Bolsonaro diz que “pavor” em torno da pandemia mata mais do que a doença

O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, disse na noite de quinta-feira que o “pavor” em torno da pandemia da covid-19 mata mais pessoas do que o próprio coronavírus.

“Morre muito mais gente de pavor, muitas vezes, do que do ato em si [referindo-se à covid-19]. O pavor também mata, leva ao stress, leva ao cansaço, a pessoa não dorme direito, fica sempre preocupada”, disse Bolsonaro numa transmissão em direto no seu Facebook, desvalorizando mais uma vez a pandemia, no dia em que o país atingiu um novo recorde de mortos (1.188 óbitos).

Bolsonaro lamentou as mortes devido à covid-19 no país, que totalizou 20.047 óbitos na quinta-feira, mas frisou que “toda a gente morre um dia”.

“A vida está aí. Nós vamos embora um dia. A gente lamenta mais uma vez a morte de todo o mundo. A única certeza é que vamos embora um dia. (…) Mas temos que ter coragem de enfrentar. É como eu digo há 60 dias, [o coronavírus] é como uma chuva, você está aí fora, você vai-se molhar. Ninguém contesta que cerca de 70% da população vai adquirir o vírus”, disse mais uma vez o chefe de Estado.

Na sua transmissão no Facebook, que ocorre todas as quintas-feiras, Bolsonaro voltou a afirmar que pode ter contraído o coronavírus sem ter percebido, apesar de ter entregado à Justiça três testes que realizou, usando pseudónimos, e que deram resultado negativo.

“Eu não sei se eu adquiri [o vírus]. O avião que eu vim dos Estados Unidos, tinha 32 vagas e 23 pessoas apanharam. Eu não peguei. Ou então, se eu peguei, eu não senti sintoma nenhum”, reforçou o mandatário.

Jair Bolsonaro realizou os exames ao novo coronavírus após regressar de uma viagem aos Estados Unidos da América, em que pelo menos 23 pessoas da sua comitiva testaram positivo, entre eles os ministros do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, e de Minas e Energia, Bento Albuquerque, ambos com mais de 60 anos, além do secretário de Comunicação do Governo, Fábio Wajngarten.

O chefe de Estado abordou ainda o protocolo divulgado na quarta-feira pelo seu Ministério da Saúde, que autorizou a administração de cloroquina até para o tratamento de casos ligeiros de covid-19 no sistema público de saúde.

Bolsonaro afirmou que sabe “que a cloroquina não tem comprovação científica”, mas defendeu que há muitos relatos de médicos sobre pacientes que tomaram o medicamento e se curaram.

“Alguns [pacientes infetados] morrem, claro, não é todo o mundo que vai tomar o remédio e ficar vivo, mas a grande maioria fica”, declarou, acrescentando que a questão em torno do fármaco se tornou numa “luta ideológica”.

“Eu tomo Coca-Cola, quem quiser tomar cloroquina, toma”, comparou o Presidente do Brasil.

Até agora, o protocolo apenas previa o uso de cloroquina – um medicamento usado para tratar doenças como artrite, lúpus e malária e cujos efeitos em pacientes vítimas da covid-19 estão ainda a ser estudados em diversos países, incluindo no Brasil – em casos graves de infeção pelo novo coronavírus.

Apesar de o Ministério da Saúde indicar que teve em conta “diversos estudos e a larga experiência do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento de outras doenças infecciosas e de doenças crónicas no âmbito do Sistema Único de Saúde”, não há evidências científicas sobre a eficácia deste medicamento no tratamento da covid-19.

O Brasil registou 1.188 mortos e 18.508 infetados pelo novo coronavírus nas últimas 24 horas, totalizando 20.047 óbitos e 310.087 casos diagnosticados desde a chegada da pandemia ao país, informou na noite de quinta-feira o executivo.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou quase 330 mil mortos e infetou mais de cinco milhões de pessoas em 196 países e territórios.

Lusa