“ARTUR FRESCO: Uma entrevista na primeira pessoa…” – Final

01.3.2024 –

Artur Fresco dá pistas sobre a sua experiência governativa. Seis meses que são revisados e ficamos a conhecer um futuro próximo que pretende construir. Veja, aqui, a segunda (e última) parte dessa entrevista…

JMO – Não considera que o Centro Circular de Resíduos, localizado junto aos Armazéns da Câmara Municipal, pode vir a ser melhor aproveitado, para bem do ambiente no Concelho?

AF – Pode! Acredito. O Centro é um local onde se recolhem os resíduos que, depois, são transferidos para as empresas onde serão tratados. Nós não fazemos o tratamento. Quando os silos estão cheios, levamos ou pedimos às empresas que os venham buscar para fazerem o tratamento. Podemos alargar o horário que está relacionado com o horário normal dos funcionários dos estaleiros. Se tivessemos pessoal suficiente para fazer algum tipo de turno, podíamos considerar, por exemplo, abrir aos sábados pela manhã e as pessoas aproveitariam para entregá-los. Estamos com concursos para asistentes operacionais e, se tivermos condições, faremos o alargamento do horário e, aí considero que, mesmo não sendo num local central, as pessoas iriam lá.

JMO – Foram (e continuam a ser muitas), as críticas referente à obra na Praia de Mira. Que balanço faz sobre esse assunto, depois destes meses? Sente que a EUROVELO já está a trazer alguma rentabilidade para o comércio da Praia de Mira?

AF – Há dois aspectos que eu gostava de referir: 1) a EUROVELO e 2) as obras que foram efetuadas, mas não foram candidatadas. A EUROVELO é um projeto da CIM-RC e que passa somente em 3 Municípios que são, Cantanhede, Mira e Figueira da Foz. Achamos que a maior pista ciclável da Europa passar por Mira era uma enorme mais-valia e isso é um sentimento generalizado, pois pode trazer um outro tipo de turista que não é o “normal”. Esse traçado é discutível e foi nele que gerou uma controvérsia, pois já tínhamos uma pista que vinha do Mira Oásis e Mira Villas rumo à Praia de Mira, o que não traria grandes dificuldades nesse traçado. Nós, na altura de definição do traçado achamos que era bom que as pessoas passassem dentro da Praia de Mira. O traçado escolhido obrigou a obras extras. Esse trabalho é de fiscalização da CIM-RC. A outra parte da obra é do Município. Achamos que ficava melhor fazermos um sentido para cada lado na Avenida Cidade de Coimbra… por isso, tivemos de mexer no passeio e na faixa de estacionamento e faixa de rodagem. Com isso, melhoramos a parte pedonal e ciclável e houve opiniões de que existiu um atrofiamento da pista. Tivemos de pensar em soluções para as viaturas de emergência e, colocamos em cima da mesa a opção de nivelar o piso, pelo separador central. As condutas de águas pluviais foram refeitas (e, aqui tínhamos alguma preocupação extra). Em suma, o nivelamento ajuda no escoamento de águas e, se houver necessidade, rapidamente uma viatura de emergência pode utilizar o outro lado da pista e, tendo passado um Inverno e um Verão, segundo relatos de quem mora lá, não me parece que tenha existido algum constrangimento fora do normal em relação ao passado. Também posso adiantar que, está pensada uma nova via, junto a chamada Rotunda dos Maçaricos, que vá dar uma nova entrada para o lado norte da Praia de Mira, no sentido de contribuir para desafogar o trânsito em alturas de maior fluxo de tráfego, com a criação de sentido único para entradas e saídas.

JMO – A Praia Fluvial da Barrinha pode vir a ser uma das “marcas registadas” do seu mandato?

AF – Pode! Espero bem que sim (risos). A sério: esta é uma luta transversal a vários Executivos da Câmara. Desde a altura em que o Praia Fluvial terminou, toda a gente pensava em tê-la novamente. O facto de estar a acontecer agora não é propaganda eleitoralista. Andavamos a fazer o que era preciso e, agora a Agência Portuguesa do Ambiente anunciou, para além de outros cinco municípios… portanto, sendo uma entidade que é estranha ao município, as pessoas percebem que isso não é eleitoralismo. Fico, isso sim, muito satisfeito por essa decisão ter acontecido e, agora, cabe-nos a nós não desperdiçarmos essa oportunidade. Temos de garantir a qualidade da água, temos um plano e um projeto para apresentar para reabilitarmos aquela zona a fim de que, quando o estado do mar não possibilite, a Praia Fluvial seja uma outra opção. É uma oferta diferente que não existe em muito sítios, mas queremos que tenha todas as condições: segurança, higiene, conforto e comodidade. Por isso temos de ter apoios a quem ali fique instalado, incluindo um posto de vigilância, também. Isso, para não falar na praga dos Jacintos que não existiam no tempo da prancha… são problemas acrescidos que temos de resolver e tudo faremos para que corra bem. Nadei lá muitas vezes (risos) e também tenho uma certa nostalgia daquele tempo! As pessoas precisam, entretanto, de saber uma coisa: para isso tudo poder acontecer, há a construção de uma ETAR que temos acompanhado constantemente e, temos a garantia de que no próximo Verão a ETAR estará a funcionar. Isso vai evitar que as descargas que tem vindo a se verificar ao longo do tempo voltem a acontecer e só a partir dessa altura, poderemos fazer as operações de limpeza que a Lagoa e a Barrinha merecem. Tudo isso está interligado… 

JMO – Consegue definir 2 ou 3 pontos fortes e/ou fracos, na relação do seu Executivo Camarário com as quatro Juntas de Freguesia?

AF – Há um problema comum a todas as Freguesias: têm pouca capacidade financeira para dar resposta aos trabalhos que têm, tanto em maquinaria como em pessoal. A JF Mira tem 4 operacionais e 2 administrativas. Estamos a falar de 4 assistentes operacionais para dar resposta a grande parte do território do Município. Sei perfeitamente do que estou a falar (estive lá dois mandatos) a Junta está muito bem apetrechada de equipamentos, mas não tem condições financeiras para contratar outras pessoas. A JF Praia de Mira tem pessoal no quadro, não estará tão bem equipada em termos mecânicos, para dar resposta. A JF Carapelhos tem apenas um trator e se vê obrigada a contratar alguém para trabalhar com ele, enquanto a JF Seixo é quase o mesmo… tem algum equipamento, pouco, mas não tem pessoal no quadro para trabalhar na operacionalização. Muitas vezes são as próprias pessoas do Executivo que, nos fins de semana, dão horas da sua vida para ajudar a Freguesia. É uma realidade transversal às quatro freguesias. A JF Mira está constantemente a recurtar junto do IEFP pessoas e, se não for assim, torna-se muito mais difícil. Cada um saberá o melhor método, mas o trabalho de uma Junta de Freguesia é ingrato, pois nunca está feito… está sempre a recomeçar! Quando assinamos as Transferências de Competências, as Freguesias passaram a ter mais trabalho. Espero que os valores sejam suficientes para elas realizarem os trabalhos, ou por si próprias ou através de contratações de prestadores de serviços. Quanto às ligações institucionais da Câmara com as Juntas de Freguesia tem tido um regular funcionamento. Cada Junta tem a sua especifidade, mas estamos em crer que temos conseguido perceber as preocupações dos autarcas de forma a podermos contribuir para o desenvolvimento das Freguesias.

JMO – A população de Mira tem crescido a olhos vistos. Sente que o Município tem conseguido abarcar às famílias que, por qualquer motivo, escolheram o Concelho para viver com suas famílias? A saúde, as escolas, a habitação, a empregabilidade… estas áreas sociais estão a dar resposta a esse fenômeno? Na área da Ação Social, existe algum estudo recente que ajude-nos a perceber o alcance da pobreza escondida no território? Existe algum plano de ação para o imediato?

AF – Temos em Mira ótimas condições para receber e acolher. Um património rico, um território plano, que contribui para que o trânsito flua normalmente, áreas industriais, centro de saúde, escolas… assim, a partida temos todas as condições. No entanto, não vivemos num Município perfeito. Por isso, temos de melhorar e criar melhores condições. Portugal é um país de emigrantes e temos recebido pessoas de várias comunidades e isso é um pouco “novo” para nós darmos conta disso tudo. Em primeiro lugar, a habitação, depois o trabalho e a saúde e segurança. Notamos isso quando o número de alunos aumentou por turmas e, depois novas turmas, salas de aulas que estavam desativadas e tivemos de ativar novamente… é ótimo o crescimento escolar. Na habitação temos tido alguma inflação, mas isso é a lei da oferta e da procura a funcionar… as pessoas ficam, infelizmennte, sujeitas a isso. A nível de emprego, algumas empresas tinham dificuldade em arranjar funcionários e, agora, têm mais oferta… por isso estão satisfeitas. Em relação à saúde, compete-nos a nós, criarmos melhores condições para que essas pessoas tenham acesso a uma melhor saúde, visto que as famílias vêem acompanhadas de crianças e idosos e, como disse, isso é tudo muito recente e não é possível atender rapidamente a todos da forma como desejamos. Na habitação, através do protocolo que assinamos com o IHRU, será feito o maior investimento já realizado em Mira, cerca de 11 milhões de euros na Videira Norte, com a primeira fase, de 4 milhões de euros em 22 moradias unifamiliares e 2 blocos de apartamentos, com 8 em cada bloco. Essa oferta será a custos acessíveis e controlados. Aqueles que têm menos possibilidades terão, aqui, uma oportunidade de conseguirem uma habitação onde a inflação não irá entrar… agora, daqui até ficar pronto, vai demorar mas, Mira foi dos primeiros assinar o protocolo e, por isso, talvez sejamos um dos primeiros Municípios onde as obras começarão. Há outros Municípios que optaram por comprar e reabilitar moradias e nós já estamos nessa fase, também. Estamos a ver habitações onde possamos fazer isso e, em pouco tempo, colocá-las no mercado.

Quanto aos estudos, a nova Vereadora da área social,tem recebido muita gente, temos o Radar Social e outras ações que serão capazes de melhorar isso. Também existem aquelas pessoas que têem vergonha e preferem ficar no anonimato e, se não for pessoas conhecidas a nos comunicar das dificuldades porque elas passam, infelizmente não chegamos a saber. Percebemos, mas isso não é bom para uma resolução atempada para o problema…

JMO – As obras do Centro da Vila até agora realizadas, poderão servir de elemento impulsionador para outras zonas do Concelho?

AF – Podem e devem! A Rua Óscar Moreira da Silva e a nova artéria por detrás dos bombeiros, embora não esteja concluída, tem facilitado muito em dias de feiras e funerais. Na frente da escola, por exemplo, temos notado que as pessoas estão a respeitar as sinaléticas e o limite de velocidade, com o novo piso que faz, com seu ruído, com que os condutores abrandem… penso que a zona ficou bonita e funcional. Quanto à outras partes do Concelho, em Portomar ficará uma parte elevada entre a Pastelaria e a Peixaria, com estacionamento em espinha e passadeiras elevadas. Quando temos bons exemplos, devemos replicar noutros sítios!

JMO – Por falar em obras em curso ou que o Presidente Artur Fresco gostava de realizar… pode dar aos munícipes algumas pistas?

AF – Já que fala nisso, até nem são tão poucas, assim. Por exemplo: iniciamos a ampliação do cemitério, que deverá dar resposta para os próximos 40/50 anos; A Escola Básica receberá intervenções em todos os blocos e será criado um pavilhão coberto no local da atual área desportiva, o que aliviará toda a carga de atividades que existe no Pavilhão Municipal. Todas essas intervenções irão dar resposta às necessidades educativas e desportivas; Será criado um “cluster energético” na Freguesia do Seixo, no local onde esteve prevista a construção da Lusiaves. Esse “cluster” será maior que aquele que está em Cantanhede. Teremos energia limpa através de painéis fotovoltaicos…; O saneamento no Polo I da Zona Industrial para a condutora principal, estará pronto até ao final de Outubro deste ano, num investimento de 3 milhões de euros, que será fundamental para o Seixo, os Carapelhos e parte do Cabeço de Mira; Estamos a tratar da reflorestação devido aos incêndios de 2017, num processo conjunto com o ICNF, onde estão a ser colocados pinheiros bravo e manso. As máquinas já por lá passaram e agora, é a fase manual, realizada a pé, onde são vistos caso a caso. Esse é um trabalho exaustivo e demorado, mas que dará frutos daqui a alguns anos, quando poderemos ver a nossa floresta novamente pujante!; também está em conclusão a obra no bairro do Arieiro, em Carromeu: falta somente pavimentar parte da pista ciclável e asfaltar o estacionamento; por último, mas não menos importante, tenho de destacar os investimentos nas inúmeras infraestruturas desportivas: o campo do Touring, o sintético do Seixo, os balneários do Domus Nostra e a futura substituição do relvado do Estádio Municipal, numa aposta inequívoca de muitos milhares de euros, na área desportiva. Quanto a zona de Cavadas/Corujeira, ainda estamos a ver o que será feito (onde e como…)

JMO – E nas áreas da cultura e do turismo? Há novidades?

AF – É importante realçarmos estas áreas, também. Em Março teremos mais uma edição do “Mira à Mesa”, durante dois fins de semana. Abril, mês importantíssimo, teremos uma semana cheia de atividades referentes aos 50 anos da Revolução e, no  dia propriamente dito, o 25, teremos celebrações pela manhã e pela tarde, onde acontecerá um mega-concerto com as bandas filarmónicas e um coro intergeracional. Em Maio, o “I Favas à nossa moda” promete ser um “delicioso” programa. Junho… não é Junho sem as Marchas…. dia 15, na Praia e dia 22, em Mira, estão todos convidados!

Mas, há mais: Julho? o nosso São Tomé será grandioso e terá como novidade, o “Dia das Comunidades”, onde teremos representações oficiais das localidades com quem temos geminações:Lagny-sur-Marne (França); Payerne (Suíça ) e Differdange (Luxemburgo). Agosto é quando as localidades realizam, geralmente, as suas festividades locais e, em Setembro, a prova internacional de columbofilia, a mostra gastronómica e a prova internacional de motonáutica, irão encerrar com “chave de ouro” o Verão, que desejamos, seja vivido em toda plenitude em nosso Concelho…

JMO – Num puro exercício de auto-análise, de 0 a 5, que nota daria para esses 6 primeiros meses em que está à frente do Executivo Municipal? O que considera que, por esta altura, poderia estar melhor?

AF – (risos) Eu diria… quatro! O que poderia estar melhor? A resposta mais rápida dos serviços, nossa capacidade técnica de elaborar projetos e fazer candidaturas e a agilização da burocracia. Esses são aspectos que considero serem necessários melhorar. Temos de criar novos postos de trabalho para darmos conta das necessidades. Tudo isso se nota nas atividades das Associações, por exemplo. São muitas e com muitas atividades e isso é excelente! Entretanto, termos dois motoristas e, não termos ninguém a cobrir-lhes as folgas, é inconcebível. Não se trabalha 365 dias por ano… isso não existe! Temos de ter não dois, mas quatro, para que a resposta da Câmara seja feita sempre e com qualidade. Este é apenas um exemplo mas, no geral, estou bastante contente com o trabalho até agora desenvolvido. Esperamos, é sermos ainda melhores nos próximos tempos!

Jornal Mira Online