Antes de mais, cumpre-me o dever de agradecer o honroso convite do Jornal Mira Online pela credibilidade e confiança depositadas em mim, como personalidade capaz de comentar Cantanhede.
Sendo este o primeiro texto que aqui publico, julgo ser importante introduzir o âmbito das minhas intervenções, seus objetivos e alguns dos tópicos que, desde já coloco à consideração do leitor.
Esta rúbrica tem por objetivo partilhar informação referente ao Município de Cantanhede e, acima de tudo, fomentar o debate de opinião, a fim de contribuir para o aumento da consciência crítica do munícipe e sensibilizá-lo para as questões que constituem o nosso meio.
Temas como Mobilidade e transportes, Turismo, Política Local, Desenvolvimento económico, Desporto, Cultura e eventos e, como não poderia deixar de ser falado, a EXPOFACIC.
Hoje o tema que traria aqui seria acerca do conjunto de ciclovias cuja construção se aproxima. No entanto, e por se tratar de um assunto que inquieta alguns dos munícipes de Cantanhede, irei abordar o mediatismo em volta do Parque Tecnológico de Cantanhede – o Biocant, e respetivo processo de privatização.
Como o leitor saberá, o Biocant – Associação de Transferência de Tecnologia em Biotecnologia, e a ABAP – Associação Beira Atlântico Parque, são duas associações pertencentes, na sua maioria, ao Grupo Autárquico em 99,93% e 97,19%, respetivamente. Este projeto, que teve início em 2005 com construção do primeiro edifício, é considerado uma das joias do município, tendo sido aglutinador das diferentes forças políticas presentes em Cantanhede.
Surgem porém, diferentes narrativas para todo este processo de privatização, que deixam os munícipes desconfortáveis. Apenas para clarificar, este primeiro processo de privatização, diz respeito à venda de dois edifícios do parque e lotes de construção, edifícios esses, que são vendidos com a sua gestão independente. Ou seja, tornam-se autónomos.
O processo de privatização em si, também é algo que defendo, visto que o projeto ganha uma dimensão em que uma autarquia simplesmente não tem competência e recursos humanos para o levar a bom porto. O papel da autarquia, que foi feito, é garantir a continuidade do projeto pelos valores de investigação que o impulsionaram. Está cumprido. No entanto, surgem aqui questões que começam a ser, no mínimo, estranhas e que merecem atenção do munícipe, e justificação da autarquia.
Factos: Carlos Faro, que já esteve à frente do Biocant sai para “procurar investimento externo”. João Moura, Presidente da Assembleia Municipal, entra como Presidente. Carlos Faro volta com investimento por parte do empresário Jorge Marques, CEO da Mitrelli, Grupo Green Inovations. É criada uma entidade ”Cantadviser” ou “Cantdaviser”, já nem sei bem, em 4 dias.
Carlos Faro, defendido internamente para ocupar o lugar de João Moura, volta a ter um pé no Biocant. Há quem defenda até, que a presença da Câmara Municipal e de João Moura, especificamente, na gestão do Parque chega a impedir mais investimento, pela presença do interesse político.
Questão: Não será então benéfico, as entidades políticas e personalidades políticas afastarem-se de vez deste projeto e deixar, quem sabe, guiar o barco?
Infelizmente, o interesse político e quiçá pessoal, por parte de algumas personalidades, está demasiado presente neste assunto. Não me parece ético, não me parece transparente, não me parece bom de todo. Julgo ser tempo de esclarecer o munícipe. Existem demasiadas pontas soltas, que não me competem deslindar mais por aqui. É investigação de jornalismo. Desde o que diz uma ata de Assembleia Municipal, ao que de facto acontece, a diferença e distância é algo preocupante.
Gonçalo Magalhães