Autoridade Nacional de Proteção Civil resume aquilo que justificou a expansão violenta dos fogos de outubro. Comunicações foram um dos três pontos fracos.
Falhas nas comunicações, falta de medidas de proteção de pessoas e bens, mas também a impossibilidade de chegar a muitos locais afetados pelas chamas. São estas as três principais razões que para a Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) justificam os fogos que a meio de outubro varreram o país nos maiores incêndios de sempre.
O resumo dos principais problemas para a ANPC está num documento, a que a TSF teve acesso, entregue aos peritos da Comissão Técnica Independente nomeada pelo Parlamento quando estes estavam a fazer o relatório sobre os incêndios de 14 a 16 de outubro.
São apenas quatro páginas que além dos já muito discutidos meios que alegadamente terão sido pedidos e não aprovados pelo governo sintetizam todos os outros problemas vividos naqueles dias pela Proteção Civil nacional.
Durante a primeira página a ANPC destaca as previsões de tempo quente que levaram a pedir mais meios ao governo mas também aos militares: “Com especial enfoque a partir do dia 13 de outubro, foram encetados contactos, inclusive telefónicos, com os Oficiais de Ligação da GNR e das Forças Armadas para solicitar o reforço do patrulhamento armado e dissuasor, bem como a disponibilização do efetivo possível para ações de combate, rescaldo e vigilância”.
Apesar de todos os esforços, a ANPC garante que os incêndios florestais em várias zonas do país de 14 a 16 de outubro foram “uma ocorrência absolutamente excecional com um comportamento imprevisível e gerador de intensidades de tal forma elevadas que, por vários períodos, os colocaram acima de qualquer capacidade de extinção, impedindo qualquer capacidade de antecipação por parte do dispositivo de combate face à velocidade com que se desenvolveram”.
Aquilo que falhou
No entanto, além da questão dos meios pedidos ao governo e que não foram dados, bem como da força das chamas, os responsáveis da ANPC admitem que existiram outras três grandes falhas.
Em primeiro lugar, falhas nas medidas de proteção de pessoas e bens nos aglomerados populacionais, casas isoladas e outras infraestruturas sensíveis, sobretudo devido à pouca limpeza das florestas ou acessos, sem espaços seguros.
Depois, “as ações de combate e socorro foram condicionadas pela impossibilidade de acesso a muitos dos locais, motivada quer pela violenta expansão dos incêndios quer pela necessidade de salvaguarda da integridade dos meios de combate e de socorro”.
Falhas no SIRESP repetiram-se em outubro
Finalmente, é apontado o dedo às múltiplas falhas nas comunicações que agravaram as consequências de incêndios que, recorde-se, mataram 49 pessoas e queimaram mais de 200 mil hectares, quase tanto como em todo o resto do ano.
Fonte da Proteção Civil nacional confirma à TSF essa análise e adianta que além das falhas nas redes de telemóvel o SIRESP teve, de facto, falhas muito semelhantes ao que aconteceu em junho. Sobretudo durante cerca de meia dúzia de horas na fase mais quente do combate a partir do início da noite de 15 de outubro quando as chamas andaram mais rápido e o SIRESP teve falhas intermitentes que obrigaram a mover constantemente as antenas móveis.
“Reparava-se de um lado e agudizava-se do outro num pingue-pongue com antenas de um lado para o outro”, explica a mesma fonte, “muito semelhante ao que aconteceu em Pedrógão”.
Comissão Técnica admite falhas no SIRESP mas não as desenvolveu
Apesar de ter criticado muito o desempenho do SIRESP nos fogos de Pedrógão Grande, em relação a outubro o relatório da Comissão Técnica Independente do Parlamento fala muito pouco das falhas da rede de comunicações de emergência.
Um dos peritos que esteve com a parte do combate no relatório adianta à TSF que de facto, durante a realização do relatório, tiveram muitos comandantes a queixarem-se das falhas no SIRESP, mas não desenvolveram essa parte ou a analisaram, apenas reproduzindo, num dos capítulos, as críticas dos bombeiros.
Duarte Caldeira fala numa opção metodológica de trabalho pois as falhas do SIRESP foram altamente desenvolvidas no primeiro relatório sobre Pedrógão Grande e pouco tinha mudado nessa área.
O membro da Comissão Técnica adianta que “a natureza das falhas do SIRESP em junho e outubro foi a mesma”.
Recorde-se que na semana passada foi notícia no jornal Público que o governo ainda não fez o levantamento das falhas do SIRESP em 2017,um trabalho fundamental para multar a empresa que gere o sistema de comunicações de emergência do Estado.
Nuno Guedes (TSF)