Arlindo chorou (de felicidade) na hora da despedida!

21.6.2023 –

Arlindo Manuel Silva de Jesus, nasceu na Figueira da Foz e foi um verdadeiro andarilho do futebol distrital e nacional. Encerrou a carreira no último domingo contra o Touring, clube que nunca representou mas que, nem por isso, deixou de lhe prestar uma justa homenagem, pois conquistou muitos amigos dentre os adversários!

Num só domingo, duas lendas do futebol de Coimbra disseram adeus às suas carreiras de jogadores. Assim como Palhinhas, no Ala-Arriba, Arlindo, no Cova-Gala também mostrou que os homens podem estar muito acima das diferenças clubísticas e construírem seus nomes à base de muita dedicação, muita luta e muito amor à camisola.

Arlindo tem 51 anos de idade, dos quais, 38 foram dedicados à paixão pelo futebol. Bom jogador, sempre foi mas, é no simples trato como ser humano que se destaca de muitos: afável, educado, brincalhão e emotivo, foi nos campos e fora deles que construiu uma imagem ímpar que ficará na memória de quem o viu jogar.

Iniciou a sua formação na Naval, aos 13 anos, tendo passado pelo União de Coimbra e retornado à Naval, da querida sua terra, a Figueira da Foz.

Como sénior jogou nos Nacionais, na antiga 2ª B, pela Naval e, depois, passou pelo Montemorense, pelo Ala-Arriba, pelo Tocha, pelo Marialvas, pelo Gândara, pelo Luso, nos Distritais de Aveiro, pelo Marialvas, novamente, pela Naval, outra vez e, finalmente, nas três últimas épocas, pelo Cova-Gala“no timming certo, um clube que preencheu meu coração!” afirma.

Arlindo tem tantos anos como futebolista como Cristiano Ronaldo tem de vida! Só isso, já dá a noção de quantos quilómetros terá percorrido por tantos campos pelados, sintéticos e relvados. Tudo em nome de um amor à bola, como tem o seu filho, de 29 anos, pelo ciclismo. A paixão pelo desporto em sua casa é algo “que se respira desde sempre” e não será fácil de ser contornada, a partir do início da próxima época, onde sobrará tempo nos domingos à tarde…

Foi esse Arlindo que o Touring, na pessoa de Pedro Cambraia, fez questão de homenagear. E foi mais uma vez ali, no Campo do Lago do Mar, que o, agora, ex-jogador, sentiu que fez a diferença no caminho de muitos, ao longo de quase quatro décadas! “Sim, nunca joguei pelo Touring, nunca fui colega de balneário do Cambraia e, por isso mesmo, sinto que acabei a minha carreira no momento certo, ciente de que deixei valores corretos e que as pessoas perceberam que sempre tive respeito pelos adversários… que nunca, jamais, foram meus inimigos!” contou, ainda emocionado com o que vivenciou há três dias atrás. “Antes do futebolista, pensei – e consegui – deixar a imagem do Arlindo homem que sentia que ainda podia dar mais qualquer coisa por mais uma época, mas que teve a convicção de que preparou-se bem durante nesta, mentalmente, a partir do instante em que decidiu que era a última como jogador…”

Afirmando sentir-se “honrado e cheio de gratidão”, Arlindo, que foi quatro vezes campeão ao longo da carreira, diz que “uma homenagem como a do Touring, camisola que nunca vesti, foi a cereja no topo do bolo” numa carreira rechada de êxitos. Êxitos, estes, que também são da esposa, que deixou-o sempre “à vontade para encerrar quando achasse melhor” e que sempre foi “uma parceira fantástica, de quem nunca faltou apoio ao longo dos anos”.

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Mas, será que o homem dos 38 anos de futebol também tem exemplos que apreciou e aprecia? Claro que sim! “Pepe, por ter chagado do nada e hoje ser mais português que muitos portugueses, é uma referência como homem e jogador… sou benfiquista, mas sou desportista e dou valor a quem tem” diz, para continuar a dar exemplos: “Lembro-me sempre do José Fonte, outro atleta que se fez grande por sua forma de ser e estar no futebol”. 

Quando questionado sobre se nomes como Palhinha, Zorro, Tiago Freitas, Pedro Cambraia e tantos outros que dignificam ou dignificaram os Distritais, farão falta na alma desses campeonatos, Arlindo deixa a certeza de que “essa malta da velha guarda vai deixar saudades, sim e, também, uma marca de respeito que cada um foi, ao longo do tempo, conquistando perante os outros… isso é salutar e deve ser referenciado, no sentido de que os jovens atletas possam seguir os passos de quem os antecedeu… todos saímos a ganhar com respeito pelos outros, mesmo enquanto a bola continua a rolar!”

Trinta e oito anos de futebol. Cinquenta e um anos de idade.

A mesma classe de vinte anos atrás – para quem o viu jogar naquela época, como é o caso deste articulista – mas, com o acrescento de ser um jogador cuja maturidade e inteligência se sobrepuseram à voluntariedade e à frescura física. Talvez por isso, Arlindo tenha deixado uma frase reveladora da sua personalidade, quando encerrou à homenagem que recebeu. “Rapazes, treinem bastante, joguem bastante, divirtam-se bastante. Quando temos trinta anos já somos velhos para isto…”

Quem disse essa frase foi um homem que chegou ao fim da linha aos cinquenta e um anos. Se isto não é um excelente exemplo de dedicação e amor à causa, o que será, então?

Jornal Mira Online