Vários concelhos do Alentejo e da Beira Interior podem chegar a agosto sem água para a população. É preciso procurar fontes alternativas e parar de regar espaços verdes.
No final de junho cerca de 80% do território estava em seca severa ou extrema. E 18 das 60 barragens do Continente iniciaram o verão com menos de metade da água que conseguem armazenar.
São números como os anteriores que levam o Secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins, a admitir, em entrevista à TSF, que estão a confirmar-se os piores receios que tinham há alguns meses: “De uma forma geral no país há motivos de preocupação e sobretudo na Bacia do rio Sado o caso já é mesmo muito preocupante”.
Os números do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos revelam que as dez albufeiras do Sado têm todas muito pouca água (abaixo dos 40%). Em algumas o valor ronda mesmo os 20% e o tempo quente ainda mal começou.
No resto do país a situação é melhor, mas praticamente todas as albufeiras têm menos água que a média histórica com algumas a apresentarem, também, valores muito baixos para esta altura do ano.
O governante diz que “é preciso tomar medidas de contenção de consumos, criar regras e sobretudo alertar para a situação gravíssima que estamos a viver”, reunindo com os municípios que serão mais afetados.
Carlos Martins admite que além do Sado há uma zona da Beira Interior, perto da fronteira, que também pode chegar a agosto sem água para as populações se não forem tomadas medidas de imediato.
Parar de regar espaços verdes
A identificação concreta dos concelhos com mais problemas ainda não está feita, mas Carlos Martins explica que perante este cenário o governo vai de imediato ativar a Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca, criada há pouco mais de um mês pelo Concelho de Ministros. Em paralelo, será nomeada e respetiva comissão técnica de apoio.
O governo promete ainda fazer rapidamente um plano de contingência para enfrentar a seca e evitar consequências mais graves a meio do verão. Na próxima semana começam as reuniões com agricultores, responsáveis pela gestão das albufeiras e os municípios que se prevê que tenham mais problemas no abastecimento de água.
O governo quer nomeadamente que nas autarquias mais afetadas se comecem a procurar ou reativar antigos furos de água que substituam o abastecimento que atualmente é feito, mas também que os municípios parem de regar espaços verdes.
O Secretário de Estado do Ambiente sublinha que é preciso definir prioridades e que “ninguém iria perceber que andássemos a regar rotundas numa altura em que há restrições de abastecimento à população ou ao gado. As rotundas não ficam com a mesma beleza… mas não são prioritárias”, conclui.
Arroz é a primeira vítima da seca
No Vale do Sado os mais afetados pela seca são por esta altura os produtores de arroz que com pouca água tiveram de reduzir a produção (e consequentemente a receita) em 30%.
O representante dos produtores da zona, João Reis Mendes, sublinha que este é o terceiro ano seguido em que são afetados pela seca. Portugal vai acabar 2017 a importar ainda mais arroz que aquele que consome.
Mais longe da Bacia do Sado, a Federação das Associações de Agricultores do Baixo Alentejo também recorda que os últimos anos já foram de seca e de graves dificuldades na alimentação dos animais, algo que se vai agravar neste verão de 2017.
Recorde-se que o Instituto Português do Mar e da Atmosfera alerta que no final de junho cerca de 80% do território estava em seca severa (72,3%) ou extrema (7,3%). Depois de um inverno com pouca chuva, a primavera também foi muito quente, seca e com uma chuva que apenas correspondeu a 75% do valor médio histórico para estes meses do ano.
Fonte: TSF
Foto: Carlos Santos/Global Imagens