Umas palmilhas “inteligentes” aliadas a dois interfaces – um tablet e uma plataforma online de comunicação entre terapeuta e paciente – formam a solução tecnológica SwitHome, centrada na reabilitação física após um acidente vascular cerebral (AVC), realizada em casa, com acompanhamento remoto de profissionais de saúde.
A tecnologia, que no próximo mês de Dezembro vai começar a ser testada em doentes em dois hospitais, um em Barcelona (Espanha) e outro em Groningen (Holanda), resulta de uma colaboração entre o Instituto de Sistemas e Robótica (ISR) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) e o Instituto Pedro Nunes (IPN).
A ideia surgiu em 2015, no âmbito de um projeto de investigação na área da eletrónica flexível (Stretchable Electronics), liderado por Mahmoud Tavakoli, do ISR. Ao conhecer o projeto, o IPN explorou o seu potencial de aplicação e avançou para a constituição de um consórcio que permitisse desenvolver um sistema capaz de chegar ao mercado.
Assim, a equipa alargou-se ao EIT Health (Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia), que atribuiu um financiamento de cerca de 500 mil euros ao projeto, à Fundació Privada per la Recerca i la Docència Sant Joan de Déu (Espanha), à empresa GMV Innovating Solutions, também de Espanha, ao Hospital Universitário de Groningen (Holanda) e a duas Startups portuguesas – Sword Health e SoftBionics.
O grande objetivo da solução SwitHome, que poderá chegar ao mercado em 2020, é permitir a «reabilitação em casa de pacientes que tenham sofrido um AVC. É uma tecnologia com grande impacto quer para os doentes quer para os sistemas de saúde. Por um lado, permite que o paciente consiga realizar mais horas de reabilitação no conforto do seu lar, reduzindo gastos e acelerando o processo de recuperação. Por outro, os profissionais de saúde podem tratar um maior número de pessoas com os mesmos recursos humanos, personalizar terapias e obter maior eficácia na reabilitação», frisa António Lindo da Cunha, coordenador do projeto que atualmente está sedeado no Laboratório de Automática e Sistemas (LAS) do IPN.
A partir de sensores distribuídos por toda a sola, as palmilhas, que se instalam no calçado do paciente, avaliam até 200 pontos de pressão do pé enquanto são realizados os exercícios determinados pelo terapeuta, em forma de jogo focado no equilíbrio (desenvolvido para o efeito), instalado no tablet. Em simultâneo, o sistema fornece informação em tempo real ao paciente e envia dados para o terapeuta, por via de uma plataforma Web, permitindo-lhe acompanhar a evolução da reabilitação e proceder a ajustes caso seja necessário.
O que distingue esta tecnologia que recorre a eletrónica flexível, e que o consórcio pretende alargar a sua aplicação a outras patologias, como o pé diabético, é ser «personalizada e participativa, estamos perante uma tecnologia que une o paciente ao profissional de saúde, apostando no conceito “hospital em casa”. Estima-se que esta tecnologia implique uma redução de custos de até 35%, com impacto direto nos gastos dos sistemas de saúde e na economia das famílias», conclui António Lindo da Cunha.
O acidente vascular cerebral é uma das principais causas de morte em Portugal. Em todo o mundo, anualmente, existem 12 milhões de pessoas que sofrem um AVC e sobrevivem. Dessas, duas em cada três ficam com dificuldade em andar e com alto risco de queda.