Um quarto dos bebés nascidos no Algarve são filhos de mãe estrangeira

Um quarto dos bebés nascidos no Algarve são filhos de mães estrangeiras, na sua maioria do Brasil, mas também de países como a Índia, Nepal e Paquistão, disse hoje à Lusa fonte do Centro Hospitalar Universitário do Algarve.

“Nós temos um historial no Algarve, que já vem desde há longa data, em que, percentualmente, cerca de 25% dos partos são de mulheres estrangeiras, o que é muito representativo”, afirmou Fernando Guerreiro, responsável pelo departamento de Ginecologia, Obstetrícia e Reprodução do CHUA.

Segundo dados da PORDATA analisados pela agência Lusa, enquanto os nascimentos em Portugal diminuíram 25,1% nas últimas duas décadas, com todas as outras regiões a acompanharem essa tendência, o Algarve aumentou 3,8%, sendo a única a aumentar o número de bebés, de 4.164 em 2001 para 4.323 em 2020 (3,8%).

Nas três maternidades da região — nos hospitais públicos de Faro e Portimão e num hospital privado, em Faro -, nascem por ano, aproximadamente, 4.500 bebés, um quarto dos quais de mãe estrangeira e, dentro deste grupo, cerca de 30% filhos de mães de nacionalidade brasileira.

“Em primeiro lugar continua a estar a nacionalidade brasileira, mas enquanto há uns anos tínhamos Roménia, Ucrânia e Moldávia, com cerca de 8 a 9%, verificamos, agora, um decréscimo ligeiro nessas nacionalidades e um aumento, sobretudo, da Índia, Nepal e Paquistão”, explicou João Guerreiro.

Segundo o diretor do serviço de Ginecologia e Obstetrícia do hospital de Portimão, o aumento de nascimentos entre estas comunidades asiáticas explica-se pelo facto de se tratar de “uma população jovem, já com um peso significativo na região” e que ali encontrou “condições para procriar” e constituir família.

“Na sua maioria, esta população trabalha fundamentalmente na agricultura, nas ditas estufas”, sobretudo nos concelhos do barlavento (oeste) algarvio, embora também vão nascer a Portimão muitos bebés de mães estrangeiras residentes no concelho de Odemira, em Beja, onde se concentram boa parte das grandes explorações agrícolas a sul do país.

Segundo aquele responsável, Portimão recebe muitas grávidas da zona de Odemira, “que teoricamente deveriam parir em Beja”, mas que recorrem à unidade de Portimão “porque as vias de comunicação e o acesso são mais rápidos”, procura que se reflete também nas consultas de Interrupção Voluntária da Gravidez, assim como noutras especialidades.

Na unidade de Portimão (barlavento), 10% dos nascimentos são de mães que residem em Aljezur, Vila do Bispo e Odemira e, na unidade de Faro (sotavento), Vila Real de Santo António e Castro Marim representam igualmente 10% dos nascimentos, quantificou Fernando Guerreiro.

De acordo com a distribuição geográfica dos nascimentos registados na região nas últimas duas décadas, Aljezur é o concelho com o maior aumento, passando de 31 nascimentos em 2001 para 57 em 2020 (mais 83,8%), seguido de Vila do Bispo (mais 58,0%), Silves (mais 36,0%) e Albufeira (mais 16,5%).

Em declarações à Lusa, o presidente da Câmara de Aljezur, José Gonçalves, considerou que o aumento de nascimentos no concelho, que é também acompanhado de uma subida nos residentes, segundo dados preliminares dos Censos2021, são sinal de “uma mudança de paradigma”, que leva as populações e jovens casais a procurar qualidade de vida em zonas de baixa densidade.

“Registamos com agrado este aumento dos nascimentos, que é sinal de que o paradigma está a mudar, acima de tudo porque hoje procura-se qualidade de vida e muitas vezes consegue-se essa qualidade nas zonas mais recatadas, de baixa densidade, e a pandemia veio potenciar esta questão.

Segundo o autarca, há “jovens casais que se estão a fixar em Aljezur, muitos estrangeiros, mas também alguns portugueses”, que escolheram aquele território do noroeste algarvio para “criar o seu próprio negócio e se estabelecerem”.

José Gonçalves atribuiu a fixação de jovens casais no concelho do distrito de Faro a atividades como a agricultura ou o ‘surf’, ambas com uma expressão significativa na zona, mas também às políticas de incentivo para atrair de jovens a Aljezur.

“Este tipo de incentivos, que têm tido nos últimos anos mais expressão, cativa os jovens casais”, considerou o autarca, dando como exemplos a aquisição de lotes a custos controlados para autoconstrução ou a disponibilização gratuita de manuais escolares em todos os níveis de ensino.

Entre as pessoas que se fixam no concelho estão as que “fugiram da grande cidade à procura de melhor qualidade de vida”, jovens que “saíram para estudar e trabalhar e estão a regressar”, mas também “quadros de empresas ligadas à agricultura” ou “nómadas do trabalho”, que com a pandemia e o teletrabalho procuram locais afastados das grandes cidades para se estabelecerem.

Contudo, avisou o autarca, há também “desafios” que surgem com este aumento populacional, como os preços das casas para arrendamento ou a falta de trabalhadores em áreas como a restauração, hotelaria ou construção civil.

“Temos de procurar soluções de casas com rendas a preços acessíveis para poder fixar todo um conjunto de pessoas de várias áreas, porque há uma dificuldade grande de conseguir gente para trabalhar”, concluiu.

Lusa