Em desenvolvimento por uma equipa de investigadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), a ineye® é uma tecnologia que permite libertação prolongada e controlada de fármacos e outras moléculas com atividade terapêutica nas mais diversas patologias oculares.
Enquanto negócio, o projeto arrancou em 2017 com a angariação de cerca de 100 mil euros em dinheiro e serviços atribuídos no âmbito de várias iniciativas, nomeadamente, o concurso Arrisca C e o projeto Inov C que atribuiu recentemente uma Bolsa de Prova de Conceito.
Com dimensão e aspeto de uma pequena pérola, o ineye®, é um dispositivo que promete substituir a aplicação diária de gotas para olhos, por exemplo, em doentes com glaucoma ou em recuperação de cirurgias às cataratas. Trata-se de uma solução que irá facilitar a adesão à terapêutica, uma vez que bastará colocar o pequeno inserto junto ao olho, na pálpebra inferior, para dosear o medicamento de forma controlada e por um longo período de tempo.
Segundo Marcos Mariz, um dos responsáveis pelo projeto, as vantagens são inúmeras e não se esgotam na possibilidade de substituir a aplicação diária nos olhos. “Podemos imobilizar no ineye® até dois ou três fármacos diferentes em simultâneo. Em situações de pós-operatório, em que é complicado aos doentes seguir a terapêutica com gotas de vários medicamentos em simultâneo, ou em casos como os de glaucoma, que afetam pessoas de idade que revelam ter dificuldade em colocar as gotas ou em lembrar-se se já as colocaram. Nestes casos esta é uma solução que garante um tratamento contínuo, uma vez que é suficientemente flexível para ter libertações de fármacos ao longo de sete a 300 dias”.
Os investigadores acreditam ainda que esta solução pode mesmo ser uma mais-valia para a indústria farmacêutica, em países com dificuldades de armazenamento, com acontece em África. “Muitas gotas exigem refrigeração e só têm validade de um mês depois de abertas. Com o ineye®, o doente tem garantida a estabilidade do produto, fica com o tratamento garantido por vários meses e não precisa de frigorífico”, acrescenta.
Nos próximos meses decorrerá o primeiro ensaio in vivo desta tecnologia. Será avaliada a segurança e tolerabilidade do ineye® placebo (sem fármaco) em animais de companhia. O passo seguinte será a execução deste ensaio em voluntários saudáveis, num estudo que envolverá várias unidades hospitalares do país.