A residência oficial do cônsul de Portugal no Rio de Janeiro, sede do Consulado, foi invadida na madrugada de hoje e o diplomata, Luiz Gaspar da Silva, e os seus familiares foram feitos reféns, disse à Lusa fonte diplomática.
Posteriormente, os reféns foram libertados e não há registo de feridos, segundo o jornal O Globo, que noticiou ainda que a Polícia Civil já esteve no local para a realização de perícia e está agora a investigar o caso.
À agência Lusa, o embaixador de Portugal em Brasília, Luís Faro Ramos, referiu que o Cônsul e a sua família já foram libertados e “estão bem”. O diplomata confirmou também que as “autoridades brasileiras estão a tratar do caso”.
Aos agentes da polícia, testemunhas disseram que os assaltantes estavam armados e não sabiam que ali funcionava o consulado, acreditando tratar-se apenas de uma mansão.
Segundo o depoimento de uma vizinha, citada pel’O Globo, todos os reféns foram mantidos numa das divisões da residência sob a vigilância de dois dos assaltantes por cerca de 50 minutos, tendo conseguido levar do local objetos de valor.
Cônsul traumatizado, mas não sofreu danos
O cônsul-geral de Portugal no Rio de Janeiro, Luiz Gaspar da Silva, e os seus familiares estão traumatizados após terem sido vítimas de um assalto à residência oficial, mas não sofreram danos físicos, disse hoje à Lusa o vice-cônsul.
“Estão fisicamente bem (…), obviamente bastante traumatizados, como todos estaríamos, mas estão bem. Está tudo bem com a família do cônsul e não há o que reportar, quer com a família do cônsul quer com os funcionários”, disse à Lusa o vice-cônsul no Rio de Janeiro.
João Marco de Deus disse que o assalto ocorreu às 02:00 de sábado (05:00 em Lisboa) e que a família do cônsul e os funcionários foram surpreendidos pelos criminosos.
O vice-cônsul também confirmou que Gaspar da Silva e seus familiares permaneceram por algum tempo como reféns dos assaltantes.
O diplomata confirmou também que os criminosos levaram bens pessoais do cônsul e família e dos funcionários.
Solidária, a comunidade portuguesa nega surpresa com o assalto
A comunidade portuguesa no Rio de Janeiro está solidária com o cônsul, Luis Gaspar da Silva, e familiares, feitos reféns na madrugada de sábado, mas não ficou surpreendida com o assalto, disse à Lusa o conselheiro Flávio Martins.
A comunidade portuguesa, pelo menos os que falaram comigo, está com o nosso cônsul-geral e com a sua família, mas não nos surpreende. Porque isso já é um pouco daquilo a que as pessoas estão sujeitas, infelizmente, no Brasil e, particularmente, no Rio de Janeiro. Claro que assusta e preocupa a qualquer um, mas não nos surpreende, porque sabemos que a maior parte da comunidade já deve ter passado por uma experiência idêntica, em casa, na rua ou no seu carro”, disse.
Flávio Martins, presidente do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) e residente no Rio de Janeiro, lamentou o crime ocorrido no bairro de Botafogo, na madrugada de sábado.
No assalto “não houve nem exercício de violência, nem feridos, mas foram furtados vários bens pessoais do nosso cônsul-geral no Rio de Janeiro”, detalhou à Lusa o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
Fontes oficiais revelaram ainda que Luis Gaspar da Silva e a sua família “estão bem” fisicamente, mas Flávio Martins espera que as consequências psicológicas não lhes causem um “dano muito grande”
“Todos estamos solidários e esperamos que isso não lhes cause um dano muito grande, no sentido psicológico, e que saibam que o Rio de Janeiro é uma cidade boa e acolhedora, apesar de ter todas essas questões que talvez existam em todas as grandes cidades, mas que no Rio de Janeiro acabam por acontecer mais vezes”, afirmou.
“Eu imagino, por exemplo, o choque que tudo isto pode ter sido para a nossa consulesa, que está há bem menos tempo aqui no Rio de Janeiro, e até para o próprio cônsul, apesar de já estar no Brasil há mais de meio ano. É um péssimo cartão de visita que se dá a essas pessoas. Contudo, é bem mais comum do que o que se possa imaginar”, revelou.
Apesar de não ter muitos detalhes do que aconteceu durante o assalto, Flávio Martins sabe que os assaltantes imobilizaram os seguranças e, consequentemente, conseguiram entrar na residência “e ficaram ali horas, à procura de objetos valiosos que pudessem levar”, “prenderam o cônsul e a família num quarto durante algum tempo, havendo, portanto, uma situação de tortura psicológica”, que “poderia ter terminado até pior”.
Mesmo reconhecendo várias qualidades à ‘cidade maravilhosa’, o conselheiro admite que o Rio de Janeiro padece de problemas estruturais, que se refletem no aumento do crime e da violência.
“O Rio de Janeiro é uma cidade imensa, com muitos problemas sociais, muitas assimetrias. (…) porque tem uma característica em que não há bairros com determinadas classes sociais, há uma mistura muito grande e ali a região de Botafogo, onde se encontra o Palácio de São Clemente [Consulado de Portugal], é exemplo disso. Ali há moradias de classe média alta e há também, nas encostas, inclusive nas traseiras do consulado, uma comunidade muito carente, que é a favela do Morro de Santa Marta”, detalhou.
Tendo isso em conta, o presidente do CCP não acredita na versão de que os assaltantes não saberiam que estavam a assaltar o consulado, conforme relataram testemunhas.
“Eu acho que eles sabiam muito bem onde estavam a entrar e, por saberem, talvez quisessem euros ou alguma coisa assim, até porque o câmbio está hoje muito favorável ao euro (um real brasileiro equivale a 6,51 euros) e, provavelmente tivesse sido um chamariz para os assaltantes”, indicou.
A situação causa alguma perplexidade, segundo Flávio Martins, até porque “a cerca de 100 metros” está uma das sedes da prefeitura do Rio de Janeiro, que é o Palácio de São Joaquim: “Se entraram no Consulado, poderiam ter entrado, inclusive, num dos Palácios da prefeitura, onde o prefeito atende”.
“É uma cidade com muita insegurança social ainda e, talvez, agravada por toda esta situação [pandemia de covid-19], porque a economia no Brasil também não anda boa e uma coisa pode repercutir na outra, o que não justifica [o crime], mas talvez nos faça entender um pouco disso tudo”, advogou Flávio Martins.
Madremedia/Lusa