Mais de uma dezena de hospitais têm menos de metade dos médicos anestesistas que deviam ter. Falhas afetam todos os serviços públicos de saúde.
Todos os hospitais públicos do país têm falta de médicos anestesistas. O diagnóstico é dos próprios diretores de serviço num estudo a ser publicado na revista científica da Ordem dos Médicos a que a TSF teve acesso
O défice chega aos 47%, mais 5 pontos percentuais que em 2014. Estão ao serviço 1.158 anestesistas, faltando 541 no Serviço Nacional de Saúde. Há, contudo, regiões e hospitais onde a falta é muito maior que a média nacional.
No Algarve, por exemplo, há apenas 20 anestesistas para toda a região, número que sobe para 28 no Alentejo mas continua a ser claramente insuficiente.
Apesar de em todas as regiões do país existirem défices, é no Alentejo e Algarve que há mais falhas. Em ambas o número de médicos desta especialidade, fundamental para cirurgias, exames e outro tipo de intervenções médicas, é menos de um terço daqueles que deviam existir de acordo com as normas internacionais da área.
Vários hospitais têm menos de metade dos anestesistas que deviam ter
O estudo revela que o défice de anestesistas atinge os mais de 50 hospitais, centros hospitalares ou unidades locais de saúde do Serviço Nacional de Saúde.
Há, contudo, falhas enormes em 12 instituições hospitalares que deviam ter o dobro ou mais dos anestesistas que têm.
Por exemplo, o Centro Hospitalar Lisboa Norte (onde se inclui o Santa Maria e o Pulido Valente) tem 49 anestesistas no serviço e devia ter 98.
Os hospitais da Figueira da Foz, de Santarém, Garcia de Horta, de Faro, do Barlavento Algarvio e do Funchal, tal como os centros hospitalares do Nordeste e da Cova da Beira também deviam ter cerca do dobro dos médicos a trabalhar nesta área, mas há casos ainda piores: no Centro Hospitalar do Médio Tejo ou em todos os hospitais alentejanos o número de anestesistas devia ser o triplo ou mesmo, num caso, o quadruplo daquela que é a realidade.
O estudo também revela que muitos dos médicos anestesistas saíram nos últimos anos dos hospitais públicos para o privado ou estrangeiro. Por outro lado, um terço dos jovens recém-formados não vai para o serviço público de saúde e há falta de condições competitivas para os atrair para o Serviço Nacional de Saúde.
Médicos alertam para atrasos nas cirurgias, mesmo na área oncológica
O presidente do Colégio de Especialidade de Anestesiologia que é, também, um dos dez autores do artigo a ser publicado na revista Acta Médica Portuguesa, admite que os resultados a que chegaram preocupam, mesmo que seja difícil perceber as consequências nos cuidados de saúde pois muitas falhas são compensadas com muitas horas extra e médicos tarefeiros.
Paulo Lemos argumenta, contudo, que os resultados a que chegaram são ainda mais inquietantes porque há três anos fizeram um estudo semelhante que mostrou resultados que não eram piores, ou seja, a melhoria foi nula.
O Bastonário da Ordem dos Médico, Miguel Guimarães, defende que os resultados do estudo são preocupantes e está convencido que esta falta de anestesistas tem consequências na saúde dos portugueses, nomeadamente nas muitas cirurgias que são feitas fora dos tempos máximos aceitáveis de resposta, nomeadamente na área do cancro.
O presidente do Colégio de Especialidade destaca ainda que estes números são mais frustrantes porque a capacidade de formação na especialidade aumentou nos últimos anos e mesmo assim o défice agravou-se no Serviço Nacional de Saúde. Paulo Lemos argumenta que os concursos de admissão demoram eternidades a serem abertos, afastando os jovens médicos para o estrangeiro ou para o privado.
TSF