Todas as salas cirúrgicas do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) estiveram hoje a prestar apenas serviços mínimos devido à greve dos enfermeiros dos blocos operatórios, disse a coordenadora do movimento “greve cirúrgica”.
À porta do polo principal do CHUC, onde se concentraram, na manhã de hoje, cerca de meia centena de enfermeiros, Ana Pais disse aos jornalistas que houve nove blocos que aderiram, com taxas de adesão à greve “acima dos 80%”.
“Os blocos [operatórios] em Coimbra estão só a assegurar os serviços mínimos”, sublinhou a enfermeira, que coordenou, em Coimbra, o movimento que esteve na origem da greve prolongada às cirurgias programadas em blocos operatórios.
Segundo Ana Pais, o protesto surge após “anos de negociações frustradas, sem resposta por parte do Governo, que nos levou a chegarmos a uma medida um bocadinho mais extrema, que só tomámos mesmo em último recurso”.
Os enfermeiros “estão cansados, exaustos, há 15 anos que estão congelados, o que significa que enfermeiros que trabalham há 20 anos recebem o mesmo do que um que acaba agora a sua licenciatura e ingressa no mercado de trabalho”.
“Reivindicamos uma reestruturação da nossa carreira, que nos valorizem, que contratem mais enfermeiros, que diminuam o tempo da reforma, que o processo de descongelamento seja efetivamente feito de acordo com o que é justo, atendendo a todo o tempo de profissão”, explicou Ana Pais.
“Chegamos a fazer 60 horas semanais, o que leva à exaustão dos profissionais e a um aumento de absentismo por situações de ‘burnout'”, sublinhou.
Outras das reivindicações prende-se com a necessidade de a tutela proceder à “homogenização” dos contratos de trabalho, uma vez que “há trabalhadores com contrato da função pública e outros com contrato individual de trabalho”.
“É necessário uma homogenização, em que todos têm os mesmos direitos, independentemente do vínculo que têm”, disse Ana Pais.
Nuno Couceiro, do Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor), uma das estruturas que emitiu o pré-aviso de greve, salientou que a adesão dos enfermeiros “está a ser maciça”.
“Os enfermeiros do bloco costumam ser os mais prejudicados nas greves e, por isso mesmo, esta tem contornos diferentes e permite que o sucesso possa ser maior e sejamos ouvimos pela tutela”, salientou o enfermeiro, referindo-se ao facto de ter existido um fundo aberto ao público que recolheu mais de 360 mil euros para compensar os profissionais que aderirem à paralisação.
De acordo com Nuno Couceiro, o bloco central do polo principal do CHUC “está apenas a cumprir as urgências e os oncológicos, de resto está parado para todas as cirurgias programadas”.
Nos blocos periféricos, de oftalmologia, otorrino e ortopedia “as cirurgias também estão todas canceladas”.
“Os enfermeiros estão sem carreira, são tratados como meros operativos e escalados a toda a hora e a todo o momento”, queixou-se Celínia Antunes, da Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE).
A enfermeira considera que a “prestação de cuidados de saúde diferenciados não se compadece com este tipo de atitude” da tutela, que “não respeita o grau de diferenciação”.
A greve cirúrgica, decretada pelo Sindepor e pela ASPE, abrange ainda o Centro Hospitalar Universitário de S. João e o Centro Hospitalar Universitário do Porto, o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte e o Centro Hospitalar de Setúbal.
Lusa