“Falar sobre”: 29ª Expofacic – 2019 (Gonçalo Magalhães)

Chagámos ao final do mês de Agosto e surge a intenção de deixar aqui uma opinião empírica sobre o mesmo. Neste texto vou referir alguns aspetos positivos e de melhoria relativamente à edição deste ano, bem como algumas considerações para as próximas edições. Saliento uma vez mais, que quaisquer opiniões aqui presentes são empíricas, pois não obtive, ainda, dados estatísticos oficiais que me permitam fazer uma análise mais sustentada e assertiva.

Existem diversos aspetos positivos que saliento na edição deste ano. Um dos principais que destaco é o conceito do EcoEvento, que me parece estar cada vez mais consolidado. A presença de pontos de recolha de lixo diferenciado por todo o recinto, dispositivos alimentados a energia solar e sobretudo, a inclusão dos copos reutilizáveis. Este último aspeto julgo ter sido um dos mais importantes a salientar neste âmbito. De facto, a feira tornou-se um espaço muito mais limpo e asseado. O fenómeno que acontecia todas as noites de haver um “mar” de plástico espalhado pelo chão acabou. Algo pelo qual felicito a organização da Expofacic. Julgo ter trazido outros pontos menos positivos que falarei a seguir. Outro aspeto a destacar é o Espaço Gaming, que contou com mais de 50 mil visitantes. Julgo ter sido uma mais-valia e uma novidade a explorar para o futuro. Gostei especialmente da capacidade que aquele pavilhão e sobretudo o palco aí presente mostraram, criando algumas sugestões de eventos de speaking e conferências que poderão ocorrer num futuro próximo. Parece-me um ponto a explorar. A 1º Bienal de Arte da Expofacic foi outro ponto forte, que abre espaço aos diversos artistas de mostrarem o que de melhor sabem fazer e, eventualmente, proporcionar-lhes uma rampa de promoção e divulgação do seu trabalho. Para o ano, teremos outra edição certamente, mas com uma temática diferente, ou não se chamaria bienal. Outra novidade que destaco, a exposição da Força Aérea Portuguesa (FAP). Uma exposição, uma vez mais diferenciadora e interessante que contou com cerca de 130 mil visitantes, tendo a sua integração sido muito elogiada pela FAP, quanto à receção de visitantes e tratamento de toda a organização do certame. Por último, deixo a minha palavra de satisfação quanto ao marketing desenvolvido pela organização. A publicidade e a imagem da Expofacic têm estado cada vez mais fortes e consolidadas. Julgo ser um excelente trabalho da organização, um ponto forte, sem dúvida. Televisão, rádio, redes sociais e os meios de comunicação tradicionais foram muito bem geridos e uma aposta segura.

Os aspetos de melhorias que posso mencionar, alguns associados aos positivos aqui referidos, são os seguintes: Em primeiro lugar, “mais do mesmo” é a primeira expressão que me ocorre quando penso na Expofacic. É estranho, visto terem havido algumas novidades, no entanto, após viver a feira não deixo de ter este sentimento de que está tudo visto e de que as novidades são poucas. Julgo que esta sensação pode estar associada à própria organização espacial da feira e sua imagem. Elogiei a imagem da comunicação da Expofacic aqui mesmo neste texto, no entanto julgo que a imagem e marca da feira estão mais desenvolvidas nos meios de comunicação do que na própria feira. A comunicação dentro da feira deve ser mais forte. Deveriam existir pontos de pesquisa para quem não conhece o layout e disposição do certame, a própria estrutura e apresentação da feira deveria sofrer alterações, os stands e espaços públicos poderiam ser alvo de uma modernização que acompanhasse a imagem digital da mesma. Falta uma imagem moderna. Agora em setembro, irá arrancar a obra da estrada que ligará as bombas de combustível do Freixial Shopping aos Bombeiros Voluntários de Cantanhede. Esta obra irá cortar o espaço da feira na zona das tasquinhas. Embora a postura a adotar já tenha sido revelada e que consistirá em cortar a estrada nesta altura, ignorando a sua presença e apresentando a mesma organização e disposição da feira, penso que esta seria uma oportunidade para a organização do certame apresentar algumas novidades ao nível da organização do espaço. Aproveito também este aspeto para deixar a minha opinião de que me custa, como urbanista, usar um espaço tão grande e tão valioso para Cantanhede apenas 11 dias por ano. Nos restantes dias do ano, esta área não passa de um espaço expectante, cheio de potencial e completamente subaproveitado. Sou da opinião de que deveríamos investir fortemente na requalificação daquele espaço, ligar os usos existentes como o mercado e a feira, criar espaços públicos de fruição, edifícios polivalentes como o falado Auditório Municipal, algo que pudesse ter uso durante o ano e que no período da feira fosse usado e alterado. Deixarei uma opinião mais clara deste tópico no fim deste texto.

Um aspeto que considero que deva ter alguma reflexão é a questão dos copos reutilizáveis. Embora ambientalmente tenha sido uma grande mais-valia, julgo que (sustentado pela opinião de visitantes e alguns comerciantes) o consumo de cerveja, ou seja, a receita da mesma, deverá ter diminuído. Isto porque o momento da primeira compra do copo ficava caro para quem pagava, digamos “uma rodada”. Seria importante falar com as tasquinhas para que estas promovessem a devolução do copo no local e que por isso, no ato de compra nem sequer o cobrassem (postura adotada por algumas tasquinhas). Pedir e levar para o caminho era caro, e a devolução não era reembolsável.

Uma outra questão que já tem alguns anos de existência é a questão de entradas e saídas do certame. Já referi este aspeto no passado e continuo a achar que é um ponto negativo. Quando o visitante quer comprar existe alguma dificuldade em o mesmo poder arrumar as suas coisas no carro para depois poder voltar a entrar. O secretariado está preparado para isto e arranja uma solução a quem pretenda guardar as suas coisas, no entanto não é informação que chegue ao consumidor e, muito menos, ao comprador, que não informa quem compra.

Ainda associado ao consumidor, visto estarmos em altura de férias seria de considerar um horário mais amplo para os expositores. A hora a que a feira abre está muito focada no jantar e concerto. Com a afluência de pessoas, as mesmas tendem a procurar o seu espaço para jantar cedo para depois estarem livres, mas acabam por não ter muito tempo de feira e por isso, de consumo nos expositores. A opinião de alguns expositores é que de facto, o horário da feira poderia ser alargado para que durante o dia, mais pessoas comprassem no recinto. Aliado a uma boa gestão de entrada e saída, isto seria uma mais-valia para todos. Obviamente que trás custos, como a segurança, por exemplo. Mas julgo que é também por isso que o preço de entrada já não é 2,50€ há muito tempo.

Por último, o aspeto de melhoria que saliento é a presença de “Cantanhede” na feira. Julgo que o objetivo principal da feira deveria ser uma promoção do Município e de facto, tenho notado algum desprimor pelo valor acrescentado produzido cá. Temos alguns bens que nos são próprios, mas que considero estarem esquecidos ou desvalorizados. Falos sobre, por exemplo, produtos como a Pedra de Ançã ou mesmo o Bolo de Ançã, a ourivesaria e relojoaria, o leitão, entre outros produtos que nos são característicos. Penso que deveria haver mais promoção destes bens e devíamos defendê-los. Afinal de contas, são os nossos produtos.

Finalizo este texto com a minha opinião global sobre o espaço da feira. Visto que Cantanhede é uma cidade plana de geografia e organização urbana acessível, não vejo razão para a área desportiva não estar ela também incluída neste espaço. Obviamente que temos duas posturas relativamente a este assunto. Passo a explicar: se ignorarmos a existência de uma Expofacic e tendo em conta a proximidade dos equipamentos escolares e desportivos, não vejo razão para o complexo desportivo não ter sido feito na atual localização do Campo de S. Mateus. Julgo que a nível de continuidade urbana faria todo o sentido e, principalmente, para o usufruto da população. Com esta organização, as crianças poderiam sair das escolas e ir diretamente para as suas atividades desportivas extracurriculares levando as mesmas a um estilo de vida mais saudável, menos dependência do transporte dos pais e mais autonomia. Julgo também, que poderia motivar mais crianças (e pais) e praticarem desporto, simplesmente porque tudo faria parte do mesmo sistema. Obviamente que neste momento, cancelar o investimento no complexo desportivo na Zona Industrial seria um passo complicado de arrojo político, para assumir que o que fora feito em décadas passadas estaria errado. Mas na minha opinião está. Ainda considero que investir cerca de 2 milhões de euros na Zona Industrial possa ser um erro. O atual complexo já deverá ter tido um investimento que terá ultrapassado os 500 mil euros, ou seja, estaremos a falar de perto de 3 milhões no total, no entanto julgo que assumir que o investimento foi mal feito e reinvestir a verba para o complexo no centro da cidade (parque Expo-Desportivo de S. Mateus) seria uma decisão que a longo prazo iria trazer os seus benefícios e que por isso seria muito mais sustentável. A alternativa será tornar todo o percurso das escolas até à Zona Industrial mais confortável, espaçoso, agradável, seguro e luminoso, ou seja, mais urbano. No entanto, este cenário em que teríamos uma cidade bem planeada, desenhada e agradável em toda a sua extensão está muito longe de acontecer, já para não falar do investimento que teria de ser feito nesse sentido e que meu ver, simplesmente não acontecerá. As crianças nunca terão condições de se deslocarem com conforto para a zona industrial sozinhas e seguras, por forma a justificar a localização de uma instalação desportiva tão longe da cidade.

Embora veja a Expofacic como um bem valioso para Cantanhede, não deixo de pensar que os restantes 354 dias são muito mais importantes para quem cá está e que por isso o foco da intervenção deve ser nos cantanhedenses e não na Expofacic. A mesma deve existir, sem dúvida e da melhor forma possível, mas não deve sacrificar espaço urbano e decisões políticas importantes para os nossos residentes. Sabemos que uma relocalização da feira é assunto sensível, pois já se mostrou noutras cidades que deslocalizar uma feira pode danificar o sucesso da mesma, porém, o bem-estar da população residente está em primeiro lugar.

Se o “sucesso” da feira, ou seja, uma possível receita de verbas, fosse claro e resultasse num aumento de investimento no Município, ainda percebia a vontade incessante de defender a Expofacic, mas o que é facto é que não se vê dividendos líquidos da feira. A mesma paga-se a ela própria, mas não passa disso. Então, parece-me que, se a Expofacic não é mote de receita para investimento no Município estará na hora repensar os verdadeiros resultados ativos da feira e o que vale a pena ou não sacrificar em prol de quem cá vive.