Várias empresas tecnológicas estão a mudar-se para a Baixa de Coimbra, com a expectativa de que o movimento possa contribuir para regenerar e reabilitar uma zona histórica que perdeu parte da sua dinâmica nas últimas décadas.
Uma das maiores tecnológicas de Coimbra, a Critical Software, anunciou em 2018 que iria mudar a sua sede, com capacidade para 550 pessoas, para o Arnado, na Baixa de Coimbra.
Antes, já a Nest Collective tinha apostado na compra de dois prédios no Largo das Ameias. Lá perto, instalou-se recentemente a Loop Company, na Praça do Comércio, local onde também está sediada a BetterTech.
Há um movimento de aposta das empresas tecnológicas na Baixa de Coimbra e todos afirmam que essa decisão tem um lado emocional, no sentido de tentar devolver àquela zona da cidade a dinâmica que já teve.
“A razão e a emoção estão sempre presentes quando tomamos decisões importantes. Queremos muito habitar os centros das cidades”, afirmou à agência Lusa o responsável da Critical Software, Gonçalo Quadros, que espera ver concluída a sede no primeiro semestre de 2021, aproveitando o antigo edifício da Coimbra Editora.
Uma das razões para a mudança da sede da Critical Software (que vai manter as instalações em Taveiro) prende-se com a vontade de querer ajudar “a requalificar uma baixa que já foi um sítio mágico e que hoje precisa de qualquer coisa para voltar a sê-lo”, disse Gonçalo Quadros.
“A confirmar-se esta tendência, isso pode mudar a cidade e pode mudar a Baixa. O facto de estarem empresas a trazer pessoas mais novas e mais criativas para o centro vai contaminar tudo à sua volta e ajudar a construir um ecossistema”, sublinhou Gonçalo Quadros.
O Nest Collective, que é um híbrido entre incubadora e espaço de acolhimento de empresas tecnológicas, arrancou em 2015, apenas com sete pessoas a ocupar um espaço de escritórios no centro comercial Avenida.
Em 2017, face à procura de espaço por parte de empresas, o Nest Collective decidiu avançar com a compra de dois prédios no coração da Baixa de Coimbra, junto à estação de comboios, com recurso a capital privado de familiares e amigos, explicou à Lusa um dos responsáveis do coletivo, Miguel Antunes.
Ali, recuperaram já um dos prédios, com capacidade para 100 pessoas.
Com o arranque em fevereiro, o edifício já tem 80% das salas ocupadas, disse Miguel Antunes, referindo que o outro imóvel colado àquele terá capacidade para 40 a 50 pessoas.
“Se quiséssemos fazer uma coisa destas em Taveiro, o preço por metro quadrado seria mais baixo”, nota, frisando que a opção de ir para a Baixa foi “uma decisão emocional”.
“Queremos ajudar a renovar o tecido da Baixa, que ainda está a precisar de muito trabalho nesse sentido”, referiu.
No entanto, Miguel Antunes nota alguns constrangimentos neste movimento, nomeadamente a especulação imobiliária que já se faz sentir no Centro Histórico da cidade, que pode servir de travão à instalação de outras empresas.
No caso do Nest Collective, isso já aconteceu: quando optaram por comprar os dois prédios junto ao Largo das Ameias, mostraram também interesse num edifício vizinho, mas o preço pedido pelo proprietário “era mais de quatro vezes o valor pelo qual tinha sido adquirido”.
“Não era um valor realista”, notou Miguel Antunes.
Também o presidente da Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC), Vítor Marques, constata que o aumento do valor das rendas tem inibido a instalação de mais negócios naquela zona e que a reabilitação de prédios habitacionais está mais virada para o alojamento local.
Apesar disso, considera que este movimento de empresas tecnológicas pode ser um fator fundamental para a revitalização do Centro Histórico.
Também o Instituto Pedro Nunes (IPN), incubadora por onde já passou a Critical Software, sentiu a pressão imobiliária na Baixa de Coimbra.
Numa sondagem feita recentemente de forma informal, os preços encontrados para imóveis na Baixa eram “proibitivos, na casa dos milhões e a precisar de outros milhões para serem recuperados”, contou à Lusa o vice-presidente do IPN, Paulo Santos.
Apesar disso, o IPN, que está localizado no Pinhal de Marrocos, pretende crescer para fora daquela zona, e acompanha “com bastante atenção” o movimento que está a ser feito no centro da cidade, afirmou.
“Na fase adulta [das empresas], o objetivo é alimentar quer a Baixa da cidade, quer o Coimbra Inovação Parque”, referiu, considerando que a Baixa poderá ser um espaço mais apetecível para pequenas e médias empresas associadas às tecnologias de informação.
Entretanto, já está também em funcionamento o Cowork Pátio, edifício municipal no Pátio da Inquisição, que abriu há três meses e que conta com uma taxa de ocupação de 40% dos 30 postos disponíveis, informou a Câmara Municipal de Coimbra, em resposta à Lusa.
Em Março, foi a vez da Loop Company, com cerca de 40 trabalhadores, inaugurar a sua sede na Praça do Comércio, no antigo edifício das Galerias Coimbra, tendo três andares para escritórios da empresa e os outros dois ocupados por um bar, barbearia e loja de tatuagens, para haver “uma mistura de atividades” no mesmo espaço, contou o cofundador da empresa, Bernardo Parreira.
Com 21 anos, o jovem natural de Coimbra assume que sempre teve vontade de fazer a sua parte para dar vida à Baixa.
“Eu nunca vi a Baixa com a vida que dizem que tinha. Sempre ouvi dizer que isto estava mal e, para mim, era um sítio sem vida. Com esta mudança, estamos a dar um pequeno passo para que a Baixa tenha a vida que eu nunca vi aqui”, disse.
Lusa / Madremedia
Foto: UVE