Ao segundo dia de Bienal do Livro de São Paulo, a visita de Marcelo Rebelo de Sousa fica marcada por muitas selfies e pedidos especiais dos brasileiros. No Pavilhão de Portugal, a cantora Adriana Calcanhotto leu poetas portugueses e Ricardo Araújo Pereira falou dos desencontros da língua portuguesa.
Entre um mar de gente, sobretudo de jovens brasileiros, o segundo dia da Bienal Internacional do Livro de São Paulo ficou marcado pela visita de Marcelo Rebelo de Sousa. O presidente apressou-se para a feira, depois de uma manhã reunido com o ex-presidente Lula da Silva.
Na Bienal, depois da fotografia oficial, Marcelo mergulhou na multidão, mas começou por um espaço de gastronomia, designado “Cozinhando com Palavras”. Com vivas do chef ao “presidente professor”, Marcelo foi experimentando “um croquete da Bairrada” e já de estômago cheio seguiu viagem pelos corredores cheios da Bienal.
Desafiando a segurança, deixando mesmo a equipa brasileira de segurança algo desorientada com a sua errância pelos corredores e stands da feira, o presidente foi tirando selfies, distribuindo beijinhos e ouviu repetidamente um pedido, como o que lhe foi feito por uma escritora de livros infantis.
Marcelo mais parecia uma criança numa loja de brinquedos. Aos jornalistas confessava: “Eu adoro livros! Perco a cabeça!”. Em passo apressado, o professor que já foi um dia editor explicou que “ainda” estava “na fase de ver”, mas prometeu que teria de “voltar para comprar”.
Enaltecendo a qualidade e luminosidade dos stands das editoras e livrarias, Marcelo não deixou de reparar na quantidade de jovens que passeavam pela Bienal que tem este ano Portugal, como país convidado.
Dirigindo-se para o Pavilhão de Portugal, Marcelo irrompeu pela sessão que decorria onde o público escutava a Prémio Camões, a escritora moçambicana Paulina Chiziane. O momento causou algum embaraço entre os presentes que viram a autora levar um beijo de Marcelo e a ouvirem o presidente a explicar como no passado já a tinha condecorado.
A tarde no Pavilhão de Portugal contou com várias conversas que atraíram a atenção do público. Desde um encontro entre os poetas Maria do Rosário Pedreira e Pedro Eiras, ao diálogo sobre José Saramago com os escritores José Luís Peixoto e a brasileira Adriana Lisboa – ambos vencedores do prémio Saramago, passando pelo encontro entre a portuguesa Dulce Maria Cardoso e a brasileira Noemi Jaffe.
Para falar sobre a língua portuguesa e o humor, o convocado foi Ricardo Araújo Pereira. O humorista que acaba de apresentar no Brasil vários espetáculos ao lado do humorista do coletivo Porta dos Fundos, Gregório Duvivier, falou de alguns desencontros que o português falado dos dois lados do Atlântico provoca.
“Há uma coisa que me agrada muito quando venho ao Brasil. É o constate incentivo à minha criatividade. Cada vez que eu agradeço a um brasileiro, ele responde “imagina”! E eu ‘imagino’ obedientemente! A primeira coisa que eu tenho de imaginar é o ‘i’ da palavra, porque normalmente dizem ‘magina’”, disse Ricardo Araújo Pereira arrancando o riso da plateia.
Adriana Calcanhotto leu poetas portugueses
A fechar o dia Adriana Calcanhotto participou num encontro com o poeta português Pedro Eiras. Do público saltaram as perguntas sobre o atual estado da política no Brasil, sobre casos como os da morte da vereadora Marielle Franco. Na resposta, a cantora do sucesso “Partimpim” alertou: “A gente precisa ficar vigilante”.
Adriana Calcanhotto explicou: “Uma coisa que eu entendi depois das eleições de Trump nos Estados Unidos e de Bolsonaro no Brasil, da gente perder direitos, é que depende da nossa vigilância. Está nas nossas mãos unir mais. O que está a acontecer no Brasil, o tem de mais triste é que são coisas anunciadas. Vamos responder! Ou a gente deixa, ou a gente raxa!”, comentou sendo aplaudida.
As palmas voltaram a ecoar na sessão seguinte, em que sozinha em palco, Adriana Calcanhotto leu poesia portuguesa. Entre os autores escolhidos estiveram nomes como Adília Lopes, Gastão Cruz ou Fiama Pais Brandão.