20.6.2024 –
Em plena campanha para as legislativas, o ataque de cariz sexual e racista a uma adolescente francesa, de origem judia, está a incendiar o debate sobre o crescimento do antissemitismo no país, com condenação generalizada da extrema direita à extrema esquerda.
A França acolhe a maior comunidade judia da Europa e regista um crescimento em flecha de atos antijudaicos, desde a resposta militar em força de Israel ao ataque do grupo palestiniano islamita Hamas, a 7 outubro de 2023, que provocou a atual guerra em Gaza.Só no primeiro trimestre de 2024, de acordo com estatísticas oficiais, foram recenseados “366 casos antissemitas”, um aumento de 300 por cento face a período homólogo de 2023.
Uma proposta que causou reações mornas entre os sindicatos afetos à àrea educativa. O apelo foi considerado “um golpe de comunicação” e “instrumentalização de um drama em contexto de crise política e democrática“.
Tal instrumentalização foi generalizada.
Também à esquerda, o primeiro secretário do Partido Socialista, Olivier Faure, considerou um “flagelo” o “ódio antissemita”, numa publicação na rede X. “A luta contra o antissemitismo deve realizar-se sem fraquejar e sem descanso”, escreveu.
Pretexto de campanha
Na outra ponta do espetro político face ao LFI, Marine Le Pen, líder parlamentar do União Nacional [Rassemblement National ou RN], apontou baterias diretamente à “extrema esquerda”, acusando-a de “estigmatização dos judeus desde há meses, através da instrumentalização do conflito israelo-palestiniano”.
“A agressão antissemita e a violação de uma criança de 12 anos nos Hauts-de-Seine repulsam-nos”, declarou Le Pen. “Cada um deverá ter plena consciência disso a 30 de junho e 7 de julho”, acrescentou, referindo-se às datas das eleições legislativas antecipadas no país, convocadas dia 9 de junho.
O presidente do RN, de extrema-direita, apelou ao “combate a este antissemistismo que se abate sobre a França desde 7 de outubro”. Jordan Bardella prometeu, caso seja eleito dentro de três semanas, fazer “do restabelecimento da autoridade e da ordem em cada metro quadrado do território a prioridade de ação”.
Éric Ciotti, presidente contestado da direita A República [La Republique ou LR], denunciou por seu lado “o aumento do antissemistismo no nosso país alimentado pela aliança da extrema-esquerda”.
“Atiçar o ódio”
O responsável municipal de Courbevoie, Jacques Kossowski, assumiu-se “surpreendido” com o facto do sucedido ter tido lugar na sua comunidade. “Quanto ao antissemitismo, lamento muito dizê-lo, mas quando vemos a campanha das [eleições] europeias, isso não ajuda em nada”, declarou o edil, denunciando nomeadamente o LFI e o seu recente ativismo pro-palestinano.
De acordo com fontes policiais, citadas pela Agência France Press, AFP, um dos três questionou a vítima, “sobre a sua religião judaica” e sobre Israel, perguntando-lhe porque não respondia. Também lhe chamou “porca judia”.
A adolescente terá sido levada à força para um local deserto perto do bairro de La Défense, onde foi espancada e penetrada, vaginal e analmente, e forçada a felações, referiu a polícia, acrescentando que um dos agressores filmou a cena e que outro ameaçou de morte a jovem, se ela denunciasse o sucedido às autoridades.
A vítima fez queixa e identificou os agressores. Terça-feira à noite, dois, de 13 anos, foram acusados e detidos por violação em grupo e insultos e ameaças antissemitas. O terceiro, de 12 anos, está considerado testemunha colaborante em caso de violação.
“No seu interrogatório de comparência inicial, os três menores fizeram breves declarações espontâneas, expressando simpatia para com a vítima sem abordar o seu envolvimento nos fatos”, referiu o ministério público, em comunicado.