos religiosos Farup, sediada em Fátima, o desejo é, também, a retoma do turismo.

“Temos expectativa de que os mercados voltem a abrir e que os turistas, falamos de turismo religioso, regressem”, expressam os sócios-gerentes, Alexandre Ferreira e Francisco Pereira.

Com 17 funcionários, igual número no ano passado, a empresa registou “momentos de paragem” da produção, como por exemplo o último janeiro”.

A empresa, uma das mais antigas de Fátima, criada em 1962, teve uma diminuição de 70% da faturação no ano passado face a 2019, tendo recorrido aos apoios estatais.

“O apoio é sempre positivo, ajudou bastante. O Estado não falhou nesta hora”, reconheceram os sócios-gerentes, admitindo que “neste último ano o mercado externo funcionou melhor”.

EUA, Alemanha, França, Itália e Timor-Leste são os principais mercados no estrangeiro da Farup, acrescentaram os responsáveis, esclarecendo que, num ano normal, sem pandemia, 70% da produção é para o mercado nacional.

À pergunta como a empresa resistiu, Alexandre Ferreira e Francisco Pereira responderam que foi “com muito empenho, muita procura de novos mercados, aproveitar qualquer pequena venda e aposta na internet”.

A Farup foi, entretanto, escolhida para produzir o terço da Jornada Mundial da Juventude, que se realiza em 2023, em Lisboa, tendo já produzido cerca de 15 mil unidades.

“Foi uma lufada de ar fresco”, destacaram.

Já a empresa José de Almeida Pereira, em Fátima, conseguiu manter os funcionários, cerca de 30, mas os níveis de faturação tiveram uma quebra de “mais de 75%”, referiu Deolinda Pereira, notando que “com as lojas fechadas pararam praticamente as vendas”.

Já na Seleções de Fátima, empresa grossista de arte sacra, o seu responsável, Jaime Alexandre, reconheceu que no decurso da pandemia praticamente não houve faturação.

“Tivemos quebra de faturação ao nível de 85%. Dispensámos três pessoas, hoje temos quatro. Foi a forma de a empresa também sobreviver”, salientou, considerando justo o apoio do Estado para fazer face às consequências económicas da pandemia, caso contrário, a opção seria o fecho da empresa.

Expectante que “a retoma venha”, Jaime Alexandre antecipa que “não vai ser muito rápida”.

“Noventa por cento do nosso artigo é distribuído em Fátima e não há turismo”, declarou, convicto, contudo, de que, apesar de uma eventual demora, vai ser possível atingir valores de há alguns anos.

“Aquilo que pretendo é que daqui a algum tempo consigamos atingir os níveis de faturação pré-pandemia. Não será este ano, nem para 2022, mas acredito que vamos lá chegar”, afirmou.

Lusa