A comunidade portuguesa continua a acreditar que a Venezuela é um país com grande potencial e que em breve virão melhores momentos, apesar de a pandemia da covid-19 ter agravado a difícil situação económica, política e social local.
“A nossa comunidade é extremamente lutadora. Estamos acostumados a viver longe, a lutar contra as dificuldades. Somos lições de vida e de superação. Uma vez mais a comunidade portuguesa vai dar um passo à frente e as associações sempre vão estar na linha da frente”, disse o presidente da Casa do Futebol Club do Porto (Casa do Porto) em Caracas.
Alvarinho Moreira falava à agência Lusa durante um almoço de solidariedade, o primeiro desde a pandemia da covid-19, que reuniu mais de meia centena de pessoas com o propósito de recolher fundos para ajudar o Lar da Terceira Idade Padre Joaquim Ferreira.
Por outro lado, explicou que “2020, na escala de valores de 1 a 20, foi um ano muito complicado, com 20 em dificuldade, 20 em adversidade, e uma pandemia extremadamente perigosa que estragou praticamente a economia no mundo inteiro”.
“Evidentemente que vivemos num país como a Venezuela onde não já era fácil e tudo isto veio agravar mais a situação. Daí a emoção que sinto por ter, nestas circunstâncias, o apoio e solidariedade de tantas pessoas”, frisou.
Alvarinho quer que 2021 “seja diferente para melhor, um ano de paz, tranquilidade, que regresse a saúde, com essa vacina [para o novo coronavírus] de que tanto se fala, e que se possa voltar à normalidade”.
Há 43 anos na Venezuela, lamentou, no entanto, que nos últimos anos “muitos foram embora”, em particular os mais jovens, porque “entenderam que não havia futuro na Venezuela”. “Mas os que ficámos, acreditamos que este país merece que lutemos por ele”.
“Vamos ficando, aqueles mais velhos, que temos interesses para defender, que estamos aqui há 40, 50 ou 60 anos de vida e temos aqui o produto do nosso trabalho, porque acreditamos neste país e gostamos deste país”, disse.
Por outro lado, Jany Moreira, presidente da Federação Iberoamericana de Lusodescendentes, destacou o cariz social das associações portuguesas no país e a contribuição dos comerciantes e do Estado português na atenção aos portugueses, em particular os anciãos.
“Agora fazem falta muitos mais apoios, pois a Venezuela vive uma situação muito crítica na parte social e política, que com a situação da pandemia se agravou. Os nossos jovens emigraram para Portugal, a Europa e países da América Latina, mas temos uma grande estrutura associativa que assegura o que fazemos todos os dias pela nossa comunidade”, disse, precisando que muitos empresários portugueses continuam a acreditar “no futuro” do país.
Alberto Viveiros, presidente da Associação de Jovens Lusodescendentes da Venezuela, é da opinião que a covid-19 “está a deixar uma aprendizagem” à população que, no futuro, apreciará mais os momentos de convívio e o compartilhar em comunidade.
“É verdade que uma grande parte de jovens emigraram, não é menos certo que uma grande parte dos jovens estão aqui, aguentando isto, esforçando-se, porque a Venezuela merece força (apoio), a nossa ajuda. Não podemos abandonar o barco quando estão por vir melhores momentos”, disse à agência Lusa.
Viveiros disse ser ele próprio um exemplo de que muitos portugueses e lusodescendentes acreditam num melhor futuro e que estão na disposição de lutar por uma melhor Venezuela.
“Eu sou um exemplo. Estou aqui, com os meus filhos. Os meus pais estão fora (do país), não pude visitá-los devido à pandemia e tenho muitas saudades deles. Os jovens estão à espera para lutar por uma Venezuela digna, a de quando chegaram os nossos pais, cheia de valores”, disse.
Por outro lado, insistiu que todos os portugueses e lusodescendentes devem tomar precauções acrescidas com a pandemia da covid-19.
“Há que cuidar-nos. O esforço é de todos e todos fazemos falta, não podemos cair. O vírus existe, está entre nós, temos de continuar a cuidar-nos em casa, cuidando dos nossos (familiares). O que fazemos em pandemia será retribuído depois”, concluiu.
Segundo dados oficiais, na Venezuela residem aproximadamente 600 mil portugueses, um número que a comunidade portuguesa diz estar aquém da realidade, insistindo que são 1,5 milhões, incluindo os lusodescendentes.
Lusa