Depois da pausa do período carnavalesco, o Ciclo de Teatro Amador do Concelho de Cantanhede regressa este fim de semana aos palcos com espetáculos em Vila Nova, Pocariça, Sanguinheira, Febres e Franciscas.
No sábado, 9 de março, a Bombarda – Companhia de Teatro, de Vila Nova de Outil, faz a sua estreia com uma atuação de rua no Largo das Árvores, bem ao jeito daquele que é o seu registo. Fernão Mendes Pinto, “A Crónica”, da autoria de Nuno Marques e Cláudio Monteiro, pretende revisitar “A Peregrinação”, primeira grande narrativa de viagens escrita em português pelo aclamado cronista nascido em Montemor-o-Velho. As suas expedições pelo Japão e pela Índia, onde foi marinheiro, senhor, escravo, escritor e corsário, são contadas na primeira pessoa naquela que é considerada uma das mais valiosas obras literárias sobre a presença dos portugueses no oriente.
Também no sábado, à mesma hora, o Grupo de Teatro, Arte e Cultura da Pocariça apresenta na sua sede “A Loucura é Lúcida”, peça num registo de irreverência que suscita várias questões que ultrapassam o mero divertimento. Numa nota, os encenadores Miguel Matos e Paulo Silva referem: “Eu sou lúcido na minha loucura, permanente na minha inconstância, irrequieto na minha comodidade. Pinto a realidade com alguns sonhos, enxerto sonhos em cenas reais. Choro lágrimas de rir e quando choro para valer não derramo uma lágrima. Todos eles falam a minha inconsciência. O abismo é real.”
Igualmente no sábado, às 21h30, o Grupo de Teatro “Renascer”, da Sanguinheira, estreia no Salão Paroquial da localidade uma adaptação da peça “Aqui há Fantasma”. A ação decorre numa casa senhorial abandonada após o assassinato de um criado. O professor Hermes procura testar o produto de uma investigação de muitos anos: a pílula da coragem. Para isso desafia um jovem medroso a passar a noite na velha mansão, assombrada sim mas pelo criado do investigador. O pior é que… vai ser um serão de morrer de rir pelos equívocos gerados por tal artifício.
Ainda no sábado, o Grupo de Teatro Amador da União Recreativa de Cadima cumpre a sua jornada de itinerância no ciclo de teatro no pavilhão Multiusos de Febres com a representação de duas comédias de Anton Tchekhov. “O Urso” é uma trama amorosa que envolve uma viúva e o seu criado, a partir da qual se expõem os valores de uma sociedade de moral rígida e repressiva num registo de comédia de costumes. “Um Pedido de Casamento” é uma farsa em que o poder, estatuto social, dinheiro e vaidade geram uma série de mal-entendidos quando Ivan decide pedir a mão de Natalia, sua vizinha, filha do Coronel Tchubukov.
Finalmente, no domingo, 10 de março, às15h30, é a vez do Grupo de Teatro da Associação do Grupo Musical das Franciscas estrear a peça “Oh Mamma Mia!!!”. Trata-se de uma adaptação ao teatro musical de Dora Jesus a partir do filme homónimo. Sofia, uma menina cuja infância atribulada a fez crescer sem conhecer o seu pai, no dia do seu casamento envia convites a três pessoas que, conforme indicações do diário de sua mãe, poderão ser o seu progenitor. Todos respondem ao convite, na esperança de se reencontrarem com a mulher das suas vidas.
Bombarda – Companhia de Teatro
A Companhia de Teatro e Recriação Histórica Bombarda, constituída como associação sem fins lucrativos em 10 de maio de 2018, é um grupo de atores e artistas profissionais e amadores, na maioria descendente de Vila Nova de Outil, localidade desde há muito ligada ao teatro, onde a vontade de representar tantas vezes se confunde e se iguala à vontade de viver. Recriação histórica, teatro de palco, teatro de rua, animação circense, animação musical, entre outros espetáculos são certamente performances que, através da interação direta e indireta com o público, fazem com que cada momento artístico seja único e intenso, e que permite um despertar de sentimentos através da ação, em palco ou na rua, com uma grande componente lúdica. É a sua estreia no Ciclo de Teatro organizado pelo Município de Cantanhede.
Sobre o Grupo de Teatro, Arte e Cultura da Associação Musical da Pocariça
O teatro na Pocariça remonta ao ano de 1895, quando começaram a ser feitas várias representações por um grupo de amadores de Coimbra. Um dos elementos deixou o grupo e decidiu organizar uma sociedade dramática, apenas constituída por amadores da Pocariça, que foi designada de Recreio Artístico. Apesar da saída de alguns membros do Recreio Artístico pouco depois da sua fundação, o agrupamento ainda subiu ao palco em fevereiro de 1896.
Em 14 de julho desse mesmo ano nasceu outro grupo de teatro amador, que foi batizado de Sociedade Dramática Pocaricense e que teve a sua estreia com a peça “Os Milagres de Santo António”.
Um novo grupo dramático foi constituído em 1909 com o objetivo específico de angariar fundos para a construção de uma casa de teatro na Pocariça. Constituído exclusivamente por elementos da localidade, este grupo exibiu as primeiras peças em abril, como a opereta intitulada “Canto Celestial” e outras peças, entre as quais um original de José Gomes Lopes, intitulado “Milagres de Amor”, o mais recordado de todos. Com a receita destas peças e com o produto de uma subscrição pública foi possível instalar um palco, camarins, vários cenários pintados e ainda pano de boca de cena.
Em abril de 1914 foi representada a última récita, uma vez que, pouco tempo depois, o prédio teve novo dono e desapareceu assim o “passatempo” de representar peças teatrais.
O Grupo Cénico da Pocariça surge já na década de 1950, sob orientação de Mário Pereira da Silva. Aí se revelaram nova vaga de atores amadores de grande vocação artística.
Para manter viva esta tradição ligada ao teatro amador, foi criado em 2000 o Grupo de Teatro, Arte e Cultura, no seio de outra coletividade de referência, a Associação Musical da Pocariça. A inspiração para este grupo está ligada ao trabalho artístico da atriz de teatro musical que conquistou fama a nível internacional, Auzenda de Oliveira, nascida na Pocariça em 1888.
O Ciclo de Teatro Amador do Concelho de Cantanhede, organizado pelo Município, serviu também de pretexto para trazer de volta a atividade teatral e de lhe dar um caráter sistemático e regular.
“Saudades da minha Terra” foi o primeiro êxito desta formação mais reduzida, mas também a opereta “Entre Duas Avé Marias”, peça dos anos 1950, ajudou a cimentar a reputação deste coletivo.
O Grupo participa ininterruptamente no Ciclo de Teatro Amador do Concelho de Cantanhede desde a sua 4.ª edição em 2001-2002.
Sobre o Grupo de Teatro Renascer da Sanguinheira
O Grupo de Teatro Renascer é uma secção do Centro Social de Recreio e Cultura da Sanguinheira (C.S.R.C.S.), a associação com atividade cultural (organizada) mais antiga da Freguesia da Sanguinheira, estreando-se ao público pela primeira vez em 26 de março de 1981.
O Grupo surgiu da vontade de um conjunto de jovens representar. Iniciou a sua atividade nessa altura para não mais cessar e levar continuamente a palco, todos os anos, peças de autores consagrados, como também algumas escritas por elementos ligados ao grupo, tanto da Sanguinheira como de outras localidades.
Para além das peças de teatro, que tem apresentado publicamente durante os largos anos de existência, os elementos do grupo também participaram em várias edições da Feira Medieval de Coimbra, como figurantes, e entre os seus associados encontramos os fundadores da primeira associação da Freguesia da Sanguinheira (C.S.R.C.S.).
Sobre o Grupo de Teatro Amador da União Recreativa de Cadima
O Grupo de Teatro Amador da União Recreativa de Cadima (URC) nasceu por iniciativa da direção da URC, no ano 2000. Na sequência da informação recebida por esta associação da realização do II Ciclo de Teatro, promovido pela Câmara Municipal de Cantanhede, a direção decidiu contactar e convidar algumas pessoas com anterior experiência de palco, em Cadima. É dessa forma que o Grupo de Teatro renasce já que, até meados da década de 1980, se ia fazendo algum teatro na coletividade.
Habitualmente, o grupo não recorre a textos próprios. Farsas são o tipo de peça que mais agrada levar à cena. Contudo, e em virtude das dificuldades em encontrar peças deste cariz, cujo conteúdo agrade aos elementos do grupo, tem levado à cena vários dramas, mas também pequenas comédias. É essencial, qualquer que seja o estilo de peça levada à cena, que o texto transmita uma mensagem.
Em 2008, pela dificuldade já mencionada em encontrar peças, o grupo decidiu não integrar o Ciclo de Teatro Amador do Concelho de Cantanhede, mas não deixou de receber um dos grupos que estava nele inserido. No mesmo ano, e para não parar a atividade, realizou uma “soirée” com declamação e teatralização de vários textos em prosa e poesia.
Para além das atuações no Ciclo de Teatro, o grupo tem aceitado convites para apresentar o seu trabalho por parte de coletividades do Concelho e fora deste, designadamente Cordinhã, Caniceira e Canelas, em Vila Nova de Gaia, com as quais tem partilhado enriquecedoras experiências, contributos relevantes para a própria dinâmica que o grupo tem assumido.
No ano 2006, um grupo de teatro da Escola Pedro Teixeira acompanhou o grupo nas suas atuações com uma peça da sua autoria.
Sobre o Grupo de Teatro da Associação do Grupo Musical das Franciscas
Remonta a largos anos atrás o envolvimento da população das Franciscas nas atividades das artes de palco, havendo dados que referem representações de 1931 como uma atividade bem expressiva da comunidade local, que com grande brio preparava as diversas atuações públicas. Esta prática manteve-se até 1960, sensivelmente, ao que se seguiu um período menos ativo.
Mas a paragem foi meramente pontual, pois a vontade, a arte e o engenho que caracteriza as gentes das Franciscas não tardou em voltar a manifestar-se, tendo a atividade teatral sido recuperada por volta de 1970, permanecendo em plena expressão até ao ano de 2002. O Grupo de Teatro da Associação do Grupo Musical das Franciscas foi um dos pioneiros no Ciclo de Teatro Amador de Cantanhede que o Município de Cantanhede iniciou em 1998.
Posteriormente, por dificuldades várias, voltou a ausentar-se em algumas edições, mas regressa agora, que está concluída grande parte das obras da sede social, com motivação acrescida e renovada dos seus corpos sociais.
Conforme referem os responsáveis, o grupo volta a aparecer em cena com pujança e vontade de fazer perdurar o legado cultural herdado de outros tempos e que se mantém com a predisposição natural da população das Franciscas para a representação teatral.