Emigrantes brasileiras queixam-se de ser tratadas como objetos sexuais em Portugal

28.10.2022 – 

As emigrantes brasileiras queixam-se de ser tratadas como objetos sexuais em Portugal, onde este estereótipo se traduz em dificuldades no acesso à habitação e outros serviços, tendo agendado para sábado uma ação de protesto no Porto.

A iniciativa, marcada para a Praça da Liberdade, no Porto, surge após o alegado ataque de violência sexual por parte de um agente do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) contra uma brasileira que tentava chegar a Portugal como turista, mas não só.

“Não é um caso que acontece só no SEF, nem só com quem está a chegar a Portugal pela primeira vez. É uma violência quotidiana, muito comum, muito presente nas mulheres brasileiras em Portugal, e não só brasileiras”, disse Aline Rossi, coordenadora política da Coletiva Maria Felipa, que promove a ação.

“Isso tem um histórico, tem uma construção histórica em cima e é uma situação muito complexa, pode implicar violência sexual, assédio, dificuldade de acesso a serviços, nas ruas, no trabalho, na entrada no país” afirmou Rossi à Lusa.

A ativista explicou que o protesto de sábado é “contra a violação de uma mulher brasileira quando tentava entrar no país, mas também o reflexo de violências que acontecem diariamente com mulheres brasileiras em Portugal”.

E revelou que o aumento da emigração brasileira para Portugal, sobretudo nos últimos quatro anos, foi acompanhado de um aumento do “discurso xenófobo, que não é só contra brasileiros, que é reflexo de um acirramento político, de uma ascensão da extrema-direita na Europa e também em Portugal, com maior visibilidade do partido Chega, e outros muito próximos de grupos neofascistas, como o Mário Machado”.

“Amanhã é um basta a estas violências que acontecem diariamente, a um olhar que está muito enraizado na cultura, também por causa do passado colonial, de ver a mulher brasileira como um objeto sexual, um corpo público e uma mulher fácil. O estereotipo da mulher puta é uma coisa muito viva ainda hoje na cultura portuguesa”, prosseguiu.