“Basicamente, o raciocínio é tão primário como insultuoso: Fernando Medina quando precisava de exposição, Sérgio Figueiredo deu-lhe palco na TVI; Sérgio Figueiredo quando precisava de emprego, Fernando Medina contratou-o como consultor”, atira o antigo diretor de informação da TVI, explicando que conheceu atual ministro das Finanças através do canal de televisão.
E lembrou que Medina também teve espaços de opinião no Correio da Manhã e na Rádio Renascença. “Que favores deverá Medina a Octávio Ribeiro e a Graça Franco que, tal como eu, deixaram, entretanto, de liderar aqueles projetos de informação?”, questiona ainda, considerando “espantoso que, pela mais elementar regra de coerência, aquele jornal e aquela rádio repliquem e ampliem a suspeição”, quando “fizeram a opção editorial idêntica”.
Quanto ao salário, Sérgio Figueiredo salienta que esta questão teve “grande relevância nacional” pelos “cerca de 70 mil euros anuais, o que corresponde ao valor de 5.800 euros brutos por mês” que iria auferir e não é “mais do que ganha o próprio ministro”.
“Há três formas de qualificar quem confunde uma prestação de serviços (12 meses) com o salário do ministro (14 meses): incompetência, ignorância ou perfídia. Aconteceram as três coisas ao mesmo tempo. A verdade foi tão torturada que a mentira fez o seu curso. E várias vezes corrigida. Mas renascia das cinzas com “notícias” que deveriam envergonhar quem as fez, mas também quem as deixou publicar. Optaram deliberadamente pela mentira”, realça.
Sérgio Figueiredo aborda também no texto as funções do cargo a que renunciou, contestando as “duas linhas de argumentação” que não lhe reconheciam capacidades “para qualquer espécie de intervenção no domínio das políticas públicas” e “uma alegada redundância com as missões atribuídas a vários organismos que existem no Ministério das Finanças e fora dele”.
“Por ignorância ou má-fé, surgiu a conversa do “lobbying”. Como se ouvir outras pessoas ou conhecer outras opiniões relevantes da sociedade e economia portuguesa significasse fazer-lhes a vontade. Mentes perversas viram “Figueiredo a tratar dos ‘stakeholders’ de Medina”, quando o foco não estava no ministro, mas nos problemas que tem a obrigação de gerir”, frisa.
O jornal Público noticiou a 9 de agosto que o Ministério das Finanças tinha contratado Sérgio Figueiredo, sabendo-se depois que este iria receber um salário superior a Fernando Medina, que tutela a pasta, auferindo um rendimento bruto em 24 meses de 139.90 mil euros.
O antigo diretor de informação da TVI e ex-administrador da Fundação EDP tinha sido contratado como consultor estratégico para fazer a avaliação e monitorização do impacto das políticas públicas.
Ao Público, o ministério tutelado por Fernando Medina confirmou a contratação de Sérgio Figueiredo, afirmando que o antigo jornalista iria “prestar serviços de consultoria no desenho, implementação e acompanhamento de políticas públicas, incluindo a auscultação de partes interessadas na economia portuguesa e a avaliação e monitorização dessas mesmas políticas”.
O jornal avançou ainda que o contrato de Sérgio Figueiredo teria uma duração de dois anos e que antigo jornalista iria “ajudar a conceber e desenhar as políticas públicas do ministério de Fernando Medina, mas também monitorizar a sua execução e a perceção, em tempo real, que têm delas as partes interessadas”.
Nas reações à notícia da escolha de Sérgio Figueiredo, o Bloco de Esquerda criticou a escolha, o PCP referiu que a contratação tinha “critérios certamente discutíveis”, a Iniciativa Liberal acusou António Costa de “sacudir a água do capote”, o PSD pediu “explicações” ao ministro das Finanças e primeiro-ministro e o Chega quis que Fernando Medina fosse ouvido no Parlamento.
Nascido em 1966, Sérgio Figueiredo já foi diretor do Diário Económico e do Jornal de Negócios, tendo também trabalhado para o canal televisivo RTP2. Entre 2007 e 2014 foi diretor da Fundação EDP e, entre 2015 e 2020, foi diretor de informação da TVI.
Madremedia/Lusa