Apesar de se apresentar muito vantajosa para o diagnóstico precoce de múltiplas patologias, incluindo o cancro, talvez por desconhecimento, a técnica de espectroscopia Raman ainda é muito pouco aplicada na clínica. Na Europa, apenas alguns hospitais da Holanda, Alemanha e Reino Unido a utilizam.
Com o objetivo de introduzir esta técnica na clínica, mais de 150 investigadores europeus formaram uma rede de colaboração, denominada Raman4Clinics, no âmbito das Ações COST – Cooperação Europeia em Ciência e Tecnologia.
A reunião final da Raman4Clinics, seguida de uma Summer School, vai realizar-se entre 7 e 12 de outubro na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), membro da rede através de uma equipa de investigadores da Unidade de I&D “Química-Física Molecular”, liderada por Luís Batista de Carvalho e Maria Paula Marques.
Nesta reunião científica, os vários grupos de trabalho da Ação vão apresentar e discutir os avanços obtidos nos últimos três anos, bem como o impacto da aplicação da técnica junto dos utilizadores finais – médicos e pacientes, em meio hospitalar. Já a Summer School tem como foco principal investigadores em início de carreira. Assim, jovens investigadores, designadamente estudantes de mestrado e de doutoramento, irão ter oportunidade de aprender com os especialistas internacionais mais reputados da área da espectroscopia de Raman aplicada à Química Medicinal e Diagnóstico. Além de palestras, os participantes irão também ter sessões práticas “hands-on”.
A espectroscopia de Raman, identificada com o nome do cientista que a descobriu, o indiano Chandrasekhara Venkata Raman, Prémio Nobel da Física em 1930, é uma técnica ótica de alta resolução que através da incidência de radiação (luz) sobre uma qualquer amostra consegue obter informação química em poucos segundos. Ou seja, fornece informação acerca dos compostos presentes na amostra analisada.
É uma técnica «não invasiva, muito útil e vantajosa para a clínica, especialmente para o diagnóstico precoce de múltiplas patologias, nomeadamente doenças infecciosas, vários tipos de cancro de baixo prognóstico e bactérias hospitalares resistentes a antibióticos. Trata-se de uma técnica muito rigorosa que fornece informação imediata. Os doentes não têm assim que aguardar dias ou semanas pelos resultados de biópsias», asseveram Luís Batista de Carvalho e Maria Paula Marques.
É igualmente uma ferramenta «muito versátil e vantajosa do ponto de vista económico», reforçam estes especialistas em Raman da FCTUC. «Pode ser muito útil em cirurgias extremamente delicadas, como, por exemplo, uma cirurgia para remover um tumor no cérebro, em que é imprescindível ter informação em tempo real que guie o neurocirurgião, indicando-lhe exatamente o que é tecido doente e deve ser totalmente removido, e o que é tecido são e deve ser poupado», ilustram.
Questionados sobre as causas que travam a translação da técnica para a clínica, Luís Batista de Carvalho e Maria Paula Marques alegam «desconhecimento. É preciso quebrar barreiras e explicar aos clínicos que a espectroscopia de Raman evoluiu muito nos últimos anos. Por exemplo, existem atualmente aparelhos de Raman portáteis, muito versáteis para utilizar em ambiente hospitalar e no teatro operatório, e as imagens obtidas são de fácil interpretação.»
Nesse sentido, a equipa de Luís Batista de Carvalho e Maria Paula Marques tem já em curso um projeto de investigação pioneiro em Portugal, em parceria com o IPO de Coimbra. Intitulado Vibs on Cancer. O projeto, que é financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e FEDER, visa a aplicação da espectroscopia de Raman em diagnóstico médico, especificamente na deteção precoce de tipos de cancro de baixo prognóstico.
Ainda com vista à divulgação da técnica de Raman, os responsáveis pela organização da Reunião Final da Ação Raman4Clinics promovem uma palestra, no dia 7 de outubro, às 18 horas, no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, proferida pelo Prof. Peter Gardner, da Universidade de Manchester, responsável pela translação da espectroscopia de Raman para a clínica na deteção de cancro de próstata. Esta palestra é aberta a toda a comunidade.
Mais informação sobre a Ação Europeia Raman4Clinics disponível: aqui e um vídeo que ilustra as barreiras que obstam à aplicação da espectroscopia de Raman na clínica: aqui.
Em anexo fotos da equipa da Unidade de I&D “Química-Física Molecular da FCTUC que trabalha na técnica de Raman. Da esquerda para a direita:
Imagem 1: Luís Batista de Carvalho, Ana Batista de Carvalho, Joana Marques, Daniel Martín, Adriana Mamede, Daniela Guedes, Maria Paula Marques
Imagem 2: Daniel Martín, Daniela Guedes, Luís Batista de Carvalho, Maria Paula Marques, Adriana Mamede, Joana Marques, Ana Batista de Carvalho