A curto prazo, as expectativas para o alojamento local são “negras” e a prioridade é desenvolver um plano financeiro que permita “sobreviver até à Páscoa” de 2021, mas existem ‘planos B’ para proprietários que sentem que não têm saída.
“A nossa mensagem principal é: nós queremos, a nossa intenção e missão principal é permitir que aqueles que queiram manter-se no alojamento local, que a maior parte se mantenha no alojamento local, porque o turismo precisa disso”, afirma o presidente da ALEP — Associação do Alojamento Local em Portugal, Eduardo Miranda, em declarações à Lusa.
Contudo, Eduardo Miranda não esconde que as expectativas para o setor com a pandemia de covid-19 “são bastante negras”.
Com tudo “praticamente parado” e sem perspetivas a curto prazo para o regresso dos turistas estrangeiros a Portugal, para já a única ‘luz ao fundo do túnel’ para os cerca de 93.400 alojamentos locais registados no país (que representam quase 40% das dormidas) é o mercado nacional durante o verão.
“Pode ser interessante para começar alguma atividade, mas só em certos destinos, muito específicos, talvez em algumas praias, no interior”, defende Eduardo Miranda, reconhecendo, contudo, que o turismo doméstico é ainda uma “parcela pequena no total”, representando apenas 30% do turismo nacional.
E, acrescenta, dependendo dos destinos, essa percentagem é bastante inferior, nomeadamente nas grandes cidades como Lisboa (com cerca de 20 mil alojamentos) e Porto (com perto de nove mil alojamentos), que têm um grande peso no alojamento local e onde o turismo estava bastante direcionado para os turistas estrangeiros. Apenas o Algarve tem mais alojamentos locais do que Lisboa e Porto, existindo no distrito de Faro cerca de 39 mil alojamentos registados.
“A retoma, na verdade, é só quando começarem a reabrir as rotas internacionais. Aliás, uma parte importante do alojamento local só deve começar a ver realmente uma retoma a sério no ano que vem, na Páscoa do ano que vem”, refere o presidente da ALEP.
Por isso acrescenta, o plano para a maior parte dos proprietários, exceto para aqueles que tenham o mercado nacional como alvo, “é tentar sobreviver até à Pascoa que vem”.
“Esse é o grande desafio e a grande prioridade: é desenvolver um plano financeiro, acima de tudo, que permita sobreviver estes próximos 10 meses”, salienta o representante, considerando que, quando a retoma chegar, “o alojamento local terá até uma posição privilegiada”, porque não é uma grande estrutura e “a qualquer momento pode reabrir”.
Há 55 mil famílias diretamente dependentes do rendimento do alojamento local.
Para os proprietários que estão “numa situação difícil”, Eduardo Miranda diz que “há sempre um plano B ou mesmo um plano C”, que poderá passar pelo arrendamento de média duração, “seis meses, um ano, temporariamente enquanto isto não se resolve” — na prática, “uma primeira saída”.
“A saída para o arrendamento é uma saída já de longo prazo, já envolve uma decisão de mudança de atividade”, e começou a existir, segundo a ALEP, ainda antes da crise, principalmente da parte de pessoas que entraram no alojamento local com “uma expectativa errada em termos de trabalho, de rentabilidade, pensando na ‘galinha dos ovos de ouro'”.
“Algumas dessas pessoas já estavam a pensar mudar para o arrendamento. Agora, com esta situação, é um incentivo adicional para a tomada de decisão”, sustenta.
O presidente da APEMIP — Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal, Luís Lima, confirma que, mesmo antes da pandemia de covid-19, “já havia alguma transferência do alojamento local para o arrendamento” e que desde há um mês houve um aumento de contratos de três ou seis meses.
“Eu tenho alertado para que não façam isso, que aluguem a um ou dois anos, as pessoas têm de ser realistas e ter a noção de que se não fizerem contratos a longo prazo vai ser pior, não vão alugar por 600, vão alugar por 400, vai ser pior para eles”, adverte.
Insistindo que neste momento todo o mercado está parado, Luís Lima aconselha os proprietários de alojamentos locais a adequar os custos, alterar planos de investimento, negociar com a banca e reestruturar o pessoal, porque “há decisões que têm de tomar se quiserem sobreviver”.
“Durante um ou dois anos não vão ter a rentabilidade que tinham, têm de se convencer disso se quiserem sobreviver, caso contrário muitos não vão sobreviver”, afirma, considerando que “não adianta dourar a pílula”.
Lusa