10.1.2023 –
Este terá sido mesmo o primeiro caso na Europa a resolver-se através de uma união de esforços entre diferentes áreas, como técnicas forenses e arte.
No final do ano foi notícia a detenção de cinco pessoas suspeitas de envolvimento na morte de um cidadão português, cujo cadáver foi encontrado no fundo de um poço na localidade de Pontevedra (Galiza). O que só agora se soube é que foi graças a uma técnica pouco usada pelas autoridades europeias que foi possível desvendar o caso. Falamos da reconstrução facial.
Esta técnica de investigação, a que recorreram as autoridades espanholas, permite o reconhecimento do rosto através da estrutura óssea e de uma junção de esforços entre a arte, antropologia e a anatomia. E assim, em março do ano passado se chegou a um nome: Carlos Alberto Videira do Órfão, um português de 37 anos natural de Viana do Castelo mas residente em Vigo há cerca de duas décadas, onde geria um negócio de venda de carros usados.
O cadáver foi atirado para um poço a 13 de outubro de 2018. Mas só três anos depois, em fevereiro de 2021, mais precisamente no dia 21, foi descoberto. O elevado estado de decomposição tornou-o praticamente irreconhecível. Começava assim a chamada “Operación Profundo 21”, conta o jornal El Mundo.
A descoberta só por si, de pouco valeu. Faltava perceber quem era para se tentar chegar ao que tinha sucedido. Com recurso a técnicas forenses e à genética, através do úmero e do fémur retirados durante a autópsia, foi possível chegar a um perfil genético.
Além disso, o relatório forense revelou também que se tratou de uma morte violenta. A vítima terá sofrido vários golpes, nomeadamente um forte impacto na cabeça e contusões em várias partes do corpo. Foram extraídos identificadores de ADN mas durante meses não houve avanços na investigação.
Até que chegámos a 2022, altura em que entrou em ação a técnica que iria resolver o mistério.
A Unidade de Antropologia Forense do Instituto de Medicina Legal da Galiza, onde trabalha o investigador forense Fernando Serulla, que se tornou conhecido durante os atentados de 11 de Março em Madrid, entre outros casos mediáticos, pôs mãos à obra contando com a colaboração da artista forense Alba Sanín.
Desta união de esforços resultaram seis retratos da mesma cara, recorrendo à estrutura facial óssea da vítima. Esses retratos foram partilhados em vários meios de comunicação em Espanha e em Portugal.
E no dia 17 de março de 2022, uma cidadã portuguesa contactou as autoridades espanholas. Disse que reconhecia o rosto. Era o seu irmão e estava desaparecido há três anos. A partir daí, a biologia fez o resto.
A irmã concedeu uma amostra de ADN que foi comparado com o perfil genético do cadáver. Em junho chegaria o resultado: o falecido era o seu irmão e chamava-se Carlos Alberto Videira do Órfão, que quando foi assassinado (outubro de 2018) tinha antecedentes criminais.
Fim da investigação mais próximo
Em dezembro do ano passado, cinco pessoas foram detidas por suspeitas de ligações ao crime. Os cinco detidos, todos de nacionalidade espanhola, são naturais de Vigo e Porriño.
Dois ficaram em liberdade, mas foram acusados pelo crime de encobrimento. Os restantes, dois permanecem detidos, sob acusação de detenção ilegal e homicídio, e sem direito a fiança, e um terceiro elemento também saiu em liberdade, mas está proibido de sair do país.
O motivo do homicídio “poderá estar relacionado com burlas” que a vítima teria praticado no setor da venda de viaturas.
Imagem: ARTISTA FORENSE ALBA SANÍN
SIC Notícias