27.10.2022 –
A Gândara é região de autores de renome. Quem já o leu, sabe que Silvério Manata é um deles…
Ali, na sua casa enorme e espaçosa localizada na simpática aldeia de Carapelhos, o autor de “Comboio na Duna” que terá a sua mais recente e premiada obra apresentada no próximo Sábado, dia 29 de Outubro, nos Palheiros de Mira – Museu e Posto de Turismo da Praia de Mira recebeu o Jornal Mira Online para contar um pouco da sua vida e da sua vasta obra literária.
Defindo-se como pertencente a “uma geração medieval” – nasceu em 1959 e, como tal, vivenciou a dura vida de antes e o depois do Dia da Liberdade… as mudanças que ocorreram em muitas áreas – “tinha 14 anos quando se deu o 25 de Abril”, Manata estabeleceu-se, por conta do seu trabalho em ourivesaria, tendo sido professor, também, na Vila Morena, a Grândula alentejana, terra de fama histórica e de uma beleza ímpar.
Casado, pai de três filhos, Silvério Manata foi-se “adaptando à mudança dos tempos” após ter tido o “privilégio de ter partido da Gândara para conhecer um mundo novo, por conta da profissão”, sem, no entanto, nunca deixar de voltar às suas raízes que acabaram por influenciar decisivamente a sua literatura.
Essas mesmas raízes também fizeram dele um confrade daquela que é considerada uma das melhores confrarias do país – a Nabos e Companhia – também ela, nascida na orgulhosa terra dos Carapelhos. Nascida a 1 de Janeiro de 2000, a ideia de uma confraria logo seduziu Silvério Manata, pois ele considera que “comer é um ato de cultura” e que “existem afetos ligados à gastronomia”…
Nos primórdios daquela que seria a sua carreira literária, o autor admite que “ia escrevendo coisinhas” mas, paulatinamente, a sua escrita foi tomando corpo e adquirindo uma “matriz gandaresa” da qual, diz orgulhar-se muito, pois é com ela que passou a promover a rica cultura de uma região conquistada à natureza, pelas mãos calejadas de homens e mulheres que foram moldando-na, sol a sol.
Tendo a absoluta certeza de que os escritores sempre têm algo a dizer, através das suas vivências pessoais, Manata assume ser o seu principal objetivo, “perpetuar a cultura gandaresa, tão árida e pesada como a região”, mesmo que “de forma ficcionada, com uma estrutura romanceada” de maneira tal, que “as gerações vindouras possam conhecer a dura vida passada pelos seus antecessores…”
Assumindo que é “cada vez mais exigente” com a sua escrita, acredita que o “criador não consegue ter o distanciamento necessário da sua criação” e, por isso, tem sempre a “necessidade de olhar com espírito crítico” para aquilo que vai saindo do seu teclado até que, finalmente, sua criatividade chegue às mãos dos leitores, em forma de livro.
Confessando-se “satisfeiro” com os prémios que vai recebendo de quando em quando, Silvério Manata admite olhar, atualmente, para sua obra “com um certo conforto” e assume que o reconhecimento generalizado da crítica e dos seus leitores “fazem bem à auto-estima”, mas é a necessidade premente de mostrar a Gândara através das suas frases, que o move continuamente.
O mesmo homem que lançará “Comboio na Duna” quando menino ou mais jovem, apreciava “livros de cowboys”. Será este, um ponto de ligação à sua escrita? Antes, eram os desbravadores do Oeste americano que, entre bandidos, mocinhos, mocinhas e índios, foram construindo aquela que seria a maior nação do mundo em muitos aspectos. Hoje, são os homens, as mulheres, as crianças, os amores e desamores construídos e destruídos nas bravas terras da Gândara que fazem parte do seu estilo de escritura. Valha-nos, a todos, a felicidade de termos a oportunidade de ler escritos de tão grande relevo, saídos da fértil imaginação e de um completo estudo da cultura regional, deste homem que não para de produzir sucessos literários.
Silvério Manata é daquelas pessoas de palavras e sorrisos fáceis que, no momento da criação, sabe ser apenas o autor de uma obra que está por emergir. Saído da frente do computador, ele volta a ser o que um dos seus filhos denomina, entre risos, “um homem que, se lhe derem oportunidade, nunca mais se cala”… mas, é sempre um prazer ouví-lo a contar histórias entre seus intermináveis sorrisos.
Quem está junto de Silvério Manata está sempre a aprender: quer seja pela palavra falada ou escrita, o autor e o ser humano estão sempre a ensinar que, por mais dura que seja a vida ou a terra a lavrar, há sempre uma esperança e um sonho novo por conquistar! Quiçá, por isso, vai conquistando prémios atrás de prémios, entre os livros que escreve…
Jornal Mira Online