A espada de João I vai regressar ao Mosteiro da Batalha com a exposição “Capela do Fundador – Memória revisitada”, inaugurada terça-feira, com o objetivo de recordar como foi aquele espaço durante três séculos.
“É um exercício de encontro com a História e com a memória – e connosco mesmos -, só possível com o apoio do Museu Militar de Lisboa”, explica à agência Lusa o diretor do Mosteiro da Batalha.
Joaquim Ruivo recorda que a Capela do Fundador guardou, “pelo menos até 1808, quando Domingos Sequeira passou pelo Mosteiro e os desenhou”, objetos de grande valor patrimonial e simbólico.
São os casos de um relicário com pedras preciosas deixado para trás por João I de Castela, após a derrota em Aljubarrota, a espada de João I de Portugal, a espada, escudo e elmo de João II e o elmo do príncipe Afonso, entre outros.
“A maior parte dos objetos desapareceram, sem deixar rasto. Mas outros ainda restam”, nota o diretor do Mosteiro. A partir daqueles que ainda se sabe onde estão nasceu a exposição “Capela do Fundador – Memória revisitada”, em colaboração com o Museu Militar de Lisboa.
“Este projeto reside na legitimidade de repor, pelo menos durante algum tempo, aquilo que foi daquela sala durante mais de 300 anos”, sublinha Joaquim Ruivo.
À guarda do Museu Militar há mais de cem anos, a espada que foi colocada junto ao túmulo de João I, os elmos de torneio de João II e do seu filho Afonso regressam à Capela do Fundador, numa exposição coordenada pelo especialista em armamento da época Miguel Sanches de Baena. Foram ainda produzidas reconstituições da espada de João II, “que desapareceu mas ficou testemunhada em desenhos de Domingos Sequeira e James Murphy”, bem como do escudo do “Príncipe Perfeito”, de acordo com o descrito em documentos.
Para o diretor do Mosteiro da Batalha, esta é a ocasião para “fazer o percurso inverso daquele que, ao longo dos séculos XIX e XX, por razões diversas – a começar pelas vicissitudes provocadas pela 3.ª Invasão Francesa – possibilitou o desaparecimento ou saída forçada de muito património móvel do Monumento”.
Joaquim Ruivo lembra que, a par dos objetos, foram também retirados do Mosteiro diversos altares e retábulos nos anos 30 do século XX.
“Encontram-se dispersos em vários locais do país: na Capela dos Trinas no Largo do Rato, por exemplo, ou na Covilhã, em Peniche ou aqui na Batalha, na Igreja Matriz ou ainda na Capela de Santo Antão”.
O diretor acredita que o regresso dos objetos à Batalha vai provocar “espanto, emoção, interesse, descoberta, vontade de conhecer melhor a história do monumento e a nossa História. Mas também a vontade da comunidade científica em aprofundar os estudos sobre este monumento”.
Um novo passo será dado em 2019, com a publicação do estudo sobre os objetos que integram a exposição, que visa “fazer a sua datação e atribuição mais rigorosa”.
Os estudos científicos dedicados à Capela do Fundador não ficam por aqui: está perto de ficar concluído o estudo epigráfico do túmulo de João I e Filipa de Lencastre, pela investigadora Helena Avellar, que será terminado em 2019 e contará com tradução do texto de latim para português por Saul António Gomes.
Também as cores originais da Capela do Fundador estão em investigação no âmbito do projeto “A cor”, que vai permitir conhecer em 3D as pinturas já desaparecidas.
Em paralelo, vai ter início o estudo do relógio da Torre, do final do século XV, peça atribuída a João, o Alemão, e será aprofundada a investigação geofísica que foi feita ao longo de dois anos, por especialistas das universidades de Évora, Coimbra e do Porto.
O Mosteiro da Batalha é, “até ao momento, o monumento mais densamente investigado nesta área”, frisa o diretor.
Lusa