“A minha decisão, não. A decisão do doutor António Costa. Ele é que me comunicou que se ia embora”

14.12.2023 –

O chefe de Estado defende “que os portugueses têm sido muito consistentes” e considera “miraculoso” o facto de, com “o desgaste”, a Presidência conseguir reunir um “núcleo duro” de apoio.

O Presidente da República afastou esta quinta-feira qualquer responsabilidade na demissão de António Costa, que considera que Marcelo Rebelo de Sousa errou ao dissolver a Assembleia da República.

Confrontado com as declarações do chefe do Executivo demissionário, Marcelo vinca: “A minha decisão, não. A decisão do doutor António Costa. Ele é que me comunicou que se ia embora.”

Marcelo Rebelo de Sousa sublinha igualmente que a demissão de Costa foi uma decisão pessoal e que era “impossível” demovê-lo dessa ideia.

Como é que se dissuade uma pessoa que tem uma convicção muito profunda de que aquilo era a única saída correta? Era impossível”, atira, acrescentando que o mesmo afirmou que, sabendo o que sabe hoje, “provavelmente tomaria a mesma decisão”.

O chefe de Estado mostrou-se ainda despreocupado com uma eventual queda da sua popularidade, na sequência da polémica com o caso das gémeas luso-brasileiras, afirmando que, “ao fim de oito anos, a popularidade é a coisa mais volátil que há na vida”.

Marcelo Rebelo de Sousa explicou esta quinta-feira que não tinha conhecimento da existência de uma lista de doentes residentes e de não residentes em Portugal. Na comunicação que fez ao país, o Presidente aponta que se “limitou a ler documentos internos” que davam conta da posição assumida pela Casa Civil: “Deveria haver prioridade para os portugueses residentes em Portugal.”

“A minha posição naquela altura? Eu não tinha de ter posição. A casa civil toma uma posição e essa é a posição da Presidência da República”, insiste.

Sobre a conclusão da auditoria interna aberta pelo Hospital de Santa Maria acerca do eventual favorecimento no tratamento das duas crianças, Marcelo recusa comentar, destacando que “é um documento que ainda vai para outras instâncias oficiais”.

“Estar a meio de um processo numa investigação a opinar sobre um determinado documento, penso que não é adequado. Vamos esperar pelo apuramento da realidade. Se em alguma fase houve alguma ilegalidade, seja da parte de quem exerce funções públicas, seja de um privado, aí funciona a Justiça”, garante.

Questionado pelos jornalistas sobre uma possível queda da sua popularidade, Marcelo desvaloriza.

“Houve os incêndios, a popularidade desceu. Houve Tancos, a popularidade desceu. Houve a especulação sobre o que eu tinha dito sobre os abusos sexuais [na Igreja Católica], a popularidade desceu. Houve momentos altos do ponto de vista político ou diplomático, subiu”, vincou o chefe de Estado, à margem do Natal dos Hospitais, em Alcoitão.

Marcelo Rebelo de Sousa aponta por isso que as sondagens mostram “que os portugueses têm sido muito consistentes”, considerando “miraculoso” o facto de, com “o desgaste”, ainda conseguir reunir um “núcleo duro” de apoio.

“Há um núcleo crítico constante à volta dos 35%. Nos restantes 60%, há um núcleo duro que anda à volta dos 50% e os restantes são um núcleo próximo do núcleo duro”, afirma, destacando que nenhum político “faz política em função de sondagens”.

“No momento em que o Presidente tem de aceitar a demissão de um primeiro-ministro, que foi tão repentino, isso provoca uma opinião. Dissolve um Parlamento e dissolve o Parlamento nos Açores e é notícia durante dois meses, com o desgaste que isso tem, andar com um núcleo duro de 50% dos portugueses é miraculoso”, defende.

Cláudia Alves Mendes/TSF

Imagem: Infopedia